22/08/2023


Guarapuava

A tristeza do jeca | Dartagnan da Silva Zanela

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(i) SEMPRE DESCONFIEI, E IREI CONTINUAR até o fim dos meus dias desconfiando, de todo aquele que se vangloria, publicamente, da caridade que fez aqui e acolá, principalmente se essa foi realizada com o chapéu do contribuinte.

Ora, o velho conselho é claríssimo: não deixa que tua mão esquerda saiba o que fez a tua direita (Matheus VI; 3). O dito é antigo e repetido a exaustão em todos os pampas, porém, o conselho bíblico é ignorado olimpicamente por todas as vivas almas que se fazem de generosas, movidas, sempre, pelos mais variados e indignos interesses de ocasião.

E o pior é que tem muito tongo de carteirinha que acha esses showzinhos patéticos a coisa mais linda do mundo. E como tem meu caro Watson! Como tem.

Bem, de minha parte, fico cá com o conselho de Coelho Neto que nos lembra, através de seus rabiscos esquecidos, que a caridade deve sempre ser tal qual a luz do sol, que generosamente tudo ilumina sem mostrar-se; e similar ao aroma das flores, que perfuma o ar sem que seja preciso tocá-las. E isso é algo bem diferente do espirito caritativo que reina por essas brasílicas plagas. Bem diferete mesmo.

(ii) DA MESMA FORMA QUE ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO dos filhos reconhecemos as virtudes, ou os vícios, dos pais, na civilidade dum povo reconhecemos a grandeza, ou a pequenez, dos governantes.

(iii) SÓ OS MEDÍOCRES TEMEM a solidão. Somente uma alma muitíssimo tosca apega-se a companhias fúteis e entrega-se a conversas vazias e bocós por medo da solitude.

É. A solidão, com sua aspereza pode fortalecer nosso espírito; já a frequência regular em colóquios fúteis irá, com o tempo, nos corromper até o tutano da alma.

(iv) LEMBRE-SE, HOJE E SEMPRE: este mundo, onde nos encontramos exilados, não é um mar de rosas; é um vale de lágrimas. Meditemos sobre isso e compreenderemos a real natureza da felicidade.

(v) A CADA SEMANA QUE PASSA, Brasília amplia mais e mais o seu picadeiro espetaculoso, daquele vil cirquinho sem a menor graça; e faz isso enquanto o Brasil afunda-se, cada vez mais, em sua desgovernada tragédia que, a muito, deixou para traz o cadinho de comicidade que havia em sua histórica desventura. Enfim, o bicho está tão feio que nem dá vontade de fazer piada.

(vi) LIBERDADE É APENAS UMA PALAVRA que pode, mui facilmente, ganhar um significado com um conteúdo contrário ao seu sentido original. Aliás, essa é uma imagem bem corriqueira e que ilustra perfeitamente os dias atuais. Qualquer lugar onde vemos multidões em cena, vemo-las clamando pela liberação de todos os limites morais para a libertação de todos os nossos instintos, principalmente dos mais baixos, como se tal clamor fosse a quintessência da liberdade, da realização da plenitude humana. Porém, o que tais multidões não se flagram é que, com tais clamores e bandeiras, a única coisa que estão galgando para si, e para todos, são os pesados grilhões da mais vil e ignóbil escravidão totalitária.

(vii) QUANDO TUDO PASSA A SER balizado pelo relativismo moral, é apenas uma questão de tempo para que a insanidade, travestida de sofisticação, passe a ser o novo critério de razoabilidade e decência.

(viii) NÃO HÁ, NO HORIZONTE DE CURTO e médio prazo, a menor possibilidade de encontrarmos uma solução política para os problemas que estão a assombrar o nosso triste país. Essa é a mais macambúzia verdade. Ponto. E se não somos capazes de reconhecer, mesmo com pesar, essa infame obviedade é porque, definitivamente, não há, em curto ou longo prazo, remédio para a nossa indigência intelectual e moral.

(ix) CRISTO NÃO É, COMO NOS LEMBRA Joseph Ratzinger, o Messias esperado. Ele é, por definição, o Messias inesperado. Porém, ainda hoje, muitíssimo mais que em outras épocas, cada um de nós, cada qual ao seu modo, continua acalentando essa ou aquela expectativa em relação a Ele na vã intensão de moldá-Lo de acordo com nossa soberba vontade.

Aliás, quem nunca ouviu uma pergunta similar a essa: se Cristo estivesse vivo, hoje, o que Ele diria a respeito da vida que Fulano e Sicrano levam? Pois é. Pergunta tão tola quanto maliciosa. Isso mesmo! Bem maliciosa. E o é por duas razões: primeiramente, Ele está vivo. Em segundo lugar, ao invés de perguntar-se o que Nosso Senhor diria a respeito da forma como os outros vivem as suas vidinhas, pergunte-se o que Ele falaria a respeito de nossa pessoinha.

Tornou-se mais do que banal na modernidade a ideia de que Cristo aprovaria esse ou aquele comportamento pelas razões mais disparatadas possíveis. Ora, carambolas! Quem de nós não seria reprovado por Ele? Quem? Pois é, a vaidade, como sempre, aí está a nos cegar para as mais patentes obviedades e a abrir um largo caminho para a nossa perdição.

Cristina Esteche

Jornalista

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