Por Marcella Fernandes para o The Huffington Post Brasil
Curitiba – Prestes a se mudar para a nova casa, o casal João Pedro Schonarth, jornalista, de 29 anos, e Bruno Banzato, servidor público de 31 anos, foi surpreendido com panfletos homofóbicos na rua do novo endereço.
"Em breve, sua rua será mais 'alegre'!!! Todos os dias nos passeios matinais ou dos finais de tardes terá a visão para inspirar e influenciar toda a vizinhança: você, seus filhos, seus netos e amigos", diz o folheto com fotos de casais homossexuais diversos.
No final, o texto dá o endereço do casal, descrito como "endereço da baixaria".
"Na hora que vi, não senti minhas pernas. Tive que sentar no chão e chorar. Senti uma dor imensa dentro de mim. Ver a pessoa que você ama sofrer e não poder fazer nada. Resolvemos falar sobre o assunto porque a nossa dor não pode ser invisível", afirmou Bruno ao HuffPost Brasil.
O casal está junto há sete anos e há dois anos aguarda na lista de adoção. A expectativa é que a família aumente no fim do ano. Ele resolveram se mudar para que o filho tenha mais espaço. Compraram a casa na planta em setembro e acompanham a obra desde então.
Além do panfleto, João conta que foram alvo de uma sabotagem na construção. Colocaram uma mangueira na tubulação do ar condicionado e jogaram água, o que danificou o piso. O contratempo fez com que eles adiassem a mudança, prevista para o último fim de semana.
"A gente se sente exposto, ameaçado. É uma dor que mancha o nosso peito porque mexe com a nossa dignidade. É como se a gente não pudesse existir", desabafa João Pedro.
O casal não desistiu de se mudar e registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Vulneráveis, na última quinta (13). A delegacia especializada em crimes de discriminação informou que a delegada responsável iria chamá-los nesta segunda (17) para coletar informações e iniciar a investigação.
"A gente vai ficar e resolveu lutar. Vamos ser pais de um filho com dois pais homossexuais. Eu não quero que ele passe por isso. Preciso mostrar que ser diferente não é problema. E no fundo, a gente é mais igual do que diferente. Assim como uma família tradicional, queremos ter nossa casa, formar nossa família e ter qualidade de vida. Temos tanto direito de viver na sociedade quanto as outras pessoas", completa João.
João se surpeendeu com a repercussão do caso. Após relator o episódio no Facebook, recebeu diversas mensagens de apoio. Um ato em solidariedade ao casal aconteceu nesse domingo (16). O post viralizou e o bairro, com amigos, conhecidos e familiares do casal, decidiu promover um protesto contra a homofobia. Apesar do feriado de Páscoa, mais de 300 pessoas participaram do ato pacífico, que contou com cartazes pedindo o fim da homofobia, balões e bandeiras LGBTs.