O Calçadão da rua XV de Novembro em Guarapuava é um espaço democrático, por onde as pessoas circulam, param pra conversar e, principalmente, compram. São lojas, lanchonetes, sorveterias, restaurantes, que se misturam, uma ao lado da outra. Mas em meio a tudo o comércio alternativo também encontra espaço e não deixa nada a desejar para os hippies que param na cidade. O depoimento do jovem Arthur Maggi, 22 anos, confirma isso.
“Já estou em Guarapuava pela segunda vez, porque é a cidade que no Paraná mais valoriza a arte de rua. Vendemos muito bem aqui. Pode ver que sempre tem hippie na cidade. As pessoas conversam, nos tratam muito bem, compram o nosso artesanato. Aliás, o Paraná é o estado mais receptivo”, afirma o jovem que disse já ter ido a todos os países da América Latina.
“Eu gosto de comprar, de parar para conversar, saber um pouco da história de cada um. É uma opção de vida que não é para qualquer um. Por isso os admiro e compro peças porque além de gostar contribuo um pouco para a aventura deles”, disse a estudante Mirela Marins, 17 anos.
“Sempre estamos por aqui e levamos pelo menos uma pulseirinha. É muito massa”, afirma a também estudante Helen Patrícia Albuquerque, 17 anos.
BUSCA PELA LIBERDADE
O vento no rosto, a estrada que leva a qualquer lugar. Na bagagem e na mente apenas a ânsia pelo desapego, que aos poucos vai encurtando com a distância a cada passo que dá, e um único desejo: viver.
É assim que Arthur Maggi, 22 anos, vive cada minuto da sua vida desde que tomou a decisão de se aventurar pelo mundo afora, fazendo paradas, vendendo a sua arte, fazendo novos amigos, sendo feliz.
O gaúcho que há quatro anos deixou Torres, a cidade onde nasceu, cresceu, trabalhou e deixou a sua família, cansou de ter uma vida normal. “Desde cedo eu trabalhava muito e o que ganhava não dava pra comprar o que eu queria”.
Segundo o hippie que vende artesanato no Calçadão da XV de Novembro em Guarapuava, aos poucos ele foi guardando dentro de si a vontade de sair numa incessante busca pela liberdade.
“É uma busca pra eu me conhecer, saber realmente quem sou e nos aprendizados que fui tendo vi que o desapego precisava ser trabalhado. Por isso, larguei a rotina e sai por aí, andar”.
O jovem que gosta de ler e busca o seu lado espiritual, conta que se “libertou” das amarras impostas pela sociedade aos 18 anos. “Nesse dia quis ter a independência dos meus pais, quis ser eu e o mundo. Me despedi da minha mãe, disse que ia viajar e que não sabia quando voltaria e saí. Fui a Florianópolis”.
Relembrando o seu passado recente, o jovem de cabelos loiros com dread, olhos verdes, abaixa a cabeça enquanto fala e o olhar se perde nas lembranças. “A sensação de liberdade que senti quando peguei a estrada é indescritível”.
De cidade em cidade, Artur que também é artista plástico, aos poucos foi aprendendo com outros viajantes a arte manual. Brincos, pulseiras, anéis, e outras peças preenchem o pano estendido no calçada. “O que vendo me permite ter três refeições por dia, dormir em hotel e viajar de ônibus”, diz mostrando que o hippie tradicional, aquele que dormia em barraca e que pedia carona na estrada também já ficou atrás. “Hoje o mundo está perigoso e pegar carona com quem para na estrada já não é mais seguro”.
A insegurança já fez de Arthur uma vítima. “Levaram o meu pano e fiquei sem nada, mas aprendi que essa foi mais uma oportunidade de exercitar o desapego e comecei tudo de novo”.