22/08/2023

É Natal!

Não sei se era a pureza da infância, o fato é que o Natal de antigamente era mais fraterno, mais espiritual, o dia de receber o presente sonhado o ano inteiro. Mesmo sendo crianças, não almejávamos grandes coisas, uma bola de "capotão" (de couro), no máximo uma bicicleta. As meninas se contentavam com uma boneca nova. Eram sonhos possíveis de serem realizados, porque se o objeto fosse muito caro, Papai-Noel passava dando tchau e não chegava. 

Valia a pena tanta espera porque havia Ceia de Natal, à meia-noite, com a Missa do Galo. A família reunida – tios, primos, parentes distantes que se aproximavam – e uma mesa farta. Em seguida, o Bom Velhinho desembarcava com seu trenó, deixando os presentes junto à árvore natalina. 

Eu e meus irmãos fomos criados dentro dos ditâmes do catolicismo, orientados por nossa mãe, Olympia, e nossa avó paterna,  Aurora, praticamente todos passando pela Legião de Maria. Os meninos foram coroinhas. Eu, em particular, auxiliei um sem-fim de missas e cheguei à acólito. Aos 11 anos, fui arrebanhado para o Seminário do Santíssimo Redentor em Ponta Grossa, mantido pelos Redentoristas. As missas e as aulas eram em português. De resto, os padres só se comunicavam conosco em inglês. Nossas atividades começavam às 6 da manhã e só terminavam às 9 da noite, ininterruptamente.

A simbologia do Natal está ligada a essas lembranças e ao significado familiar. Vivemos hoje numa sociedade automatizada, onde crianças de colo são entretidas com Ipad, a chamada "geração digital". Perde-se muito do contato humano, da troca, da solidariedade, bases da fraternidade cristã e dos mandamentos que a Bíbila atribui a Jesus Cristo. A tecnologia que aproxima pelas ondas cibernéticas, afasta o magnetismo gerado pela vibração das células. 

Vai chegar um momento em que o ser humano não irá suportar tanta frieza, tanta alienação e terá de redescobrir o valor que existe na simplicidade da vida. De se encontrar na praça, de jogar bola com os filhos, de reunir os amigos para uma "festinha americana" (cada um leva o que vai comer e repartir com todos), de um chimarrão na frente da casa. 

Natal é sinônimo de família. E até Karl Marx, pai do comunismo, definia a família como a "única sociedade privada". Preservando a unidade familiar, a grande família Universal principalmente, a essência do Natal estará salva.

Cristina Esteche

Jornalista

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