22/08/2023
Segurança

Casos insolúveis se tornam herança de um ano para outro

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De acordo com a delegada-chefe da 14ª SDP, Maritza Haisi, mesmo com o passar do tempo
casos não elucidados não são arquivados. Só neste ano cinco homicídios já foram registrados

Levando-se em conta que quanto mais o tempo passa desde o momento do crime mais difícil fica a investigação, a tendência é que o número de inquéritos policiais abertos só vá aumentando, formando um enorme amontoado de casos insolúveis. Assim, assassinatos sem autoria conhecida se tornam uma espécie de herança de um ano para o outro.
No início de 2009 cinco casos de homicídios já foram registrados, quatro em janeiro, índice alto se comparado aos 15 casos ocorridos durante o ano passado. “Dos cinco homicídios, dois já têm autoria identificada. No caso do morador de rua morto por espancamento, sabemos que os responsáveis foram outros moradores de rua, mas não temos ainda uma individualização da pessoa, pois não têm documentos e normalmente são conhecidos por apelidos. O caso mais complexo é o do garoto morto próximo à sua residência com disparo de arma de fogo, numa execução, pois aconteceu de madrugada, ninguém viu nada e a família diz que ele tinha bom comporta-mento”, comenta a delegada chefe da 14ª SDP, Maritza Haisi (foto).
Segundo ela, quase todos os homicídios registrados em 2008 foram elucidados. “Temos ainda o que aconteceu na virada do ano com uma professora, mas estamos investigando e já temos boas pistas. Estamos com força total nesse caso para conseguirmos sua finalização”, aponta. Maritza se refere ao crime que teve como vítima a professora Laurete Aparecida Roessler Mi-randa, encontrada morta numa vala na Colônia Vitória, distrito de Entre Rios, após desaparecimento na noite de 26 de dezembro. O corpo foi encontrado na manhã do dia 30 com sinais de espancamento.
“Nenhuma investigação é arquivada, pois são crimes contra a vida. Um exemplo foi a elucidação no ano passado de um caso ocorrido em 2007 que achávamos muito complexo, pois a vítima morava sozinha, não tinha amigos ou familiares que pudessem dizer se ele tinha problemas de relacionamento com alguém. O rapaz havia sido encontrado na casa onde morava, foi morto por estrangulamento (estava com um arame e um saco plástico amarrado no pescoço). Associando a outro crime conseguimos elucidar. Além de toda técnica que a polícia tem, que nós somos formados e treinados para isso, contamos também com a sorte”, observa.
Investigações
A delegada ressalta que cada fato a ser investigado tem uma característica própria, mas que a espinha dorsal de uma investigação busca dar resposta à seguinte pergunta: quem, quando, onde e por quê?
A primeira fase de uma investigação é o registro do boletim de ocorrência. Depois surgem os exames periciais, para que não se perca o corpo de delito, e as provas testemunhais. “Mandamos as equipes a campo para colher essas informações. A partir do momento que a investigação vai caminhando e à medida que novas provas vão surgindo, o delegado vai delineando o rumo do caso. Às vezes depende muito de polícias de outros estados, algumas vezes a própria equipe de Guarapuava é deslocada para outros locais para fazer a investigação”, explica.
A polícia não divulga o número de investigadores policiais que trabalham atualmente na cidade, devido à segurança das investigações e dos próprios policiais. Mas devido ao acúmulo da demanda geral da delegacia, “eles não fazem apenas investigações, acabam cuidando também dos presos, pois hoje a cadeia está com 249 presos”.

Confira alguns dos crimes ainda não elucidados:
EDSON RUNDBUCHNNER
Continua sem explicações o caso do empresário Edson Rundbuchnner, 56 anos, desaparecido no dia 6 de outubro de 2006. Em entrevista à Tribuna na época, a esposa Raquel de Fátima Martini contou que ele saiu de casa nesse dia, por volta das 18h15, dizendo que iria sair com César José de Moraes, seu sócio numa empresa de reciclagem de lixo na Vila Bela.
Vestiu roupa escura, pegou uma lanterna, deixou documentos e dinheiro sobre a geladeira e falou que iria arrumar um caminhão. Nunca mais apareceu e nem deu notícias.
No dia seguinte, 7 de outubro, César teria ligado na casa do sócio perguntado por ele. Contou a Raquel que no dia anterior, tinha entrado em contato com Edson para que fossem jantar na Colônia Vitória e que o teria deixado na frente da casa às 22 horas.
No dia 30 de novembro, César José de Moraes teve início a prisão temporária para investigações.
MARCELO PETROSKI
O jovem foi espancado na virada da noite do dia 30 para o dia 31 de dezembro de 2004, na Rua Marechal Floriano Peixoto, centro de Guarapuava. Chegou a ir para o hospital, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos.
Testemunhas contaram que Marcelo teria ficado na casa de uma menina até a meia-noite e depois foi visto com um colega na Rua XV de Novembro. No entanto, junto com mais dois jovens, teria participado de uma tentativa de furto de aparelhos de cd´s de carros estacionados num hotel no centro da cidade. Funcionários do estabelecimento teriam corrido para pegar os rapazes e um grupo de adolescentes que passava pelo local teria entrado na briga. Um jovem foi preso, outro fugiu e Marcelo acabou sendo agredido.
Um ano e oito meses depois do crime, a família de Marcelo chegou a colocar outdoors e distribuir panfletos com o intuito de buscar informações e não deixar que o caso caísse no esquecimento. “Quanto mais o tempo passa é maior o sofrimento”, disse o pai na época, ao jornal.
TIAGO ESTECHE ROCHA CORDEIRO
Tiago foi morto na madrugada do dia 21 de abril de 2004. Ele foi assassinado com um tiro na clavícula esquerda. O corpo foi encontrado quase dois dias após o desaparecimento, sem roupas e jogado à beira da Serra do Cadeado, acesso estadual ao distrito de Entre Rios. Possuía ferimentos, principalmente no rosto, e cabelos com marcas de fogo.
A maioria dos depoimentos aponta para a homossexualidade da vítima e possíveis envolvimentos como garoto de programa.

SERVIÇO:
A população também tem um papel importante e pode auxiliar as investigações repassando qualquer fato ou informação que souber, sem precisar se identificar. Para isso, basta ligar gratuitamente para o numero 197

Cristina Esteche

Jornalista

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