22/08/2023


Cotidiano Guarapuava

Após 42 anos, Banca do Henrique pode fechar as portas em Guarapuava

"Você vê as pessoas com o dinheiro para comprar, mas não tem mercadoria. Não é culpa nossa", diz empresário que luta para manter o impresso vivo

Banca da Henrique

“Hoje o que eu vendo de revista não paga o aluguel, não tem como continuar”, diz seu Henrique que luta para manter viva o meio impresso (Foto: Vallery Amanda/Portal RSN)

O dia 2 de janeiro de 1980 ficou marcado na história de seu João Henrique Schmidt. Naquele dia, ele deixava Irati com apenas uma ‘muda’ de roupa em uma mala pequena e partia para Guarapuava. Na cabeça, seu Henrique viria para trabalhar em uma distribuidora de revistas. Mas ele não sabia que após 42 anos, ele poderia estar fechando as portas do maior sonho: a Banca do Henrique.

Quando eu vim em 1980, eu vim com uma ‘malinha’ e dormia dentro da banca em uma cama de campanha [cama dobrável]. E trabalhei dia e noite pra gente conseguir alguma coisa na vida e deu certo! Foi bom! Tudo que construí vai ficar para os meus filhos. Não tenho arrependimento e tenho coragem para fazer tudo de novo. Nós [a família] tivemos uma história de trabalho, Graças a Deus.

Seis meses após vir para o município, seu Henrique trouxe a esposa para começarem uma nova história. Ao perguntar para ele sobre o que a Banca significa, é possível ver os olhos dele se encherem d’água e o rosto se emociona. Seu Henrique coloca as mãos na mesa que fica no centro do espaço da Banca, aquela que ele tanto batalhou, e diz que é tudo.

A Banca significa dois terços da minha vida, são 42 anos de banca e eu tenho 63. Então, é a nossa vida! A gente se alimentava dentro da banca, ficava dentro da banca dia e noite, mais aqui do que em casa. Vou levar no coração! Foi bom essa etapa aqui da Copa, porque vai ficar na história de Guarapuava. 

Ao contrário do que muita gente imagina, o fechamento da Banca não é só por causa do conteúdo on-line. Seu Henrique explica que a variedade diminuiu e vários fatores fizeram com que fosse um desafio trabalhar com o meio impresso.

A gente está praticamente parando, porque não tem revista. As pessoas compram, mas revistas novas são poucas. Antes tínhamos vários tipos de revistas, aqui vivia cheio. Mas hoje não chega até aqui, assim como jornal também não chega. Uma parte eu falo o digital, mas a maior parte é o meio de transporte e o tipo de operação do distribuidor, pois ele prefere trazer outras mercadorias do que a revista. Está se acabando!

MAIS PREJUÍZO DO QUE LUCRO

Conforme o empresário, a situação não ocorre somente em Guarapuava, mas em outras cidades do interior. Isso porque antes as editoras maiores tinham a parte gráfica e mandavam para as editoras menores. Logo depois, as distribuidoras faziam as entregas. Agora, algumas editoras pararam com as gráficas e não fazem mais para as menores. Assim, seu Henrique adiava uma dívida de mais de seis meses só esperando pela Copa do Mundo de 2022.

Hoje o que eu vendo de revista não paga o aluguel, não tem como continuar. Tínhamos que fazer das ‘tripas o coração’, porque eu não trabalhava mais só aqui na Banca, eu tinha um outro emprego. Trabalhei na Pérola do Oeste durante 26 anos. Então eu tirava do meu salário para colocar aqui e vice e versa. Graças a Deus, deu tudo certo! Tem um grupo de políticos que toma café aqui todos os dias e ajudou bastante. Sempre tem uma alternativa, mas a gente está cansado. Você vê as pessoas com o dinheiro para comprar, mas não tem mercadoria. Não é culpa nossa, a gente depende de terceiros.

(Foto: Vallery Amanda/Portal RSN)

PELO LADO DE QUEM FICA

Para os clientes, a Banca do Henrique se tornou mais do que um comércio. Ali muita gente se encontra todos os dias para bater papo e se inteirar sobre o mundo. O encontro tem até um espaço reservado, chamado “Cantinho do Fuxico”. A história que roda no meio dos amigos é que o laço no meio do quadro representa o espaço, pois é conhecido pelas mulheres antigamente como ‘fuxico’.

(Foto: Vallery Amanda/Portal RSN)

O ex-vereador e secretário de Guarapuava, conhecido como Fernando da Maçã, é um amigo de confiança da família. Para ele, o fechamento da Banca é uma perda para a cidade. “Tenho um sentimento de gratidão por ele estar aqui prestando esse atendimento para Guarapuava e pela Região. Além do trabalho, eles são muito queridos. Mas vai ser uma falta muito grande, onde vamos nos encontrar? É triste”.

O atual secretário de Esportes, Milton Roseira Júnior também tem a Banca como um lugar especial. Desde criança ele frequentava a Banca do seu Henrique e sonhava em ter uma. “Estamos tristes. Nossa reunião aqui vai fazer muita falta. Nós temos o nosso cantinho, então já estamos preocupados. Meu sonho era ter uma banca de tanto que eu gostava. Aqui é uma família”.

(Foto: Vallery Amanda/Portal RSN)

NOVOS PLANOS

Agora, seu Henrique traça novos planos e quer aproveitar mais a família. A previsão é que o fechamento ocorra até dia 10 de janeiro. Depois disso, ele pretende se mudar para o campo e como diz ele, recomeçar.

Vamos nos mudar para o sítio e ficar lá uma temporada. Quero tentar esquecer a banca e acabar com as preocupações. Me sinto triste. Mas a dona Ivone [esposa] sempre estava junto aqui e combinamos de parar. 42 anos são uma vida. A tristeza é grande deixar a banca. Temos um vínculo com a cidade, a gente conhece todo mundo e todos conhecem a Banca. Quando cheguei, tinha 30 bancas e as coisas foram se acabando. A gente levava duas horas descarregando o caminhão, hoje vem meia caixa de mercado. O pessoal vai sentir falta da banca. Nós achamos melhor parar por aqui.

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Vallery Nascimento

Jornalista

Jornalista formada desde 2022 pelo Centro Universitário Internacional - Uninter. Além do amor pela comunicação, ela também é graduada em Letras com habilitação em inglês. Apresenta o Giro RSN de segunda a sexta, às 18h nas redes sociais do Portal RSN.

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