22/08/2023


Paraná Saúde

Paraná vai ter a primeira médica com tetraparesia do Brasil

Elaine se forma em maio pela Unioeste, após um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que causou tetraparesia, a perda dos movimentos e da fala

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Elaine tem tetraparesia (Foto: Arquivo Pessoal/ACS Unioeste)

Elaine Luzia dos Santos de 33 anos, estudante de Medicina da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), se forma em maio. A conquista ocorre após a estudante passar por um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que acarretou na perda dos movimentos e da fala, uma condição de tetraparesia.

Dessa forma, agora, ela se comunica com professores, colegas da turma, pacientes, familiares e amigos praticamente com o olhar. Assim, ela é a primeira pessoa com tetraparesia a cursar Medicina no Brasil e também vai ser a primeira médica em breve.

Com a colação de grau marcada para maio, a estudante já escolheu a área em que vai se especializar e que se vê atuando no futuro: radiologia, na produção de laudos médicos. Conforme ela, a escolha preza pela independência na hora da atuação profissional. “É uma área na qual eu posso atuar usando todo o meu conhecimento sem depender tanto das pessoas”.

Durante os anos de graduação, o que mais marcou a estudante foi a relação que ela teve com os pacientes durante as aulas práticas e estágios. “O que mais recordo é o carinho com que os pacientes me tratam. Eles me incentivam todos os dias a continuar”.

TRAJETÓRIA DE SUPERAÇÃO

Em 2012, quando ingressou no curso de Medicina no campus de Cascavel, Elaine já era formada em Farmácia pela mesma instituição estadual. De acordo com ela, depois da conclusão do primeiro curso, em 2010, a Medicina parecia uma continuação natural. Para transformar o sonho em realidade, fez um ano de cursinho, que contribuiu para a aprovação no vestibular.

Durante a graduação, além das aulas curriculares, a estudante fazia parte de um grupo de pesquisa coordenado pelo professor Allan Araujo, coordenador do curso de Medicina. Além disso, pleiteava uma vaga no programa de Mestrado em Biociência da Unioeste.

No entanto, no terceiro ano, em novembro de 2014, Elaine sofreu esse AVC que levou à tetraparesia. Mesmo com todas as dificuldades, ela não perdeu a disposição para ir atrás dos sonhos, enfrentou e se adaptou à nova realidade.

Enquanto ainda estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a estudante recebeu a visita de um colega de turma, que lhe apresentou uma ferramenta chamada “prancha alfabética”, que possibilitaria que ela falasse e se expresse, sem nem mesmo utilizar as cordas vocais.

A ferramenta consiste em uma tabela, dividida em cinco linhas, cada uma contendo um grupo de letras. Para formar as palavras e frases, Elaine pisca quando a intérprete diz a letra necessária para a construção daquilo que quer comunicar.

O modelo original da ferramenta sofreu algumas alterações para otimizar o uso e facilitar a comunicação do cotidiano. Com estas pequenas mudanças no modelo, Elaine dominou e memorizou os grupos de letras em cerca de uma semana e dessa forma já podia se conectar de maneira mais eficaz com as pessoas ao redor.

APOIO PEDAGÓGICO

O retorno às atividades acadêmicas, em setembro de 2015, não foi uma tarefa fácil. A Unioeste, por meio do Programa de Educação Especial (PEE), acompanhou todo o processo. Dessa forma, Elaine será a primeira médica do Brasil a se formar com a condição física que apresenta.

A fim de se adaptar para as necessidades apresentadas por Elaine, o curso buscou a Assessoria Jurídica para entender os procedimentos legais e as legislações que deveriam ser cumpridas a fim de formar a estudante, que sempre fez questão de participar de todas as atividades acadêmicas, tanto as de cunho teórico, como prático. Além das estruturas adaptadas, como uma sala especial, os procedimentos de avaliação foram remodelados.

De acordo com o coordenador do curso de Medicina, existe uma legislação própria para alunos em condições especiais. “A Elaine, por exemplo, não tinha condições de fazer um procedimento em um paciente, mas ela possui total capacidade de descrevê-lo. E as avaliações dela sempre foram muito boas, o aproveitamento foi muito satisfatório durante toda a graduação”.

Para atender a estudante nas aulas on-line e presenciais, nos atendimentos dentro do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) e nas visitas aos pacientes, a Unioeste disponibiliza docentes de atendimento educacional especializado.

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Antunes

Jornalista

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