Clèmerson Merlin Clève lança coletânea de poesia íntima e histórica

O renomado jurista, professor e constitucionalista paranaense Clèmerson Merlin Clève, reconhecido pela profunda atuação no Direito, faz um retorno emocionante à literatura com o lançamento do livro ‘Quase Alguma Poesia’ (Editora Arte & Letra). Ele também é membro da Academia Paranaense de Letras.

‘Quase uma poesia’ (Foto: divulgação)

A nova obra, que a crítica sugere que poderia ser chamada de ‘Muita Poesia’, trata-se de uma reunião revisada de dois livros anteriores do autor. De acordo com a assessora dele, Wanda Camargo, serve como uma homenagem nostálgica à juventude e um tributo vibrante à terra natal, Pitanga.

Clève revela o lado mais íntimo e literário, utilizando o verso para revisitar dúvidas, paixões e o amor inesquecível pela cidade, mesmo após ter percorrido o mundo e suas maravilhas.

AMOR FATI: A LUTA PESSOAL EM TEMPOS SOMBRIOS

A primeira parte da coletânea é ‘Amor Fati’ – Poemas da idade jovem em tempos sombrios”. O título, que significa ‘Amor ao destino’ ou aceitação estoica da vida, é uma declaração de princípio. Nos poemas, escritos quando Clève era realmente jovem, não há espaço para o lirismo superficial, mas sim para uma maturidade surpreendente e a revolta travada que os tempos sombrios impõem à juventude.

Parte importante da reflexão, conforme Wanda, é a consciência que o poeta já demonstrava sobre a beleza e a arte, vistas como expressões do divino e do inalcançável. Ele descreve o esplendor da “formosa criatura” e a arte como algo que o subjuga: “E assim, minha senhora, sou teu servo infeliz; dou o que dou sem preço e com dor…”.

Contudo, é a futura profissão que já se manifesta na lírica: a preocupação com a Justiça: “Movimentar a rua. Fazê-la vibrante para o jubiloso povo cantar em coro. Reivindicar colheita…”. Essa antecipação da carreira jurídica mostra como a poesia foi o primeiro campo para a expressão de seus ideais.

A GÊNESE DE PITANGA: ENTRE O MITO E O SANGUE

A segunda parte, “Memória (quase) poética de uma temporada no céu”, é uma poderosa Ode à Pitanga que se desdobra em crônica e história. O texto se torna quase um romance de formação da cidade e do povo do centro do Paraná.

Dividida em dois cantos, a poesia de Clève narra a fundação da cidade e suas dores: a indignação pelos despropósitos contra o povo indígena (Paiquerê), os trabalhadores da serraria e os camponeses. O autor não teme tocar em feridas históricas, descrevendo o chão que guarda a cor “rubra de sangue indígena, vermelha da cor da terra, descalça, sem vestes verdes”, e questionando: “Céus, onde se encontra Javé? Deidades luminescentes, o que foi feito de Paiquerê?”

A obra relata os ciclos de construção e destruição da terra (“Os pinheiros eram altos”, mas a serraria, “serrando os troncos serrando a vida”, deixou um deserto de sonhos) e a tenacidade dos pioneiros. O livro celebra a linhagem de gente “calejada, valente, sanguínea, humilde e briosa” que, cruzando todos os mares e vencendo o Cabo das Tormentas (metaforicamente a dura vida), deu origem a uma identidade.

‘Quase Alguma Poesia’ é, portanto, a fusão bem-sucedida do rigor intelectual do jurista com a sensibilidade do poeta, oferecendo um livro essencial sobre as raízes, o destino e a esperança de um povo.

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