Da Redação, com Assessoria
O Corpo de Operações de Busca e Repressão Anfíbio (Cobra), do Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron), grupo especializado na atuação em ambiente hídrico na área de fronteira, tem três anos de criação e já apreendeu 49 embarcações e 84 veículos (usados para o contrabando), além de retirar de circulação mais de 6 mil caixas de cigarros, que valem aproximadamente R$ 13 milhões.
Os resultados destacam o Pelotão Cobra no cenário nacional como um grupo capacitado para atuar em terra, água e até em operações aéreas (com apoio de aeronaves do Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas), a fim de prevenir a ação de contrabandistas e garantir a segurança da fronteira, principalmente entre o Paraná e o Paraguai, além das divisas do Estado com Argentina e Mato Grosso do Sul.
O trabalho do Pelotão Cobra concentra-se na região do Lago Itaipu e seus afluentes, no Oeste paranaense. O grupo atua preventivamente na repressão dos crimes transfronteiriços como tráfico de armas, drogas, contrabando de pneus, cigarros, anabolizantes, medicamentos, agrotóxicos, tráfico de pessoas, evasão de criminosos e transporte de bens furtados pela fronteira. A ação ostensiva se faz presente em toda a região com o policiamento aquático e de barranca do lago.
“O pelotão Cobra é essencial no policiamento do Lago Itaipu. A PM do Paraná é pioneira no Brasil em criar um grupo especializado em ambientes hídricos no Oeste paranaense e a aplicação desses militares estaduais tem resultado em mais segurança na área de fronteira e inibido a ação de contrabandistas”, disse o comandante do BPFron, Cezar Leroy Cooper. “Temos feito um trabalho de inteligência simultâneo ao patrulhamento ostensivo em toda a faixa fronteiriça para inibir as atividades criminosas, principalmente de contrabando”.
O Paraná é um dos estados brasileiros com o maior tráfego de pessoas e veículos na fronteira com o Paraguai e a movimentação intensa exige um reforço de segurança pública, com equipes policiais preparadas para atuarem especificamente na faixa fronteiriça. São mais de 1.350 km de margem do Lago Itaipu, entre Foz do Iguaçu e Guaíra, e 170 km de extensão (se considerado em linha reta) numa área em que estão situados 11 municípios.
A distância mais curta entre as margens brasileira e paraguaia fica no distrito de Oliveira Castro, no Porto de Tigre, que mede em torno de 500 metros. Já em outros locais, como em Itaipulândia, a largura entre as margens é de aproximadamente 5 km.
A geografia da região, por ser essencialmente hídrica, propicia o tráfego de embarcações e, consequentemente, uma rota para o narcotráfico. Muitos contrabandistas, para comercializar produtos no lado brasileiro e ter alta lucratividade, utilizam a vastidão do Rio Paraná e do Lago Itaipu para transportar suas mercadorias, drogas, armas e até pessoas em embarcações do Paraguai para o lado brasileiro, onde deixam o material na mata ciliar para que pessoas do mesmo grupo criminoso façam o transbordo em veículos e caminhões. Um dos produtos com maior registro de contrabando é o cigarro.
“Isso ocorre porque os indivíduos flagrados com essa mercadoria recebem uma pena mais leve em comparação a outros delitos, como o tráfico de drogas”, explica o comandante do grupo Cobra, aspirante André Luiz Jaworski Fantin. Segundo ele, por meio do contrabando, os criminosos conseguem um custo mais baixo para adquirir o produto e, ao comercializá-lo, tem maior lucro. A logística de informação dos grupos envolvidos com essa atividade se ramifica na fronteira e agrega muitos olheiros para monitorarem as viaturas das forças de segurança para evitar que as cargas sejam descobertas e apreendidas pela polícia.
Nesse cenário, a Polícia Militar do Paraná possui, há quatro anos, um Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron), que atende toda a região (terra e rios), que agrega o Pelotão Cobra, criado em setembro de 2013, para operar em rios, lagos, afluentes, ilhas, matas ciliares e áreas rurais da fronteira, além de participar de operações pontuais em conjunto com o Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas (BPMOA).
A especialidade deste grupo é atuar em ambiente anfíbio, ou seja, policiamento no Lago Itaipu e seus afluentes, abordagens e fiscalizações, patrulhamento nas áreas rurais e de barranca, além dos locais ribeirinhos nos rios Paraná, Iguaçu, Xambrê, entre outras da região. As ações abrangem ainda a localização de portos clandestinos. “Trabalhamos mais o fator surpresa, ou seja, os contrabandistas nunca sabem quando estamos por perto, temos técnicas para surpreendê-los”, disse o aspirante Jaworski.
O primeiro comandante do BPFron, tenente-coronel Erich Wagner Osternack, e que agora comanda o 16º Batalhão (Guarapuava), explicou que a criação do Pelotão Cobra foi diante da necessidade de coibir a entrada de produtos ilícitos por meio do Lago Itaipu. “Tínhamos casos de pessoas que saiam do Paraguai com contrabando e, ao acessarem áreas rurais, roubavam propriedades e retornavam a seu país. Isso foi reprimido graças à atuação do Pelotão Cobra”, disse.
