Peterson Alexius Pacheco de 26 anos faz parte dos poucos brasileiros com acesso ao ensino superior. Mas para isso, ele tem que ralar muito. De segunda a sábado o estudante do 10º período de direito trabalha nove horas diárias como gerente do açougue de um mercado em Guarapuava. Com o apoio da família e amigos ele está traçando uma história de superação.
Eu sempre gostei de ajudar as pessoas, por isso me interesei pelo direito.
O Brasil está entre os países com a menor Taxa de Escolarização Bruta na Educação Superior da América Latina da América Latina. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2019, mostram que apenas cerca de 20% da população entre 25 e 34 anos possuem um diploma de nível superior no país.
O levantamento demonstrou que 40% dos ingressantes em universidades, naquele ano, pertenciam aos 20% da população com maior poder econômico. Mas Peterson é um caso que foge do que é apresentado nas estatísticas. Isso porque, como ele define, sempre foi “insistente”. Durante a semana ele acorda por volta das 6h, trabalha durante a manhã e tem uma hora de descanso.
Nesta pausa, o jovem almoça e dá atenção aos pets, uma gata e um cachorro. No início da tarde ele volta ao açougue e finaliza a carga horária do serviço. “Agora no décimo período está mais tranquilo. Eu tenho aula durante um dia da semana mais o estágio na quarta cedo. No restante da semana passo fazendo projeto de extensão. Mas teve períodos que eu trabalhava até as 17h30. Saía, organizava alguma coisa em casa e ia pra faculdade às 7h, e voltava 10h30. Como moro sozinho tinha que fazer janta, dava mais uma estudadinha até de madrugada, dormia e de manhã começava tudo de novo”.
Apesar das dificuldades e da rotina desgastante, Peterson está na fase final do curso e já com a aprovação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Eu sempre fui muito insistente em relação aos meus estudos. Na 1h que eu tinha de almoço, eu aproveitava pra estudar. Durante o serviço, nas horas vagas eu pegava o celular e dava uma lida nos materiais. De noite também eu estudava depois da faculdade. Foi bem agitada, digamos assim, a minha vivência no ensino superior.
Porém, em muitos casos, visto a realidade social e cultural do Brasil, só esforço não basta para conseguir permanecer na faculdade. Isso porque muitas pessoas moram em Regiões de difícil acesso, o que dificulta o transporte até a faculdade. É por esse motivo, também, que muitos abandonam os estudos ainda na escola. Além disso, mesmo com programas de acesso e permanência ao ensino superior, para muitos não é suficiente.
Peterson representa o perfil de uma geração que não teve pais ou grande parte da família com acesso ao ensino superior. Ao estar se formando em uma graduação, o futuro advogado quebra um ciclo, com a oportunidade de escrever uma nova história para as gerações futuras.
Eu diria para quem tem uma realidade semelhante à minha e está iniciando a graduação a persistir e acreditar que tudo vai dar certo. Não desista e corra atrás do que deseja.