22/08/2023


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O Rio Paraná terá a maior trilha aquática do mundo

Proposta da trilha aquática é percorrer 300 quilômetros de caiaque, retomando trajeto feito por indígenas, espanhóis, jesuítas, bandeirantes e migrantes

rio parana

(Foto: Divulgação/Rota dos Pioneiros)

O Rio Paraná vai ganhar a Rota dos Pioneiros. O rio que dá nome ao Estado sempre foi uma importante rota de navegação. Ao longo dos séculos, indígenas, espanhóis, jesuítas, bandeirantes e migrantes de diferentes nacionalidades atravessaram as águas do Rio Paraná para encontrar em suas margens terras férteis para viver, explorar e conquistar.

Assim, novos navegadores querem agora retomar o trajeto dos antigos para criar aquela que promete ser a maior trilha aquática do mundo: a Rota dos Pioneiros. A proposta é percorrer 300 quilômetros de caiaque pelo último trecho de águas correntes do rio. Ou seja: a parte não represada pelos reservatórios das hidrelétricas.

“A ideia é aproveitar o que já existe em termos de estrutura nas margens do rio, como os portos e cidades onde o navegador pode dormir, acampar e se alimentar, além de conhecer a paisagem local”, explica o biólogo Erick Xavier, do Coripa (Consórcio Intermunicipal para Conservação do Remanescente do Rio Paraná e Áreas de Influência).

MAIOR DO MUNDO

Ele é um dos idealizadores do projeto, ao lado do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Xavier afirma que a trilha já é a maior do mundo. E, com o projeto completo, será a maior do mundo. A iniciativa vai reforçar o turismo de aventura e natureza que o Governo do Estado passou a incentivar a partir do ano passado. Com isso, busca-se divulgar as belezas do Paraná e o desenvolvimento econômico, com sustentabilidade.

Assim, o percurso completo pode durar vários dias e conta com trilhas terrestres para trekking e pedalada, além de locais de apoio nas áreas de várzea e nas ilhas que compõem o Parque Nacional de Ilha Grande e a Área de Proteção Ambiental (APA) das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.

TURISMO SUSTENTÁVEL

A Rota dos Pioneiros busca promover, nos municípios ribeirinhos, o turismo sustentável e de base comunitária. É também uma atração à parte em uma Região que vê crescer o número de visitantes que vêm em busca das belezas e aventuras que o Rio Paraná tem a oferecer.

No percurso, os navegadores passam por centenas de ilhas, praias de água cristalina e uma paisagem cinematográfica que mescla a biodiversidade de três dos principais biomas brasileiros: a Mata Atlântica, o Pantanal e o Cerrado. Além disso, pontos de apoio podem se espalhar por todo o trecho da trilha, gerando novas oportunidades de negócios nesses locais. São a instalação de restaurantes, campings, pousadas e oferta de serviços de guias turísticos e aluguel de caiaques.

Na definição dos organizadores, a Rota dos Pioneiros é uma grande trilha que conecta paisagens, unidades de conservação e pessoas. “Municípios, comunidade e o setor privado devem se apropriar desse produto e perceber as oportunidades de negócio, já que um dos objetivos da rota é gerar emprego e renda”, afirma Xavier.

(Foto: Ari Dias/AEN)

PARANÁ AVENTURA

Na parte do Estado, está a regulação dos esportes de aventura e natureza, para tornar atividades desse tipo mais segura para seus praticantes. O Governo do Estado está elaborando o programa Paraná Aventura, um marco legal com normas de segurança previstas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Quem já quer se aventurar pela Rota dos Pioneiros precisa ficar atento às pegadas, literalmente. A trilha aquática faz parte da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso (Rede Trilhas), que busca conectar as unidades de conservação de todo o Brasil. Assim, as demarcações feitas pelos organizadores seguem a sinalização nacional da Rede Trilhas.

As demarcações estão pregadas ou grafitadas em árvores. A marca é uma sola de botina na cor preta em cima de um fundo amarelo. No meio da pegada, se vê uma pessoa em um caiaque com um remo nas mãos, destacando as características desta grande trilha anfíbia.

