22/08/2023
Guarapuava

Equipe do IML de Guarapuava libera 12 corpos em 17 horas

Sete funcionários são responsáveis por atender Guarapuava e mais de 20 municípios

iml-guarapuava

A equipe do Instituto Médico Legal (IML) de Guarapuava está trabalhando “no limite” com uma equipe de apenas sete profissionais para atenderem 22 municípios. A abrangência, muitas vezes, acarreta em sobrecarga de trabalho, como aconteceu no último final de semana. Em 17 horas, a equipe de Guarapuava precisou liberar 12 corpos. Nove corpos eram de vítimas do acidente ocorrido na BR-373, em Candói. As outras três eram de Pinhão e Pitanga, vítimas, também, de mortes trágicas.

“A equipe nossa equipe trabalhou 17 horas sem parar, desde às 3h da madrugada até às 19h de domingo, mas todos os corpos foram liberados”, disse o diretor do IML, Obadias de Souza.

Atualmente, o IML de Guarapuava conta com três médicos legistas, três motoristas e uma auxiliar de serviços gerais. A equipe conta com o suporte do Instituto de Criminalística de Guarapuava e Ponta Grossa, que cederam cinco papiloscopistas ao IML.

No final de semana passado, por exemplo, a maior parte da equipe estava de folga nesse dia. Dos três médicos legistas, apenas um estava no plantão. Entretanto, o empenho e o dever de servir à comunidade e amenizar o sofrimento de famílias num momento de dor, falaram mais alto. A equipe precisou montar uma verdadeira “força tarefa”.

“Quando um de nós estava muito cansado, dormia um pouco no próprio alojamento do IML e íamos nos revezando”.

A liberação de corpo pelo IML obedece à regra criteriosa. “É muito trâmite, muito papel e o nosso espaço físico não comporta uma demanda como essa de domingo. Precisávamos revezar”, disse o diretor Obadias de Souza.

 

SACERDÓCIO

Segundo ele, a parte mais difícil no atendimento a vítimas de tragédia, é lidar com um corpo muito danificado. “A primeira ação, em qualquer caso, é a do médico legisla para atestar a causa da morte e assinar o atestado de óbito. Aí entra a parte da identificação da vítima quando o corpo é fotografado, é recolhido material para exame de DNA ou alguém da família faz o reconhecimento visual. Depende de cada caso. Então é lavrado o laudo necropapiscológico, identificada a vítima no sistema e o corpo é entregue à família”. Esse trâmite leva em média duas horas e meia.

“No domingo foi mais rápido porque havia mais pessoas envolvidas na equipe, mas mesmo assim precisamos ter muita cautela porque no nosso trabalho ‘matamos’ juridicamente uma pessoa”.

Além de lidar na prática com os corpos, a equipe do IML precisa, ainda, atender os familiares. “É preciso muita paciência, muita compreensão, pois estamos lidando com um momento trágico. Você tem que ser resiliente porque a família não entende o nosso trabalho. Eles exigem a liberação imediata”.

Apesar de todo esse estresse e do trabalho que só é desenvolvido por quem tem o dom do sacerdócio, como a equipe se autodefine, esses profissionais não tem acompanhamento psicológico, trabalham em locais precários e são mal remunerados.

“A nossa tristeza maior é no dia do pagamento”, reclama Obadias. “O salário inicial é de R$ 2.690  e chegamos ao final de carreira com R$ 6.880,00. Já estou com 15 anos de serviço e recebo R$ 3.240,00. Temos que ter mesmo um dom divino para fazer o que fazemos”.

Já tendo trabalhado em quase todas as unidades de IMLs no Paraná, Obadias analisa a estrutura local como sendo uma das melhores do Estado. Apesar de ser um prédio antigo – foi a primeira delegacia de Guarapuava – o local, segundo Obadias é limpo; possui câmaras frias novas, com capacidade para seis cadáveres, uma viatura 0 Km, além de outras duas que são alugadas e estão em bom estado.

“Não podemos reclamar da quantidade de materiais”. São seringas, fios para suturas, luvas, roupa especial para utilização no necrotério, entre outros produtos.

Porém, quando o assunto é o quadro de funcionários, a defasagem ganha espaço.

“Temos três auxiliares de necropsia quando deveríamos ter cinco; três motoristas quando cinco também seria o número ideal; três médicos quando necessitamos de oito”.

Cristina Esteche

Jornalista

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