Nesta segunda (29), o Brasil celebra o Dia Nacional da Visibilidade Trans, uma data que há 21 anos marca a luta por direitos e reconhecimento das pessoas transgênero. A celebração ocorre em meio a um cenário preocupante: o país segue liderando o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans e travestis, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
A falta de dados concretos sobre essa população também é um entrave para a construção de políticas públicas mais eficazes. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não levanta informações sobre identidade de gênero, mas a Antra estima que existam pelo menos 4 milhões de pessoas trans e travestis no Brasil. No Paraná, segundo estimativas da Agência Livre.jor, são 57 mil pessoas trans, sendo aproximadamente 900 em Guarapuava.
Com incentivo, apoio e acesso à informação, pessoas trans se tornam mais visíveis, reafirmam a existência e mostram às outras que não estão sozinhas. É o caso de Giselle Taborda, mulher trans guarapuavana de 19 anos, que compartilhou a própria história com a Rede+.
DESCOBRINDO A PRÓPRIA IDENTIDADE
Desde a infância, Giselle se sentia diferente, mas não sabia o motivo. Gostava de brincadeiras e roupas femininas, mas não tinha referências sobre o que significava ser uma pessoa trans. Aos 17 anos, conheceu uma mulher trans na cidade e, ao ouvir a história, percebeu que se identificava profundamente com aquela vivência.
Passei a conhecer outras pessoas como eu, e isso reforçou ainda mais minha identidade.
No entanto, o caminho para viver a identidade de forma plena foi desafiador. Ao contar para os amigos que era uma mulher trans, em setembro de 2023, sentiu um misto de alívio e medo. Em dezembro, assumiu publicamente a identidade, vestindo-se como se sentia confortável.
Isso não é o que me faz ser feminina, mas as pessoas ao meu redor perceberam que até o meu olhar mudou.
DESAFIO DA ACEITAÇÃO E LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA
Apesar do apoio da mãe, Giselle enfrentou a rejeição do pai, que a expulsou de casa ao vê-la vestida de forma feminina.
Com 18 anos, demitida do emprego, com apenas R$ 800 no bolso, saí de casa só com a roupa do corpo e uma peruca. Mas quanto mais eu ficava longe dos meus pais, mais eu tinha vontade de ser quem eu era.
Recebeu abrigo de um amigo por um mês, depois morou com uma amiga trans por quase um ano. Nesse período, enfrentou dificuldades financeiras e emocionais. A falta de suporte do sistema de saúde em Guarapuava também dificultou a jornada. Sem informações acessíveis sobre o processo de transição, começou a tomar hormônios por conta própria, baseada em relatos de amigas trans de outras cidades. “Minha disforia estava muito forte, e eu não sabia onde buscar apoio.”
Mesmo diante dos desafios, Giselle segue determinada a conquistar os próprios objetivos. O maior sonho dela é a cirurgia de redesignação sexual, mas o alto custo do procedimento ainda é um obstáculo.
Hoje, vejo o quanto minha aparência mudou desde o começo. Me sinto realizada por tudo que enfrentei para chegar até aqui. O ano passado foi difícil, passei por muita coisa, mas consegui dar a volta por cima. Agora, estou me estabilizando aos poucos, e isso me deixa muito feliz. Mas sinto que só serei verdadeiramente feliz quando fizer essa cirurgia. Trabalho todos os dias para conseguir!
EMPATIA
Para Giselle, a representatividade trans não é apenas sobre existir, mas sobre ser respeitada e ter direitos garantidos.
Ser quem eu sou é uma luta diária. Muitas vezes pensei em desistir, mas fui forte porque tenho sonhos e metas. Se ser trans fosse uma escolha, ninguém escolheria passar por tudo isso.
Ela pede mais empatia, não apenas com a população trans, mas com todas as pessoas. “A empatia é o que falta para termos um mundo melhor.”
No Dia Nacional da Visibilidade Trans, histórias como a de Giselle reafirmam a importância da luta por respeito, inclusão e políticas públicas que garantam dignidade às pessoas trans. Hoje, Giselle trabalha como vendedora, tem uma rede de apoio, um lar, e se sente livre para compartilhar a trajetória e inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo.
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