22/08/2023
Cotidiano

Mulheres resgatam tradição e tingem cenário com tinta extraída de plantas

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A falta de recursos para ampliar o cenário já existente para o show no teatro Guaíra (21 de novembro) despertou a criatividade de mulheres da comunidade quilombola Paiol de Telha e acabou resgatando conhecimento popular deixado por seus antepassados.

Era preciso mais tecido e muita tinta. Sem qualquer apoio oficial para uma iniciativa popular que já é referência para o País em cultura negra e resgate cultural em comunidade quilombola, com o auxílio do artista plástico Alex Khua (Grupo Mandorová) as mães do Kundun Balê mostraram que criatividade e talento é o que não falta no quilombo.

“O Khua teve a ideia de reciclar o cenário antigo e pediu tintas coloridas. A gente não tinha mais nada e nem recurso para comprar”, disse Rosa Diaia Soares da Cruz.
A sugestão dada pelo artista para que argila fosse utilizada como tinta despertou a criatividades das mulheres.

Beterraba, pétalas de flores do campo, hortelã e outras plantas medicinais e até mesmo temperos como colorau, açafrão se transformaram em pigmentos que deram origem a cores diversas com tons variados.

“Eu lembrei que casca de pinheiro colocado no álcool é um remédio antigo que meu avô fazia e que dá um líquido roxo”, diz Ana Kinileh Alves Oliveira. “Eu também lembrei que minha avó que era benzedeira fazia um remédio com nó-de-pinho e álcool e ficava uma cor alaranjada”, interfere Jaíra Aluany Marques.

Bastaram essas lembranças para que tudo o que fosse encontrado à volta virasse tinta. “A gente foi pegando plantas e macerando par obter a cor verde; pegamos frutinhas vermelhas para ter essa cor e também fomos misturando cores e tudo foi ficndo muito bonito”, diz Rosa Diaia Soares da Cruz.

Os desenhos em parte do cenário foram traçados por Alex Khua, preenchidos pelas mulheres e vão compor com outros adereços artesanais também já confeccionados por elas, sob a orientação do artista. “A gente vai misturando tudo. Corda, cipó, barba-de-bode, galhos. Quem nos fornecesse tudo isso é a natureza”, comenta Ana Kinileh.
“Nós não tínhamos agulha para costurar tecido grosso e improvisamos com arame e deu certo”, comemora Jaíra Aluany.

Mas além da criatividade, as mulheres colocam toda a energia em tudo o que é feito. “Além da energia curativa das plantas medicinais e de tudo o que é bonito que a natureza nos dá e que pegamos em agredi-la, essa concentração estará presente no cenário e vai repassar essa energia ao palco onde vamos dançar junto com os nossos filhos e para o público que vai nos assistir. O Kundun Balê é isso”, diz Rosa Diaia.

Cristina Esteche

Jornalista

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