Hoje em dia é comum ligar a televisão ou acessar as redes sociais e deparar-se com mulheres falando sobre diferentes assuntos e ocupando diversos espaços. No entanto, apesar dessas vitórias, as mulheres ainda precisam lutar o dobro ou triplo para conquistarem cargos e direitos comuns aos homens, sobretudo na política.
Além disso, quando mulheres conseguem chegar à cargos de poder é comum que elas sofram com ataques preconceituosos ou assédios. Isso ocorre, por exemplo, quando o corpo delas é sexualizado, o potencial profissional diminuído e a capacidade para exercer o cargo questionada.
Após 90 anos da conquista do voto feminino no Brasil, comemorado nesta quinta (24), as mulheres ainda enfrentam problemas como misoginia e machismo. A deputada Maria do Rosário, em 2014, ouviu do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, na época deputado, que ela não merecia ser estuprada porque era “muito feia” e “não ‘fazia’ o tipo dele”. Ou quando a ex-presidenta Dilma Rouseff teve adesivos colados na entrada do tanque de gasolina que faziam alusão sexual.
Além disso, casos do tipo também ocorrem com parlamentares de Guarapuava. Recentemente a vereadora Bruna Spitzner (Podemos) teve fotos compartilhadas em um perfil onde homens faziam comentários machistas e misóginos. Reduzindo, menosprezando e “coisificando” a parlamentar, como ela desabafou nas redes sociais.
“Fotos minhas foram expostas como se fosse, eu, uma vitrine, colocada à avaliação. Não sei se consigo colocar em palavras como enfrentar essa situação me fez sentir. Fui reduzida, menosprezada, fui coisificada. E, sim, tudo isso me tocou como mulher, como política. Doeu. O que me aconteceu, e é importante nomear, foi VIOLÊNCIA POLÍTICA DE GÊNERO”.
PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA POLÍTICA AINDA É BAIXA
Em 2020, as mulheres representavam 52,50% dos eleitores. Contudo somente 15% das candidatas conquistaram mandatos no Brasil. Conforme a vereadora de Guarapuava, professora Terezinha dos Santos Daiprai (PT), os desafios para que as mulheres possam participar efetivamente da política continuam gigantes.
A atividade política ainda é vista como exclusivamente masculina. E nós, aquelas que se lançam nesse campo, enfrentamos todo tipo de barreira. Como a violência política que nós sofremos quando somos interrompidas. Quando fazemos um pronunciamento nos espaços políticos e debocham das nossas falas ou quando desdenham das propostas que apresentamos.
Além disso, a vereadora ressalta a dificuldade que ainda há para pra eleger um número significativo de mulheres. Para se ter ideia, 900 municípios brasileiros não tiveram sequer uma vereadora eleita nas eleições de 2020. Em Guarapuava, dos 22 parlamentares eleitos nas últimas eleições, apenas quatro são mulheres.
Dessa forma, a luta por mais representatividade feminina na política se une a luta por equidade de gênero, que trata-se de uma reparação histórica da discriminação contra a mulher. Sendo assim, o desafio ainda está em torno da compreensão da sociedade sobre política ser sim um espaço das e para as mulheres.
NOVE DÉCADAS DO INÍCIO DA CONQUISTA
Imagine você não poder votar, estudar, trabalhar ou usar a roupa que sente vontade. As brasileira do século XIX não tinham esses direitos. Conforme a advogada Fernanda Bugai, as eleições no Brasil ocorriam desde 1532 nas instâncias municipais. Desde então somente homens podiam votar. Além disso, Fernanda conta que sob a perspectiva de gênero, esses valores e comportamentos, denominados como ‘patriarcado’, colocavam as mulheres em posições de dependência e subordinação.
Historicamente construiu-se o senso comum de que a mulher está em posição hierarquicamente inferior ao homem. Dessa forma, esse aspecto de cultura faz com que inúmeras desigualdades ocorram entre homens e mulheres na estruturação da sociedade. Conforme a advogada, essa organização estrutural afetou a compreensão sobre mulheres, que passaram a ser vistas como desiguais e inferiores. Portanto, compreendidas como pessoas que não tinham condições intelectuais como as dos homens.
Quando os movimentos sufragistas, reivindicando a participação das mulheres na política ganharam força nos Estados Unidos e no Brasil, finalmente em 1932 as brasileiras conseguiram o direito à participação política. No entanto, conforme Fernanda, que também é mestra em Desenvolvimento Comunitário, o direito era conferido com restrições.
Somente mulheres casadas podiam votar e elas tinham que ter autorização dos maridos. Ou viúvas e solteiras que possuíssem comprovação e renda própria. Aspecto que demonstra como nossa legislação insere dispositivos de gênero e de classe ao acesso de direitos às pessoas, numa manutenção patriarcal do poder.
De acordo com a vereadora Terezinha dos Santos Daiprai (PT) essa ações afirmavam que as mulheres não eram capazes de desempenhar e desenvolver o trabalho nos cargos de mando e de decisões políticas.
Apesar da conquista ao voto houve mais lutas para que de fato fosse efetivado o direito da participação da mulher no modelo republicado. No qual as pessoas escolhem os representantes na política.
A IMPORTÂNCIA DA MULHER NA POLÍTICA
Conforme a professora Fernanda Bugai, ainda existem muitos obstáculos para as mulheres na política. Contudo a participação feminina representa luta e resistência. “Ainda estamos distantes de uma equidade de gênero e a presença de mulheres nos mais múltiplos espaços é essencial para modificação deste panorama”.
De acordo com a legislação eleitoral, atualmente é obrigatório o preenchimento de 30% e o máximo de 70% de candidatos de cada sexo nas legendas. Antes, a regra era tida apenas como uma orientação. Dessa forma, para a Professora Terezinha, é importante que cada vez mais mulheres ocupem cargos no cenário político, “para que aqueles que estão ali também compreendam que a violência política e o machismo não fazem sentido em uma democracia”.
Pra ir ampliando a participação das mulheres nos espaços de decisão, nos cargos de poder para que a gente possa ir combatendo esse regime capitalista, patriarcal e machista que deixa as renegadas a trabalhos não valorizados ou pouco valorizados na sociedade.
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