(Foto: Divulgação/Rota dos Pioneiros)

DEMARCAÇÃO

Até agora, já foi demarcado um trecho de cerca de 118 quilômetros pelo rio, que marca a divisa entre o Paraná e o Mato Grosso do Sul. O percurso, já reconhecido como a maior trilha aquática do Brasil, começa em Porto Camargo, em Icaraíma, passa por nove municípios – cinco deles do Paraná – até chegar à Ponte Ayrton Senna, em Guaíra, no limite entre o rio e o lago da Itaipu Binacional.

A ideia, porém, é expandir para outros municípios. Já foi iniciada a sinalização de uma rota saindo de Porto São José, em São Pedro do Paraná, que passará pelo Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, no Mato Grosso do Sul. A trilha atravessa o Rio Paraná e desce pelo Ivinhema, até voltar a Porto Camargo e continuar o trajeto até Guaíra.

Outra meta é fazer a ligação entre unidades de conservação e outras trilhas já consolidadas. No sentido da nascente do rio, há a previsão de um novo trecho. Este, vai incluir no roteiro a Estação Ecológica do Caiuá, em Diamante do Norte. E ainda, as trilhas do Morro do Diabo, em São Paulo.

A continuação da rota a partir de Guaíra, poderá levar ao Parque Nacional do Iguaçu, onde estão os remanescentes do Caminho de Peabiru. Essa trilha de longo curso, remonta ao antigo caminho indígena que ligava os oceanos Atlântico e Pacífico.

(Foto: Divulgação/Rota dos Pioneiros)

PAISAGENS

Os percursos já sinalizados permitem uma imersão na biodiversidade das matas que compõem o Rio Paraná. Conforme a Agência Estadual, essa biodiversidade abriga importantes espécies de animais, como pássaros, primatas e felinos. Além disso, na paisagem também estão as praias de água doce, com bancos de areia fininha que se encontram com o rio de água cristalina.

As trilhas de longo curso também cumprem uma importante função ecológica. Por isso, formam corredores de biodiversidade que permitem o trânsito de animais entre as unidades de conservação. Recentemente, ciclistas que faziam a trilha da Lagoa Xambrê, em Altônia, avistaram macacos e uma onça-parda.

“Quando estiver pronta, a trilha será um grande corredor de dispersão da fauna. Os animais isolados nas unidades de conservação poderão se conectar pela paisagem deste corredor de biodiversidade do Rio Paraná”, explica Xavier.

Na Lagoa Xambrê, a rota de três quilômetros passa por propriedades rurais e pode ser feito a pé ou de bicicleta. Outro ponto de apoio é a Ilha Santo Antônio, em Guaíra, também chamada de Ilha do Pacífico. O local, que foi todo reflorestada por um ex-frade franciscano, o Frei Pacífico, poderá ser usado como área de camping.

Por outro lado, a trilha da Ilha Grande, a maior do Parque Nacional, está sendo demarcada e terá 17 quilômetros de extensão. “O percurso de um ponto de apoio ao outro leva cerca de um dia de remada. A ideia é que o navegante faça o percurso tranquilamente, parando nas praias, para tomar banho de rio, para comer e conhecer a história do local”.

(Foto: Divulgação/Rota dos Pioneiros)

OS PIONEIROS

De acordo com Erick Xavier, a Rota dos Pioneiros remete à história do Rio Paraná e da própria ocupação do território paranaense. “Por um bom período de tempo, quando ainda não havia estradas, diversos grupos de pessoas chegaram a essa região pelo rio. Toda a história do Rio Paraná é permeada de pioneiros”, diz. “A pessoa que fizer isso aqui de caiaque, a pé ou de bicicleta vai fazer o caminho que muitos povos percorreram”.

Desta forma, em busca do que chamavam de terra sem males (Yvyv Marã’y, no tupi-guarani), indígenas guaranis já atravessavam o rio de canoa dois milênios atrás. Além disso, faziam em suas margens uma cultura de rotação: pescavam, plantavam e caçavam. Entretanto, depois de um tempo, trocavam de local e, ao retornarem, encontravam novamente a floresta recuperada.

Assim, a ocupação do Brasil pelos colonizadores europeus no início do século 16, a Região acabou entrando na rota dos conquistadores espanhóis. Na confluência entre os rios Paraná e Piquiri, próximo de onde são hoje os municípios de Guaíra e Terra Roxa, estava a Ciudad Real del Guahyrá. Pertencente ao Império Espanhol, a fundação da cidade remonta à 1556.

