22/08/2023
Geral

“Vou processar o João Napoleão. Não sou fantasma”, diz denunciante de Strechar

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O servidor que denunciou o escândalo da Câmara de Vereadores de Guarapuava e que culminou na “Operação Fantasma”, deflagrada pelo Gaeco e pelo MP e que resultou na prisão de Admir Strechar (PMDB), Pedro Roque Guimarães, diz que irá processar o presidente em exercício, João Napoleão (PSDB), por tê-lo acusado de “fantasma”. Roque foi demitido na última terça-feira (08), junto com mais 12 servidores e, em entrevistas à imprensa, João Napoleão, afirmou que seu primeiro ato como presidente seria “demitir todos os servidores “fantasmas” e denunciados pelo Ministério Público e pelo Gaeco”.

Roque tem em mãos uma declaração do Ministério Público, assinada pelos promotores Cláudio Cesar Cortesia, Mauro Alcione Dobrowolski e William Gil Pinheiro Pinto, onde o MP afirma que “o nome do referido servidor encontra-se mencionado nas Ações Judiciais ajuizadas como testemunha e vítima do esquema criminoso desenvolvido por alguns integrantes da Câmara de Vereadores de Guarapuava”. Ainda de acordo com o texto do MP, Roque “não se encontra denunciado, nem citado nas Ações Ajuizadas em face da “Operação Fantasma” com servidor fantasma do Legislativo Municipal”.

Conforme Roque, a sua demissão foi uma represália do atual presidente em exercício e ele exige retratação pública, além de uma ação por danos morais. “Por onde vou me chamam de “Gasparzinho”, ou de “Fantasminha”. Fazem chacota por ter sido demitido com os “fantasmas”. O caso está sendo levado a uma assessoria jurídica e exigiremos do João Napoleão tudo o que eles acharem cabível ao caso. Nunca fui “fantasma”. Sempre desempenhei meu papel e todos que trabalham na Câmara sabem disso”, afirma Roque.

Servidor

Pedro Roque Guimarães trabalhou na Câmara de Vereadores desde 10 de janeiro de 2000. Por dois mandatos foi funcionário do vereador Joel Iastkiu (antes PR e hoje no PSB). Joel não se reelegeu em 2008 e Roque foi convidado para trabalhar com o vereador Admir Strechar, no dia 02 de janeiro de 2009. “No início ele me ofereceu R$ 1.000,00 “por fora”, sem registro. Isso eu não aceitei. Então ele me ofereceu o cargo comissionado, desde que eu devolvesse todo mês R$ 1.000,00 pra ele. Pelas garantias trabalhistas acabei aceitando a proposta”, conta Roque.

O salário bruto do servidor era de R$ 2.300,00. Com os descontos, sobravam R$ 2.049,00. Desse valor, Pedro Roque ficava com R$ 1.049,00 e repassava mensalmente R$ 1.000,00 a Strechar.

De acordo com Roque, suas atividades na Câmara sempre foram desempenhadas junto às bases dos vereadores. “Meu trabalho era atender as pessoas. Fazia expediente tanto na Câmara quanto na base. Mas sempre trabalhei, nunca fui só buscar o salário”, desabafa.

Ele diz ainda que resolveu fazer a denúncia somente poucos dias antes de receber o salário de outubro, pago no dia 25. “Procurei por livre e espontânea vontade o Gaeco e contei a situação. Nunca fui pressionado. Tomei essa atitude por me sentir lesado todo mês, tendo que entregar o dinheiro pra ele (Admir Strechar) e ter que ver ele conferir na minha frente. Resolvi dar um basta nisso”, enfatiza.

Em 36 meses, os valores devolvidos por Pedro Roque ao então presidente da Câmara, Admir Strechar, chegam a cerca de R$ 40.000,00. “Minha vida e a vida da minha família estariam muito melhores hoje se eu não tivesse que ter devolvido esse dinheiro. Estaríamos numa situação mais equilibrada”, conta.

Segurança

Atualmente, Roque e sua família (ele tem 03 filhos, um casal mora com ele e a filha mais velha é casada) contam com proteção policial. “O Gaeco e o Ministério Público nos garantiram isso. Temo pela minha integridade física. Não sei o que pode acontecer, por isso estamos tomando muito cuidado”, acrescenta.

Com relação à denúncia, Roque afirma que “durmo melhor todas as noites com isso. Assim como tem pessoas que me criticam por ter “rachado” o salário, muitas pessoas me parabenizam pela atitude de ter denunciado e acabado com o esquema”.

Questionado sobre o porquê da denuncia, ele conclui dizendo que “através de um curso “Fé e Política”, da Igreja Católica. Lá, passei a ver o quanto a atitude do Strechar estava errada e que tinha que fazer algo para mudar isso. Fiz minha parte e me sinto bem com isso”.

Cristina Esteche

Jornalista

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