A sensibilidade do olhar do fotógrafo extrapola o nosso universo e traz à tona cenas do cotidiano para as quais, muitas vezes, fechamos os olhos para não ver. São temas recorrentes, com cunho social, mas que teimamos em não enxergá-los. Entretanto, o fotógrafo guarapuavano Valdir Cruz, residente em Nova Iorque, encarou o desafio e em 96 páginas registra imagens e depoimentos de pacientes com câncer, atendidos pelo Hospital de Barretos. São crianças, jovens, idosos que foram fotografados no interior de São Paulo, em Juazeiro (Bahia), em Araporã (Amazônia), em Porto Velho (Roraima).
Traduzidos em um trabalho emocionante, onde o que permeia as páginas são os atos de amor, a ideia do álbum Retratos de Afeto, surgiu de uma ligação de Ana Cristina, uma paciente com câncer. “Ela me ligou e propôs o projeto e seis meses depois que iniciamos o trabalho ela faleceu. Eu continuei com o projeto”.
Para ter um contato com pacientes e familiares, Valdir Cruz morou duas semanas em um dos hospitais, numa abordagem afetiva com os entrevistados. “Foi muito doloroso, com muitos choros, muitos sorrisos, onde nos abraçávamos e onde fiz amigos, muitos dos quais, perdi no meio do caminho”.
Segundo o fotógrafo, foram cinco anos de ponte aérea entre Nova Iorque e o Brasil, acompanhando, inclusive, a construção do primeiro hospital do câncer no interior da Amazônia.
Para concluir o projeto, Valdir Cruz diz que vendeu muitas obras, recebeu doações de amigos e o trabalho acabou virando dois em um. A parte II conta a história do Hospital de Barretos, desde a criação da Fundação Pio XII, e a instigante história – como descreve o autor – sobre a visão de Henrique Prata que, inspirado pelo seu pai, Paulo Parta, fundou o hospital público gratuito para o câncer no Brasil rural.
Pela visão do fotógrafo, as duas obras merecem serem vistas, lidas, devoradas com o coração e com os olhos abertos para um novo ângulo. Ao final, com certeza, quem o lê, nos dois sentidos, sairá uma pessoa melhor.