22/08/2023
Blog da Cris

PP barra apoio a Moro e sinaliza protagonismo próprio em 2026

Movimento expõe ruptura com o senador e evidencia o projeto político do clã Barros para construir candidatura própria ao Palácio Iguaçu.

Ciro Nogueira em entrevista coletiva em Curitiba (Foto: PP)

A passagem do presidente nacional do Progressistas (PP), senador Ciro Nogueira, pelo Paraná não foi apenas protocolar. Trata-se de um gesto político cuidadosamente calculado, com efeitos diretos sobre o xadrez eleitoral de 2026 no estado. Ao descartar publicamente a possibilidade de o PP homologar uma candidatura de Sérgio Moro (União Brasil) ao governo do Paraná, Nogueira selou um capítulo de tensões silenciosas que vinham crescendo nos bastidores. E mais do que isso: sinalizou que o partido quer, sim, protagonismo.

Nas palavras da deputada estadual Maria Victoria, que preside o PP no Paraná, “houve conversa, houve escuta, mas não houve consolidação”. A frase pode soar diplomática, mas esconde uma decisão estratégica: Moro não é, nem será, o candidato do PP.

VETO POLÍTICO

Cida Borghetti e MariaVictoria (Foto: redes sociais)

O recado é claro: o Progressistas não aceitará ser coadjuvante em uma eventual coligação que apenas repita o arranjo de 2022, quando Moro entrou no Senado com uma campanha baseada mais em imagem do que em raízes partidárias. O que se vê agora é uma tentativa de construção de um campo conservador paranaense sob hegemonia própria, e não mais terceirizado a outsiders.

O nome de Cida Borghetti, ex-governadora e mãe de Maria Victoria, foi mencionado como possibilidade. Também surgiram, com pesos e finalidades diferentes, Rafael Greca, Alexandre Curi e Guto Silva,  este último, apontado pela deputada, como eventual “candidato de Ratinho Junior”. A leitura é evidente: o PP quer ser consultado, quer espaço real e, se necessário, pode ir sozinho.

RICARDO BARROS, O CACIQUE COM VOTO ATIVO

Ricardo Barros (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ricardo Barros, líder incontestável do PP no estado,  e tido como a verdadeira força motriz do PP no Paraná, também foi direto. De acordo com Barros, Moro não conseguiu adesão no partido. E o que está em jogo não é só o nome do ex-juiz, mas o que ele representa, um projeto pessoal que ainda sofre para se articular coletivamente.

É sabido que Barros mantém boas relações com figuras do centro e da direita tradicional, mas não se entusiasma com o messianismo político de Moro, tampouco com sua falta de capilaridade partidária. Em outras palavras: não há espaço para aventureiros em um projeto que o PP quer conduzir com as próprias rédeas.

MORO CRESCE NO CONTRA-ATAQUE?

Sergio Moro (Foto: reprodução/redes sociais)

Por outro lado, a leitura feita por aliados de Moro no União Brasil aponta que o isolamento pode favorecer sua candidatura. “Quanto mais torcerem contra, mais ele se aproxima do primeiro turno”, disse uma fonte a este blog.

A frase mostra que Moro aposta no efeito bumerangue. Ou seja: ao ser rejeitado pelas elites partidárias, pode se apresentar como outsider novamente. Uma estratégia que já funcionou uma vez. A diferença é que, agora, o eleitorado conhece os limites dele como articulador político. O discurso anticorrupção sozinho não garante eleição majoritária, e a rejeição silenciosa de partidos-chave como o PP fragiliza o entorno dele.

E AGORA?

Diante do veto explícito do PP à candidatura ao governo do Paraná, o senador Moro se vê forçado a redefinir a atuação política nos bastidores e no discurso público. Isolado das principais máquinas partidárias locais, ele ainda mantém capital eleitoral. Entretanto, enfrenta o desafio de construir viabilidade sem o apoio orgânico de estruturas tradicionais, como o grupo de Ricardo Barros, que domina amplamente o Progressistas no estado.

MORO DIZ QUE É CANDIDATO

Em nota enviada a este blog, o presidente nacional do União Brasil, Antinio Rueda, reafirma a candidatura de Moro ao Governo do Paraná. “O União Brasil tem o Senador Sergio Moro, líder absoluto em todas as pesquisas, como pré-candidato ao Governo do Estado do Paraná e irá insistir na homologação da candidatura”. A intenção, conforme o UB, é de dialogar com o Progressistas no âmbito da Federação, “buscando o melhor para o Paraná e também para Federação. A imposição de vetos arbitrários é inaceitável”.

DISPUTA CONSERVADORA JÁ COMEÇOU

O movimento de Ciro Nogueira ao lado dos Barros não é apenas sobre Moro. É sobre quem vai liderar a frente de direita no Paraná em 2026. É sobre quem será o interlocutor de Ratinho Jr., de Bolsonaro, do centrão, da elite econômica local e do eleitor conservador. O PP quer se posicionar antes que o União Brasil, ou o próprio PL, o faça.

O veto a Moro, portanto, é mais que uma negativa. É uma afirmação de que o Progressistas não quer ser puxado por ninguém. Quer puxar.

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Cristina Esteche

Jornalista

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