22/08/2023
Paraná Política

Sob ameaças racistas, vereador de Curitiba luta contra a cassação

Tudo começou com a participação do vereador em manifestação antirracista na Igreja do Rosário, em 5 de fevereiro, em Curitiba

Renato Freitas, deputado estadual (Foto: Divulgação)

Vereador Renato Freitas (Foto: Eduardo Matysiak)

Embora ainda sem data marcada para a decisão final, a Câmara de Curitiba aprovou parecer pela cassação do mandato do vereador Renato Freitas (PT). A decisão ocorreu nessa terça (10) pela Comissão de Ética e Decoro Parlamentar. Conforme o placar, votaram pela cassação o relator do caso, Sidnei Toaldo (Patriota), Denian Couto (Pode), Indiara Barbosa (Novo), Noêmia Rocha (MDB) e Toninho da Farmácia (União Brasil).

Votou pelo arquivamento a sub-relatora Maria Letícia (PV). O presidente do conselho, Dalton Borba (PDT), votou pela suspensão do mandato de Freitas por seis meses. O processo agora será votado em plenário. Caso a maioria dos 38 vereadores vote pela aprovação do parecer, o vereador perderá o mandato. Caso isso se confirme quem assume é a primeira suplente Ana Júlia.

De acordo com a Comissão de Ética, tudo começou com a participação do vereador em manifestação antirracista na Igreja do Rosário, em 5 de fevereiro. Nesse dia, manifestantes se posicionaram contra o assassinato do congolês Moïse Kabagambe e de Durval Teófilo Filho, no Rio de Janeiro. O vereador estava entre os manifestantes.

Entretanto, para o relator foi Renato quem “dirigiu e coordenou a manifestação”, além de proferir palavras de ordem em alto tom dentro da igreja. Alegou ainda que é “inegável não só a participação do vereador Renato Freitas, mas a sua liderança na manifestação”.

SUSPENSÃO

Todavia, a sub-relatora, vereadora Maria Letícia (PV), discordou. Ela votou pelo arquivamento da representação, afirmando não haver provas de que Freitas tenha liderado a ação. A defesa apontou que o vereador não participou da organização nem liderou o ato. De acordo com a defesa, o próprio relator admitiu, que não houve invasão da igreja, nem interrupção da missa, que já havia terminado quando os manifestantes entraram no templo. Diz ainda que o próprio padre ofereceu o microfone aos ativistas.

Dessa forma, o presidente do conselho vereador Dalton Borba (PDT), defendeu a suspensão do mandato de Freitas por seis meses. “O próprio voto do relator diz que não houve invasão ou interrupção da missa. A própria igreja afirmou que a cassação de Freitas seria uma injustiça”.

RACISMO

No entanto, a polêmica envolvendo o vereador e advogado Renato Freitas envolve uma outra questão. Negro, ele enfrenta manifestações racistas dentro da Câmara. Na segunda (9), o vereador recebeu um e-mail com ataques, ameaças e ofensas racistas contra ele e outros dois vereadores negros: Carol Dartora (PT) e o jornalista Herivelto Oliveira (CDN).

Conforme o vereador o conteúdo é ameaçador. “Eu não tenho medo de você ou dos esquerdistas vagabundos que te defendem, seu negro”, diz o e-mail.

Já metemos pressão na Indiara Barbosa e na Noêmia Rocha (…). A câmara de vereadores de Curitiba não é o seu lugar, Renato. Volta para a senzala. E depois de você vamos dar um jeito de cassar a Carol Dartora e o Herivelto. Vamos branquear Curitiba e a Região Sul queira você ou não. Seu negrinho.

De acordo com o texto, a mensagem tem origem no gabinete do vereador Sidnei Toaldo (Patriota), pelo sistema interno do Legislativo. O vereador nega e diz que registrou boletim de ocorrência para apurar o fato.

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Cristina Esteche

Jornalista

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