Nos últimos dias acompanhamos o desabafo da cantora Anitta nas redes sociais que sofreu nove anos com a endometriose sem receber o diagnóstico adequado. Assim, por conta da percepção tardia, ela precisou passar por uma cirurgia chamada laparoscopia. O procedimento consiste em retirar ou queimar o tecido endometrial que esteja atrapalhando o funcionamento de outros órgãos do corpo.
Isso porque essa doença afeta a mucosa que reveste as paredes internas do útero, conhecida como endométrio, e a faz crescer para fora do órgão, atingindo, por exemplo, os ovários e a bexiga. Dessa forma, se não tratada, pode causa cólicas menstruais intensas e dor durante as relações sexuais, ao evacuar e urinar.
As varizes pélvicas são um diagnóstico diferencial para a endometriose, pois ambas possuem alguns sintomas similares, como dor crônica na região da pelve e durante a relação sexual. Elas são veias aumentadas e tortuosas na região do útero e dos ovários, que dificultam o retorno venoso, causando dores com duração maior que seis meses.
De acordo com o médico especialista em cirurgia vascular, Carlos André Vieira, essa doença pode atingir até 15% das mulheres entre 18 e 50 anos.
Além de ser considerada no diagnóstico diferencial para endometriose, doenças inflamatórias pélvicas e cistite intersticial, alguns dos sintomas dessas doenças são semelhantes aos de varizes pélvicas. Infelizmente, apesar de sua alta prevalência, é subdiagnosticada por muitos médicos.
ORIGEM E SINTOMAS
O aparecimento das varizes pélvicas ainda não tem explicação. Acredita-se que níveis elevados de estradiol, hormônio que atua no crescimento dos órgãos reprodutivos femininos, podem causar as dores. Isso pode explicar a maior prevalência em gestantes e em mulheres que possuem ovários policísticos.
Embora sem origem primária, podem existir fatores secundários bem definidos. As síndromes compressivas, em muitos casos, podem ser identificadas e perfeitamente tratadas. “As síndromes compressivas, que acometem as veias na região pélvica, geram dificuldade no retorno venoso do sangue ao coração, levando à dilatação das veias e a formação de varizes”.
Além disso, a maioria dos casos diagnosticados são assintomáticos. As varizes pélvicas só são relevantes e só devem ser tratadas quando geram algum sintoma; nesse caso, denomina-se Síndrome Congestiva Pélvica, que apresenta alguns sintomas:
- Dores crônicas na região da pelve (com mais 6 meses de duração);
- Alterações no ciclo menstrual;
- Dores durante a relação sexual (dispareunia);
- Presença de veias varicosas no períneo ou na vulva.
TRATAMENTO
O diagnóstico acidental é comum quando se está fazendo algum exame por qualquer outra causa. Nessa situação, o médico explica que a maioria dos casos não demanda intervenção, pois não se deve tratar exames, mas, sim, o indivíduo. “As repercussões de uma cirurgia desnecessária podem ser piores e, por exemplo, trazer dor a uma pessoa que vivia sem sintomas”.
Quando há a necessidade de tratamento, o especialista ressalta que existem opções tanto clínicas quanto cirúrgicas. De acordo com ele, o tratamento clínico consiste em supressão ovariana ou medicamentos que induzem a vasoconstrição venosa.
Se não houver melhora após tratamento clínico, pode ser necessário algum tipo de intervenção. Uma das técnicas seria uma punção para que, com catéteres, se acesse a veia ovariana. Através dela, é feito um procedimento de fechamento dos vasos dilatados, conhecido como embolização.
O tratamento também é de baixo risco e, normalmente, é possível receber alta no mesmo dia. Contudo, apenas um especialista deve esclarecer se há necessidade de tratamento ou não. Embora não haja evidência de que seja uma doença com risco de morte aumentado, as varizes pélvicas podem levar a questões físicas e psicológicas que, muitas vezes, são incapacitantes.
“Muitas mulheres têm dores crônicas na região abdominal baixa e na pelve, além de apresentarem alterações menstruais. Isso pode ser importante causa de ansiedade e, em muitos casos, depressão, e consequências nos relacionamentos afetivos”.
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