22/08/2023
Guarapuava Segurança

Mãe denuncia abuso de autoridade policial

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Da Redação

Guarapuava – Um caso de abuso de autoridade pode ter envolvido policiais militares e uma família na Vila Concórdia, em Guarapuava. O saldo foi o seguinte: dois homens feridos e presos, um adolescente ferido e apreendido e um policial com a mão ou um dos braços quebrado (informação ainda não confirmada).

A situação começou na noite de sábado (16) por volta das 22h30, na rua Bagé, na Vila Concórdia. De acordo com Amélia Terezinha Ferreira Eurich, 43 anos, seus filhos Everson (21) e D. E. (17) estavam com dois amigos fazendo churrasco e ouvindo música gravadas num aparelho celular, plugado em uma caixinha de som. A rua é conhecida pelo tráfico de drogas constante, mas segundo ela, não envolve ninguém da sua família. 

De acordo com d. Amélia, uma viatura policial passou pela rua, deu marcha a ré e parou em frente à residência. “Os policiais desceram gritando e exigindo que o aparelho de som fosse entregue. Meus filhos mostraram o celular e a caixinha de som, mas eles [policiais] insistiam que o aparelho fosse entregue. Mas não havia outro som a não ser o do celular”. Ainda segundo dona Amélia, outra viatura parou com mais policiais que também chegaram “com brutalidade, batendo, ameaçando e dizendo que os meninos estavam incomodando os vizinhos e fazendo arruaça”.

O esposo de dona Amélia, Enori, tinha trabalhado o dia todo e estava deitado. “Ele escutou a discussão e foi ver o que estava acontecendo quando ouviu os policiais dizerem que iam entrar na casa porque ali só havia vagabundo e f.d.p”. Segundo a mulher, Enori revidou dizendo que na sua casa ninguém entraria, a não ser que tivessem com mandado de busca e apreensão. “Um dos policiais pegou o cassetete e bateu na cabeça do meu marido que levou sete pontos”. De acordo com Amélia as agressões continuaram  com os filhos do casal, acordando os vizinhos. “Eles [policiais]  diziam pra ninguém chegar perto, apontavam as armas e ameaçaram os vizinhos dizendo que voltariam para terminar a história. Eles [os vizinhos] estão dispostos a testemunhar isso, pois moramos nesse lugar há mais de 20 anos e nunca tivemos problemas”. Em seu relato à RedeSul de Notícias, na tarde desta terça feira (19), dona Amélia contou que no momento em que um dos policiais disse que bateria no seu filho de nove anos, Enori pegou uma pá e atacou os policiais em “defesa dos filhos”.

Mais viaturas e mais policiais chegaram. Depois de certo tempo, todos foram levados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

D. Amélia disse o filho de 17 saiu da casa sem nenhum hematoma, mas que ficou apanhando dos policiais dentro da viatura e saiu com o "rosto machucado", enquanto o pai Enori e o irmão Everson eram atendidos na UPA. “Meu marido levou sete pontos na cabeça e pode estar com o braço quebrado, mas não foi medicado sequer com um paracetamol, embora estivesse sentindo muita dor”.

Após o atendimento médico, todos foram para a Delegacia de Polícia, mas dona Amélia foi impedida de entrar. “Liguei para o Conselho Tutelar que foi até lá para liberar o meu filho de menor que saiu da delegacia na manhã de domingo”. O filho mais velho foi liberado depois de pagar  R$ 1.000 de fiança, pago por uma ex-chefe do seu Enori, que depois de receber uma ligação se prontificou a ajudar. Seu Enori ficou preso.

Houve uma audiência no Forum ontem, segunda (18) e pode ser que Enori saia da prisão nesta terça (19), com tornozeleira eletrônica. “Meu marido é pobre e negro. Trabalha como mensageiro na Apae e aos finais de semana trabalha como pedreiro e está correndo o risco de perder o emprego por causa da tornozeleira”. Dona Amélia, emocionada, disse que levou os filhos para fazer exame de corpo delito no Instituto Médico Legal (IML) e que possui vídeos do sangue derramado no pátio da casa.

Ela reclama também que durante a audiência, os policiais omitiram a verdade. “Disseram que jogamos tijolos contra eles, e que soltamos o cachorro em cima deles. Isso é mentira. Não temos tijolos no pátio da casa e o cachorro sempre está solto. Além disso meu marido corre o risco de pegar quatro anos de prisão”.

"SEGURANÇA DA POPULAÇÃO"

De acordo com o tenente Walla Adairalba, comandante do Pelotão de Choque da PM, perturbação do sossego é um crime previsto no Código Penal Brasileiro. “Houve uma denúncia e a Polícia Militar tem o dever de zelar pela segurança da população. Não sei se houve abuso de autoridade, mas um dos policiais teve o braço ou uma das mãos quebrada. Então também houve o crime de lesão corporal grave”.

Segundo o tenente, dona Amélia deve dirigir-se até o quartel da Polícia Militar, relatar o que aconteceu para que o comando possa instaurar um procedimento administrativo para apurar os fatos. “É da nossa conduta apurar todos os fatos, inclusive aqueles que envolvem a Polícia Militar. Qualquer cidadão tem esse direito”.

Cristina Esteche

Jornalista

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