Distorcendo a realidade, ou não

Uma fotografia pode distorcer a realidade em função da intenção do fotógrafo ou da pauta fotográfica (no caso do fotojornalista) e não só. A apresentação do momento, da pessoa, lugar, evento ou ideia pode ser repassada de diferentes formas e geralmente muito do referencial cultural, social e humano do profissional está embutido nisso. Portanto aquele fragmento (foto) é apenas um ponto (manipulado ou não) da realidade.

O fotógrafo tem o poder de, através de sua perspectiva literal, incluir ou excluir elementos relevantes que irão determinar a mensagem a ser passada. E aí que entra a composição e o senso de ocasião e o fato de se distorcer ou não uma realidade.

Quanto mais analisar imagens, mas senso crítico e olhar treinado terá. Isso o ajudará, e muito, na hora de compor suas próprias imagens. Somos todos contadores de histórias e nossa bagagem individual irá interferir, queiramos ou não, em nossas composições.

Esta imagem especificamente foi produzida em 2006 na Estação Férrea da Ria Formosa de Faro, em Portugal. Na ocasião esta jovem completava 15 anos. Brasileira, estava aprendendo a lidar com o preconceito de boa parte dos portugueses que viam (e alguns ainda veem) as “raparigas” do país irmão como muito irreverentes, “atiradas”, destemidas. Este senhor da imagem lhe “atira” literalmente um olhar questionador, já que esta imagem pode ser analisada de inúmeras formas. Eu estava lá registrando a cena e posso lhes garantir que conversei com este senhor português segundos após este registro, que me disse o seguinte: “Acho graça nestas miúdas que fazem poses para as câmeras. Mal sabem elas que a juventude passa mais rápido que o pensamento”.