22/08/2023
Cotidiano Em Alta Guarapuava

Cemitério Central é um acervo vivo com memórias do Século XIX

Cemitério criado em 1849, guarda a memória de figuras históricas e exibe um patrimônio artístico-funerário único, incluindo jazigos maçônicos

Cemitério Central de Guarapuava (Foto: reprodução/Internet)

A história da morte e do sepultamento em Guarapuava acompanha a própria formação da cidade, revelando a transição de costumes religiosos para a organização municipal. O marco do primeiro cemitério oficial, o Cemitério Central Santa Cruz, remonta a 1849, com o sepultamento do Capitão-Mor Antonio Rocha Loures. Ele é considerado um dos principais nomes da Real Expedição Colonizadora e figura fundamental na fundação da Freguesia de Nossa Senhora de Belém.

No entanto, conforme pesquisa feitas pelo Portal RSN, antes de 1840, o costume era sepultar os falecidos em solo sagrado Isso geralmente ocorria no interior ou nas áreas adjacentes às igrejas. Em Guarapuava, o primeiro local conhecido para sepultamentos da então Freguesia ficava nos fundos da Catedral Nossa Senhora de Belém. Ali na esquina das atuais ruas Marechal Floriano e Coronel Saldanha.

Túmulo de 1889 (Foto: arte tumular)

Mas com o passar dos anos, conforme relatos de historiadores e do próprio Instituto Histórico de Guarapuava em redes sociais, sentiu-se a necessidade de um local definitivo e laico para o descanso eterno. Mas  apenas se consolidou anos mais tarde. Ao longo da década de 1880, em um movimento de organização sanitária e urbana, houve a exumação de todos os ossos sepultados atrás da igreja. Em seguida, transferidos para o novo cemitério municipal. Essas ossadas encontram-se depositadas em um poço ao lado da Cruz das Almas, no Cemitério Central.

Capela do Visconde Guarapuava (Foto: Hiroshi Sazaki)

Portanto,  o Cemitério Central de Guarapuava é reconhecido como o primeiro cemitério oficial do município. Tido como um patrimônio histórico, abriga os restos mortais de diversas figuras que moldaram a cidade. Fato que inclui o próprio Rocha Loures e o Visconde de Guarapuava (Antonio de Sá Camargo), cujas cinzas estão sepultadas na Capela Central.

TÚMULOS MAÇÔNICOS SE DESTACAM

Todavia, não se trata apenas desses. O Cemitério Municipal Central é um verdadeiro museu a céu aberto que reflete a história e as diversas correntes sociais e filosóficas que moldaram a cidade. Dentro deste espaço, é possível encontrar uma área que se destaca pela arquitetura e a intensa simbologia de jazigos: a seção que abriga túmulos maçônicos.

Embora os dados detalhados sobre um ‘setor maçônico’ específico mereçam pesquisas acadêmicas e visitas guiadas, a presença da Maçonaria no Cemitério Central é inegável e notória. O que se alinha com o protagonismo da instituição na história do Paraná. A Maçonaria em Guarapuava é antiga, com lojas como a Philantropia Guarapuavana fundada já em 1851, conforme o livro Philantropia Guarapuavana, das historiadoras Gracita Gruber Marcondes (in memorian) e Sulita Gruber de Abreu.

De acordo com a arquitetura, túmulos maçônicos se diferenciam pela incorporação de símbolos específicos que representam a crença, a filosofia e o grau dos membros. Assim sendo, é comum encontrar esculturas ou relevos de símbolos como o Esquadro e o Compasso, a Estrela de Cinco Pontas (Pentagrama) o Ramo de Acácia (símbolo da imortalidade), os Olhos que Tudo Veem (o Grande Arquiteto do Universo). E em Guarapuava, a Coluna Quebrada, representando a vida interrompida, surge como característica nas sepulturas maçônicas. Outro símbolo que marca a presença maçônica é que no portão de entrada do cemitério há um triângulo.

Cemitério Central de Guarapuava e parte do muro feito por escravos (Foto: reprodução/Internet

De acordo com fontes pesquisadas pelo Portal RSN, muitas das personalidades históricas que contribuíram para o desenvolvimento de Guarapuava, como empresários, políticos e membros da Guarda Nacional, pertenciam a lojas maçônicas. Os túmulos de figuras proeminentes do século XIX e início do século XX costumam ser os que exibem a mais rica simbologia.

A existência de túmulos maçônicos e de outras personalidades anônimas que permeiam a memória dos mais antigos, no Cemitério Central, reforça a importância da necrópole não apenas como um local de sepultamento. Mas como um registro histórico e artístico que conta a história social, religiosa e filosófica de Guarapuava.

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Cristina Esteche

Jornalista

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