Da Redação
Em 1938, depois de uma breve e exitosa temporada em São Paulo, Orlando Silva voltou ao Rio de Janeiro e foi anunciado no auditório da Rádio Nacional: – Aqui está de volta Orlando Silva, o cantor das multidões! A definição que passou a acompanhar o artista por toda a carreira não era exagero. Como os auditórios pelo país não eram mais suficientes para comportar o público do cantor, Orlando passou a se apresentar em praças públicas, interpretando canções que, cem anos após seu nascimento (3 de outubro de 1915), ainda fazem parte do imaginário do povo brasileiro.
"Um cantor que o Brasil ainda acata, acarinha, aplaude, incentiva. Um marido bom, que combina tudo com sua mulher. Um amigo que quando pode atender a solicitude de um outro amigo, ele tá com presteza ali. Um artista que cumpre seu dever, apesar do tempo que tem de carreira e do nome que tem nas costas. Um artista que quando se compromete com compositores, ele grava nem que seja a toque de caixa. Sempre fui assim e acho que vou morrer assim". Foi dessa forma que Orlando Silva se defininiu em um depoimento para a posteridade gravado no Museu da Imagem e do Som (MIS) em 1968. A simplicidade do discurso pode esconder a imensa influência que Orlando exerceu sobre uma grande quantidade de cantores contemporâneos e das gerações seguintes. É o que diz Jonas Vieira, biógrafo do artista: “foi ele quem plantou uma nova maneira de cantar, muito simples e com um fraseado novo, extraordinário. Essa é a razão pela qual eu o considero um cantor único no mundo”, defende. Lúcio Alves, Ciro Monteiro, João Gilberto e Caetano Veloso são alguns dos cantores “filiados” à escola de canto de Orlando Silva.
Ao olhar para a música mundial naquele período, Jonas Vieira compara Orlando Silva a Frank Sinatra. Para ele, a principal diferença entre os dois em termos de influência era a máquina publicitária que girava em torno do cantor norte-americano. “Os empresários dele contratavam mocinhas para seus shows, não apenas para aplaudí-lo, mas para rasgar suas roupas e transformar aquilo em um acontecimento coberto pela mídia”, revela o autor de Orlando Silva – o cantor das multidões, livro que ganhou reedição em 2015, com capítulo dedicado ao centenário do biografado.