No primeiro dia de pagamento do Bolsa Família em junho, um mês após os boatos que causaram tumulto em 13 estados, a Caixa Econômica Federal promoveu um reforço de equipe e de dinheiro para prevenir eventuais confusões nas agências.
Na Bahia, estado com o maior número de famílias veiculadas ao programa, dois gerentes foram escalados por agência para dar orientações às famílias do programa.
Hoje foram liberados os saques aos beneficiários com o número do cartão terminado em "1".
A orientação de hoje, vinda de Brasília, foi para que os funcionários das agências tivessem uma "atenção especial" ao Bolsa Família.
Em Salvador, era isso o que acontecia no final da manhã na agência da Caixa em Cajazeiras, um dos bairros mais populares da cidade.
Apesar das filas, o atendimento era normal, segundo a dona de casa Tatiana Sampaio, 31, que sacou seus R$ 178 "sem problema".
Já quem tentou antecipar o valor, como aconteceu em maio, quando houve os tumultos, não conseguiu. "Vim em vão", disse a aposentada Josenadiva da Silva, cujo cartão termina em "7".
Ela apostava em um "novo erro da Caixa", mas, segundo o calendário oficial, somente poderá sacar o benefício no próximo dia 25.
Em Curitiba, o clima era de tranquilidade nas agências visitadas pela reportagem. Na tela dos caixas, uma mensagem para evitar novos boatos: "O Bolsa Família continua obedecendo o mesmo calendário de pagamentos".
Em maio, entre os boatos que causaram tumultos e quebra-quebra em agência e lotéricas estavam o possível fim do programa e o pagamento de um benefício extra relativo ao Dia das Mães.
Investigação
Após depoimentos de mais de 200 pessoas, o inquérito da Polícia Federal que investiga os boatos sobre o Bolsa Família não conseguiu comprovar ação orquestrada até agora. A apuração deve terminar até o final deste mês.
Foram ouvidos técnicos e beneficiários do programa, que relataram várias versões.
Segundo investigadores consultados pela Folha de S.Paulo, até sexta-feira, a PF havia encontrado apenas um ponto em comum para o início dos saques: a antecipação do pagamento pela Caixa Econômica Federal.
A principal hipótese é a de que os erros do banco federal teriam precipitado os saques. Policiais acreditam, contudo, que é remota a hipótese de indiciamento de representantes da Caixa. Cem testemunhas ainda serão ouvidas.
Como a Folha de S.Paulo mostrou há duas semanas, o pagamento antecipado de todo o Bolsa Família tornou-se a principal linha de investigação da PF.
Os beneficiários do programa estavam acostumados a uma rotina de pagamento. A mudança, com todos os 13 milhões de benefícios disponíveis em 17 de maio, sem nenhum escalonamento, teria ajudado a espalhar os boatos, que provocaram corrida aos caixas eletrônicos em 18 e 19 de maio.
Em um primeiro momento, a Caixa informou que liberou o benefício após a confusão provocada pelos boatos.
Após a Folha de S.Paulo revelar que dona de casa da região metropolitana de Fortaleza (CE) conseguiu retirar dinheiro de forma antecipada, o banco admitiu que houve mudança no calendário de repasses na véspera do tumulto.
A conclusão preliminar da PF contradiz o discurso político inicial do governo. PT e ministros disseram que a oposição seria a responsável por uma ação para espalhar os boatos.
Após o tumulto, o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo programa, que atende 13,8 milhões de famílias, informou que estabelecerá um serviço de envio de mensagens aos beneficiários que têm celular.