Todas as operações do grupo são cuidadosamente planejadas a fim de garantir o maior rendimento possível. Com apoio do Serviço Reservado do BPFron, o grupo identifica os pontos onde há atividade de contrabando e prepara uma ação para flagrar o ato ilícito. “O terreno passa por um reconhecimento prévio para que os policiais militares saibam de que maneira devem agir e quais as táticas podem ser empregadas sem que sejam notados pelos suspeitos”, acrescentou o tenente Jaworski.
DADOS
Desde 2013 até agora, os policiais militares do Pelotão Cobra apreenderam 84 veículos e 49 barcos, além de 335.400 pacotes de cigarros (6.708 caixas, cada uma com 50 pacotes do produto, totalizando cerca de R$ 13 milhões). As operações policiais resultaram ainda em 21 quilos de crack apreendidos e 17 pessoas presas.
Somente neste ano, de janeiro a 20 de agosto, apreenderam 28 veículos, além de 19 embarcações. Foram retirados de circulação 4 quilos de crack e 2 quilos de cocaína e presas 17 pessoas durante as ações do Pelotão Cobra. Nesses primeiros oito meses, 112.250 pacotes de cigarros foram apreendidos (a quantidade vale, aproximadamente, R$ 5 milhões).
Segundo o chefe de Planejamento do BPFron, capitão Nilson Rodrigues, muitos contrabandistas constroem artesanalmente embarcações adaptadas para o transporte de mercadoria clandestina. “São barcos que não possuem registro junto à Marinha nem a numeração de identificação. Também não possuem os critérios mínimos de segurança para as pessoas que o utilizam, possibilitando até mesmo acidentes”, explicou.
A apreensão de barcos também retarda a ação dos criminosos e reflete na lucratividade. Um barco de 12 metros, quando retirado das mãos dos suspeitos, por exemplo, pode retardar a atividade em até uma semana, até que o contrabandista adquira outra embarcação. “Com a escassez do produto estrangeiro no mercado, as pessoas passam a adquirir produtos nacionais, gerando contribuição ao Estado”, afirmou o capitão Nilson.
PORTOS CLANDESTINOS
Segundo as informações repassadas pelo Pelotão Cobra, existem mais de 3 mil portos clandestinos em todo o Lago Itaipu e seus afluentes. Para encontrar esses locais e identificar os responsáveis, as equipes policiais passam dias na mata colhendo informações e mapeando os pontos usados pelo contrabando. O setor de inteligência recebe os dados e estabelece as estratégias para o desmantelamento do local.
O aspirante Jaworski explicou que os portos são locais de clareira na mata que possuem condições naturais para receber embarcações e permitem a aproximação de veículos para o transbordo das mercadorias. “Em alguns pontos os envolvidos chegam a colocar saibro nas estradas de chão que ligam o porto à área rural para que veículos como caminhões possam chegar até a margem e não atolem”, disse.
DOUTRINA E TREINAMENTOS ESPECIAIS
A unidade é altamente treinada e seus integrantes já participaram de capacitações como o Curso de Unidades Especializadas de Fronteira, Curso Especial para tripulação e pilotagem de embarcações do Estado no Serviço Público, ministrado pela Marinha do Brasil, Curso de Tiro pelo Exército Brasileiro, entre outros que gabaritam os profissionais na área específica.
O pelotão possui uma doutrina própria baseada nos treinamentos e conhecimentos adquiridos junto a outros grupos de segurança pública de fronteira, como o Núcleo Especial de Polícia Marítima (Nepon) da Polícia Federal, o Grupo de Repressão ao Contrabando (Precon) da Receita Federal, a Marinha do Brasil e o Exército Brasileiro.
Munidos com modernos equipamentos, incluindo velozes embarcações e uma farda capaz de suportar a carga de trabalho, os militares estaduais são aperfeiçoados com treinamentos constantes. “O grupo possui embarcações potentes e com grande autonomia de navegação, capazes de interceptar qualquer tipo de embarcação clandestina que navegue na área”, disse o chefe de Planejamento do BPFron, capitão Nilson Rodrigues. Segundo ele, os policiais do Cobra atuam com equipamentos diferenciados e passam por constante treinamento, aptos a executar diversas operações em ambiente aquático e terrestre.
No caso do soldado Gleberson Graff, que está no Cobra desde sua criação, o que mais o instigou a fazer parte desse grupo foi trabalhar com embarcações. “Eu já atuava no BPFron e quando pediram voluntários para o Pelotão Cobra me interessei em saber como seria fazer policiamento aquático. Certo tempo depois, após vencer o processo seletivo e frequentar cursos específicos, fui escolhido para iniciar o treinamento de novos integrantes nos barcos da unidade e hoje sou também instrutor deste tipo de policiamento”, disse.