22/08/2023
Cotidiano Guarapuava

“Minha casa é aqui”, diz libanês que escolheu Guarapuava para viver

No Dia Nacional da Comunidade Árabe no Brasil, os libaneses de Guarapuava relembram a história e a chegada no município

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Libanês Reda veio para o Brasil em 1970 e está até hoje com a família em Guarapuava (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu me emociono em falar daqui, não pretendo mais voltar para o Líbano. Eu respiro Brasil, minha vida é aqui”. A emoção toma conta da voz do libanês Reda Hassam Reda, de 67 anos. Há mais de 40 anos em Guarapuava, ele afirma que aqui é a pátria dele e que se tivesse que guerrear por ela, lutaria.

O Dia da Comunidade Árabe no Brasil celebrado nesta sexta (25), apenas reforça o amor dos árabes pelo solo brasileiro. De acordo com uma Pesquisa Nacional Exclusiva sobre Árabes no Brasil feita em 2020, mostra que o povo árabe representa 7% da população brasileira.

Parece pequeno com um dígito, mas dentro deste ‘sete’ cabem 11,6 milhões de árabes e descendentes, sendo que 10% do total é imigrante e 41% são netos de imigrantes. No Brasil, a maior comunidade está situada em Foz do Iguaçu, mas sobrou uma parte também para Guarapuava, que também se tornou ‘coração de mãe’, onde cabe sempre mais um.

VINDA PARA O BRASIL 

E assim, seu Reda entrou para a família brasileira e se apaixonou pelo País. Ele saiu com 15 anos de uma cidade chamada Tiro, situada no Sul do Líbano e veio para o Brasil com o irmão. Ao se despedir da mãe, ele embarcou com o sonho de conhecer o pai que já estava em Ponta Grossa, no Paraná. Entre risadas, ele conta que o momento de chegada no país teve até um marco na história. “Cheguei no ano em que o Brasil recebeu o título de tri campeão da Copa, já cheguei em ritmo de festa”.

Em seguida, ele morou em Ponta Grossa e lá conheceu a esposa também de origem libanesa, mas brasileira. “Eu pensei em voltar para o Líbano, mas me apaixonei pela minha vizinha e me casei. Tive várias namoradas, mas com todas as qualidades dela, decidi ficar aqui. Morei em Ponta Grossa, mas em Guarapuava conquistei minha naturalidade brasileira em 1989”.

Por isso, o município ficou gravado no coração. Desse modo, ele abriu o próprio negócio na cidade e convidou outros familiares a virem para cá. Quando surge a dúvida de como era Guarapuava naquele tempo, ele não hesita em falar. “Pra começar que a Saldanha Marinho era do sentido ao contrário (risos) e a cidade tinha 30 mil habitantes. Isso só prova o quanto ela cresceu!”.

Os negócios da família prosperaram tanto que já somam cerca de seis lojas abertas pelos árabes. “O comércio está no nosso sangue! Começou com os romanos e fenícios. Temos mais de 200 funcionários, então não se trata mais só da minha família, mas de 200 famílias. Nossa terra é abençoada, aqui temos um povo amoroso e trabalhador”.

ESPERANÇA

A fé e a religião do libanês são nítidos em cada palavra. O comerciante não deixou a crença de lado e frequenta a Mesquita de Guarapuava. Como presidente da Associação Beneficente Muçulmana, ele afirma que tem planos para ensinar árabe que em breve, se concretizarão. “Temos o projeto de uma escola árabe e queremos que nossa comunidade seja mais ativa”.

Agora, a expectativa está no Ramadã, o tradicional jejum dos árabes. O período de 30 dias relembra a revelação do Alcorão. Mas também é um momento de celebrações e de boas ações. “É um momento de intensificarmos nossas ações aos que precisam e demonstrar amor”.

Dessa forma Reda vive e quer continuar vivendo, mas claro, em solo brasileiro. “Não pretendo voltar, já deixei meus filhos conhecerem o Líbano. Mas eu só volto para visitar, pois minha casa é aqui”.

Reda frequenta a Mesquita Fátima Azzahra de Guarapuava fundada em 1978 em Guarapuava (Foto: imagens Google)

LÍBANO NO CORAÇÃO

Há também aqueles que guardam o Líbano no coração. Geovanni Miguel Ayoub é brasileiro e morador de Guarapuava, mas o pai Miguel Ibrahim Ayoub era libanês. O pai tinha 21 anos quando deixou o Norte do Líbano. Ele veio a convite do tio e ficou 21 dias em um navio.

O libanês Miguel Ibrahim Ayoub (Foto: Arquivo Pessoal)

Com orgulho, a família preservou os costumes árabes e sempre esteve envolvido nas festividades e clubes libaneses.

 Ele dizia que amava o Brasil por ser tão acolhedor e por ter dado a esposa e os filhos. Primeiro ele se fixou em Rio Azul, abrindo um comércio. Logo depois, em 1970, viemos para Guarapuava e ele ficou 50 anos com o comércio dele na rua Saldanha Marinho.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Mesmo com a partida do pai, a família fez parte da consolidação do município, sem nunca deixar os costumes árabes. As comidas e as roupas expressam uma pequena parte da vasta cultura árabe.

Sempre fizemos comidas árabes, como tabule, esfirra e shawarma. Participamos de eventos e em algumas oportunidades usamos as roupas tradicionais árabes. Essa é nossa forma de manter a tradição viva. Mas você reconhece um árabe de longe, somos alegres, trabalhadores e muito sorridentes. 

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Vallery Nascimento

Jornalista

Jornalista formada desde 2022 pelo Centro Universitário Internacional - Uninter. Além do amor pela comunicação, ela também é graduada em Letras com habilitação em inglês. Apresenta o Giro RSN de segunda a sexta, às 18h nas redes sociais do Portal RSN.

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