22/08/2023

Alice Munro ao som de Billie Holiday ou: quando a leitura tem trilha sonora.

imagem-71281

‘I know our love will linger

When the other love forgets

So I say goodbye with no regrets’

A primeira vez que li seu nome foi na notícia do anúncio do Prêmio Nobel de Literatura de 2013, concedido à escritora canadense Alice Munro. Logo em seguida, me dei conta de que o fato de uma mulher ser laureada com o reconhecimento máximo em sua área causou mais comoção do que foi verdadeiramente inédito: a primeira vez na história em que o prêmio foi concedido a um escritor de contos.

O livro Ódio, Amizade, Namoro, Amor Casamento é composto por 9 contos que giram em torno do cotidiano de personagens medianos e seus questionamentos, memórias e decisões [afinal, quem escapa dessas questões?], tendo como pano de fundo cidades do interior do Canadá. Além disso, têm em comum a mesma sensação de amargura suave, envoltos em um tédio quase palpável ou em amores não utilizáveis – resultando em textos bem escritos, com destaque para o delicado e melancólico Urtigas, e os precisos Queenie e Mobília de Família.

Se o conjunto não pode ser descrito como um banquete vibrante, o primeiro conto [que dá nome ao livro] reforça esta impressão, oferecendo uma entrada insossa. De forma geral, é um livro que pode ser bonito – convém confessar que chorei copiosamente em alguns dos trechos, tamanha destreza da autora em ver o recôndito e traduzir sutilezas, mas talvez eu esperasse mais da Alice e de seu feito inédito para um gênero literário que tem relativamente pouco alcance e muito do meu apreço.

Contudo, para mim, o que faltou enquanto passeava pelas páginas foi deslumbramento: se na vida real deslumbrar-se é coisa rara, na literatura eu espero que seja um acontecimento inequívoco.

Ps1: Prefiro ler em silêncio, mas casou que eu andava numa fase jazz e o encontro de trilha e livro simplesmente ornou: Lady Day tem o mesmo tom elegantemente nublado e melancólico dos textos.

O trecho da legenda da foto é desta música aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=7F5Cw2AEyQo

Mais um pouquinho? https://www.youtube.com/watch?v=i3VWKEtkgBY

Ps2: Por falar em chorar copiosamente, senti muito a morte do Gabriel García Márquez, meu querido Gabo [em minhas divagações, maquinava encontrá-lo em Cartagena das Índias quando, ao abordá-lo, me apresentaria como Amaranta!].

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

Este post não possui termos na taxonomia personalizada.

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

Pular para o conteúdo