MISSÕES

Na esteira da conquista, também vieram as missões jesuíticas, e a localidade abrigou uma redução onde viviam milhares de pessoas. Os jesuítas acabaram expulsos por um novo grupo de pioneiros que chegou à região pelo rio: os bandeirantes paulistas que conquistavam novas terras Brasil a dentro. Com a saída dos bandeirantes, as margens do Paraná voltaram a ser ocupadas pelos antigos nativos, até novas navegações avançarem pelas águas.

Conforme a Agência Estadual de Notícias, por elas vieram imigrantes italianos, alemães, portugueses e japoneses. Neste trecho, também foram encontradas afundadas embarcações da Revolta Tenentista de 1924, outro importante capítulo da história brasileira.

Os ciclos econômicos do Estado e do País também acompanharam as correntezas do rio, desde a erva-mate, que era escoada de barco até a Argentina, até o aproveitamento hidrelétrico, que faz girar as turbinas de grandes usinas para gerar energia. É no lago da gigante Itaipu Binacional que termina a Rota dos Pioneiros, e onde pode começar uma nova remada para quem quer explorar a fundo o Rio Paraná.

ORIENTAÇÕES

A página do Facebook da Rota dos Pioneiros tem algumas orientações para quem for navegar pela trilha com segurança, tendo a melhor experiência possível.

A primeira dica é contratar um guia ou aproveitar as expedições para conseguir conhecer os melhores pontos. A Pachamama Expedições é a primeira empresa a oferecer esse serviço. Assim, o contato também pode ser feito pelo Facebook.

Entretanto, precisa solicitar na página da Rota dos Pioneiros o arquivo do trekking para salvar no GPS. Além disso, outro documento importante é carta náutica da Administração Hidroviária do Paraná (Ahrana), e aplicativos de mapas e navegação. A sugestão dos organizadores é o Avenza. O aplicativo é leve e compatível com o mapa do Parque Nacional de Ilha Grande, que também é disponibilizado pelo Facebook.

O que não pode faltar: colete salva-vidas, faca, apito de emergência, remo, remo-reserva, água potável. E ainda: lanches rápidos (barrinhas de cereais, frutas, chocolate), isotônicos para hidratar, filtro solar, roupas para proteger do sol e de insetos, óculos de sol, luvas, boné ou chapéu.

CAMPING

Para quem vai acampar deve levar barraca, saco de dormir, isolante térmico, lanterna e bateria externa para equipamentos eletrônicos. Todavia, não esqueça dos produtos de higiene pessoal, como papel higiênico, sabonete e creme dental. Além disso, leve remédios de uso controlado, para dores musculares e de cabeça. E por fim, coloque na bagagem utensílios como garfo, faca, colher, copo e prato, sabão e esponja.

De acordo com os organizadores, é importante ainda levar os equipamentos de primeiros socorros. Entre eles, gaze, faixas, algodão, esparadrapo e spray higienizante. E por fim, os equipamentos de localização, como bússola, mapa impresso da rota e GPS com a rota a percorrer. E também celular com o aplicativo com o mapa do parque.

NÚMEROS DE EMERGÊNCIA

  • Marinha Guaíra – (44) 3642-1166
  • ICMBio Umuarama – (44) 3624-1776
  • ICMBio Guaíra – (44) 3642-1774
  • CEMPA/ICMBio – (44) 3584-1132
  • Bombeiros: 193
  • Samu: 192

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Gilson Boschiero

Jornalista

Possui graduação em Jornalismo, pela Universidade Metodista de Piracicaba (1996). Mestre em Geografia pela Unicentro/PR. Tem experiência de 28 anos na área de Comunicação, com ênfase em telejornalismo e edição. Foi repórter, editor e apresentador de telejornais da TV Cultura, CNT, TV Gazeta/SP, SBT/SP, BandNews, Rede Amazônica, TV Diário, TV Vanguarda e RPC. De 2015 a 2018 foi professor colaborador do Departamento de Comunicação Social da Unicentro - Universidade do Centro-Oeste do Paraná. Em fevereiro de 2019, passou a ser o editor chefe do Portal RSN.

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