Da Redação
Francisco Beltrão – A frase atribuída ao poeta Mário Quintana – “Livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas” – faz ainda mais sentido quando se pensa em alguém que cometeu um crime e, ao mesmo tempo em que deve pagar por isso, precisa iniciar um árduo caminho para se reintegrar à sociedade. É o caso das detentas da Cadeia Pública de Francisco Beltrão, na região Sudoeste do Paraná. Tanto para aquelas que aguardam a sentença quanto para as presas já condenadas, que esperam transferência para uma penitenciária, a leitura tem sido uma companheira fiel.
Isso só foi possível graças ao trabalho da equipe multidisciplinar da Defensoria Pública do Paraná em Francisco Beltrão, que desenvolveu um projeto-piloto para levar a leitura às detentas. Com autorização da coordenação da carceragem, a cada duas semanas os profissionais da Defensoria vão à Cadeia para levar livros e promover o diálogo com as presas. “O objetivo é proporcionar a continuidade do desenvolvimento dessa população, apesar da reclusão, e possibilitar ainda a escuta e o manejo de questões urgentes nesse ambiente, tais como: família, filhos, saúde, futuro e muitas outras questões que surgem durante o projeto”, explica a psicóloga Delair Spezia Pandolfo, responsável pela iniciativa juntamente com o psicólogo João Paulo Howeler. Como efeito imediato, o projeto tem ajudado a diminuir a tensão dentro da Cadeia.
ARRECADAÇÃO
Os livros emprestados às presas são provenientes de doações de entidades religiosas, centros universitários, editoras, empresas e pessoas físicas. Desde novembro do ano passado, a equipe da Defensoria vem trabalhando na ideia. Primeiramente, ouviu-se as detentas para saber que tipos de livros elas gostariam de ter acesso. Depois, iniciou-se um processo de sensibilização das instituições para a doação do material. Os temas variam: tem livro com temática religiosa, material didático, revista, romance, best-seller e até de conteúdo profissionalizante. Funciona como uma biblioteca, na qual a pessoa empresta um título, lê e devolve.
“Além do compartilhamento dos livros, vamos à Cadeia a cada 15 ou 20 dias, nos reunimos com as mulheres e fazemos a troca dos livros. Uma vez que elas escolhem o que pretendem ler, nesse período fazem a leitura e no próximo encontro temos a oportunidade de ouvi-las quanto às suas experiências de leitura. Nesses encontros, ainda, abre-se espaço para que elas tragam temáticas do seu interesse, para que sejam desenvolvidas na conversa. No último encontro, por exemplo, elas abordaram suas dificuldades com as relações interpessoais. Na próxima reunião, então, vamos conversar com sobre isso”, explica Delair.
O número de detentas na Cadeia é variável, mas normalmente gira em torno de uma dúzia. Em março, será discutida com a direção da unidade carcerária uma ampliação do projeto, com o objetivo de levar a iniciativa também para a ala masculina, que é bem maior e está superlotada.