Da Redação, com assessoria
Curitiba – Os agentes penitenciários do Paraná estão doentes e levando para o ambiente familiar e social, parte do sofrimento psíquico vivido nas cadeias. Essa é a constatação de um estudo inédito que resultou na publicação “Operários do cárcere: diagnóstico sobre a saúde e as condições de trabalho dos agentes penitenciários no Paraná”, que será lançada nesta quinta (10), em Curitiba, pelo Sindicato dos Agentes Penitenciários (SINDARSPEN).
Durante três meses, foram entrevistados mais de 900 agentes penitenciários em todas as cidades onde existem unidades penitenciárias no estado, que responderam sobre condições de trabalho, ambiente de trabalho, imagem, capacitação e oportunidades, influência do trabalho na vida pessoal, consequências do trabalho sobre a saúde, clima e funcionamento organizacional, e infraestrutura e rotina do sistema penitenciário.
Entre os dados apresentados pela pesquisa, a saúde é um dos aspectos que mais chama atenção. 46% dos agentes possuem alguma doença diagnosticada. Os problemas mais frequentes são pressão alta, depressão, ansiedade, estresse e insônia, quase sempre em decorrência da rotina de trabalho. 48% dos agentes admitem tomar medicamentos com regularidade, dos quais 82% fazem uso de remédio para transtornos de origem psicossocial.
Sobre condições de trabalho, 83% dos agentes consideram insatisfatória a tecnologia disponível nas unidades e 96% têm a mesma avaliação quanto aos equipamentos de segurança. Quando questionados sobre a capacitação, apenas 1,5% dos agentes se disseram satisfeitos com as oportunidades oferecidas pelo Estado.
DEBATE
O lançamento da publicação vai acontecer num debate entre os vários agentes públicos envolvidos na questão. Participarão da mesa de lançamento, o presidente do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do TJPR, desembargador Ruy Muggiati; o promotor do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção aos Direitos Humanos do MP-PR, Régis Sartori, que realizou inspeções nas unidades do Paraná neste ano; o procurador do Ministério Público do Trabalho, Rosivaldo da Cunha, que instaurou inquérito civil para apurar as condições de trabalho dos agentes; o diretor do Centro Estadual de Saúde do Trabalhador, José Lúcio Santos; o assessor técnico de planejamento do Departamento Penitenciário do Paraná, Luís Müller; a pesquisadora do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR, Samara Feitosa, especialista em sistema penitenciário e a presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Petruska Sviercoski.
A expectativa do SINDARSPEN com a realização desse estudo é oferecer ao Estado, um panorama da situação vivida pelos profissionais do sistema para que sejam realizadas ações de atenção à saúde ocupacional desses profissionais.
A PESQUISA
Foram preenchidos 960 questionários, dos quais foram considerados válidos 831 para efeito de estatística. A pesquisa foi realizada com agentes de Cascavel, Cruzeiro do Oeste, Francisco Beltrão, Foz do Iguaçu, Guarapuava, Londrina, Maringá e Ponta Grossa e Região Metropolitana de Curitiba, abrangendo 35 unidades paranaenses, divididas em penitenciárias, casas de custódia e de regime semiaberto. O trabalho foi realizado pelo psicólogo Rubem Mariano.
PERFIL
- 90,6% são homens
- 70,7% possuem curso superior, sendo 16,3% com pós-graduação, mestrado ou doutorado;
- 44% têm entre 31 e 40 anos e 32%, entre 41 e 50 anos;
- 60% têm entre 4 e 10 de profissão e 18%, entre 11 e 22 anos.
O Paraná possui 3.413 agente penitenciários, segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias do Ministério da Justiça (INFOPEN-2015).