22/08/2023

A oportunidade está aí para ser aproveitada

Em período eleitoral, sempre foi assim, o cerco se fecha. Como bem lembrou meu co-orientador de outros tempos, quando o assunto é 'redes sociais e política', o que mais se vê é: “petista só tem amigo petista, tucano só tem amigo tucano, evangélico só tem amigo evangélico. Os usuários, irritados, param de seguir no Facebook quem pensa diferente”. De fato, temos com qualidade alguns dias para ver o desfecho deste momento importante e todos estamos perplexos com os últimos acontecimentos, com as últimas pesquisas, com os últimos debates e com as últimas opiniões ( mesmo as intoleráveis e inaceitáveis ), seja na imprensa ou nas redes sociais. Assim, pensando em macro-ideias dá para concordar com seguinte caldo: quando o assunto tem a ver com eleições presidenciais, para o eleitor, o que conta é menos a capacidade administrativa e mais  o sonho e a perspectiva que contagia e que faça com que o brasileiro sinta vontade de acreditar mais uma vez em alguma coisa. Como lembrou um estudioso da política que conhece a história e suas nervuras,  em 1994 FHC representou a estabilidade econômica. Contagiou e levou. Todavia este grupo não soube fazer a leitura correta nos anos seguintes, em especial no segundo mandato e abriu-se espaço para uma nova ruptura. Passamos então para um novo ciclo e novas exigências. Em 2002, depois de várias tentativas, Lula convenceu a todos de que precisávamos de mais igualdade e justiça social. Contagiou e levou. Agora, percebe-se que quer-se mais e o que parece estar contagiando a muitos, apesar de algumas incongruências, é o sentimento de que a sociedade quer a recuperação do Estado como coisa verdadeiramente pública, sem o aparelhamento de um partido, de um grupo. Se neste período, nestes últimos dias, os três protagonistas maiores tocarem nesta questão com propriedade, o cenário estará aberto para o incerto. Não se trata de subversão, mas sim de sobrevivência. Alguém precisa fazer algo novo com competitividade. Penso que dá para superar a máxima: “não posso agir de outro modo”. Esta ideia retrógrada do destino precisa ser deletada. Acreditem, sem bússola estaremos perdidos. Para dirigir um País com quase 200 milhões de habitantes é preciso considerar nossa existência. Nossa existência ainda conta, afinal 'ainda' somos uma potência econômica e estamos no cenário mundial, mas mais que isto, somos incondicionalmente 'seres humanos sobreviventes' que temos esperança de dias melhores.

Sempre há algo para melhorar. Como bem escreveu Weber, “não morremos saciados da vida”, pois sempre queremos mais. Não podemos conhecer tudo que queríamos conhecer, ver tudo que queríamos ver, fazer tudo que queríamos fazer, obter tudo que queríamos obter. O Brasil não pode sumir.

Apesar de nossa insatisfação generalizada e, em vista das possibilidades existentes, dá para errar menos (que cada um de nós faça bom uso desta máxima). Será tolice cruzar os braços e esperar as coisas acontecerem naturalmente. O momento exige uma movimentação diferente.

Quando o assunto são as eleições para o Congresso e para a Assembleia Estadual e os nomes que estão postos, a coisa é mais complexa.

Acredito que devemos enfrentar o contexto. Entender o Brasil, o Paraná, nossa cidade, as instituições políticas fora do raio de ação de pessoas é uma forma de agir diferente. Os que iniciam este processo tem que considerar seriamente o seguinte problema: como se pode abrir um novo espaço e como se poderia proceder ao abri-lo? Os iniciadores de novos projetos vão enfrentar problemas e, certamente, tendências opostas e até mesmo resistências dos mais próximos que preferem ficar na menoridade a agir com autonomia.

É difícil concorrer contra os que já estão e que querem continuar fazendo exatamente o que sempre fizeram. Eles têm retórica, manipulam fatos, omitem informações e enfatizam outras, apelam ao emocional, além de fazerem farto uso do poder econômico. A desvantagem é assustadora. Quando pessoas propositivas iniciam a abertura de um novo espaço devem esforçar-se para não decepcionarem aqueles que acreditam na oxigenação necessária. Tenho sentido na pele que entrar em qualquer coisa nova é sempre uma experiência que pode trazer frustrações, mas também o risco de dar certo. Não saberemos se não tentarmos.

É difícil tolerar tanta lavagem que destilam por aí. Mesmo assim, o exercício do contrapelo nos pede a sentença de Norberto Bobbio que não economizou na expressão de que ‘todas as ideias devem ser toleradas, mesmo aquelas que negam a ideia mesma de tolerância’.

Este trabalho consome tempo e exige muita responsabilidade. Um dos caminhos menos perigosos é ir pelo atalho, pelas brechas, crescendo sem aparecer muito, para então, no momento certo, expor-se por inteiro.

Precisamos dar mais poder à palavra e à crítica. Renato Janine Ribeiro não só corrobora com isso como nos alerta: “se a palavra não ameaça o poder, é porque a ela falta poder”. Acrescentaria, é porque além da falta de poder, temos também a falta de leitores e disseminadores desta semente. O alcance da palavra não pode ser pequeno, pois a boa palavra e a boa análise tem potencialidade para gerar uma sociedade melhor.

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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