22/08/2023
Cotidiano

“Quero recuperar tudo o que perdi”, dizem dependentes químicos

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João Carlos Schmidt, 33 anos, é engenheiro eletromecânico, já viajou o Brasil trabalhando em obras. Ele saiu de casa aos 17 anos para trabalhar, se formou, teve  bons empregos, casou e teve  dois filhos que hoje residem no Rio Grande do Sul. Porém, as conquistas acumuladas ao longo dos anos escaparam pelas próprias mãos a cada vez que enchia um copo com bebida alcoólica e sorvia gole a gole. “Dois litros de vodca para mim eram pouco numa balada”, diz.

+ Instituto trabalha na recuperação de dependentes químicos em Guarapuava

João conta que os primeiros goles   dão sensação de prazer, depois você vai esquecendo da própria vida, da família. “Só pensa em pegar a garrafa vazia e sair correndo para encher”.

Enquanto o tempo ia passando, João ia sendo sugado pela bebida  até que veio morar no Bairro Conradinho em Guarapuava e encontrou o Instituto Amanhecer Sem Fome. “Antes que me acabasse resolvi pedir ajuda, pois quero retornar à minha vida”, afirmou.

Há dois meses sem beber, após vencer os desafios dos primeiros dias de abstinência, que “são terríveis” a conquista agora é encarar mais quatro meses de tratamento. “O pior já passou. Nos primeiros dias quando tudo ainda é novidade você uma sensação boa, até que vem a fissura, a ansiedade, a sudorese”. A superação veio por meio do atendimento psicológico e espiritual, mas acima de tudo por não querer decepcionar a si próprio e aqueles que confiaram nessa superação. “É um desafio, mas que vou vencer”, assegura.

Primeiro veio a fama conquistada como jogador de futebol de times como o Atlético Paranaense, o Londrina, o Paraná Clube e outras equipes de renome. Em seguida se somaram mulheres bonitas, pagode e as baladas noturnas. A vida de glamour, porém, começou a declinar quando começaram as lesões nos joelhos, seguidas por várias cirurgias, até chegar o fim da carreira futebolística. Então, começou a depressão e chegou a cocaína, seguida pelo crack.

“Eu era uma pessoa pública e chegar à cocaína foi muito fácil, porque as pessoas me ofereciam e para fugir da depressão eu aceitei”. De acordo com Gilmar Rogerio Ribeiro, de Campo Mourão, a cocaína é estimulante, “dá uma sensação falsa de euforia, enquanto o crack te leva ao pânico e você vai fumando para fugir dessa sensação. O poder viciante do crack  é muito grande”.

Dizendo ter recebido uma educação muito boa, ser de excelente família e sem nunca ter tido problema com a Justiça, mesmo assim Gilmar sofreu com o preconceito. “Se você não tiver  estabilidade você acaba caindo na marginalidade, pois a própria sociedade te empurra”.

Contando com o auxílio da mãe para sair do vício, Gilmar está no Instituto Amanhecer sem Fome há nove meses. Ontem, quarta feira (26) ele recebeu alta do tratamento, mas vai continuar trabalhando como voluntário. Casado há seis meses, jogador do Cruzeiro na categoria veterano, Gilmar está reconstruindo a sua vida em Guarapuava. “Tenho um projeto de futebol para desenvolver nos bairros, aliando o esporte, a minha história de vida e a espiritualidade. Só quero ter essa chance”. Ele já é diácono na Comunidade Cristo é Verdade.

"Deus, minha mãe e minha namorada são os meus pilares"

Ele sentou em frente ao portão do Instituto Amanhecer sem Fome às duas horas da manhã de ontem, quarta feira (26), e esperou amanhecer o dia para pedir ajuda.

Jean tem 26 anos é dependente de crack, droga que fumou pela primeira vez  oferecida por um primo, há seis anos. Ele prefere não revelar o seu sobrenome por ser de uma família tradicional de Guarapuava.

“Fumei uma vez e não parei mais. Faço isso para fugir dos problemas”, disse à Rede Sul de Notícias. Jean já esteve internado há nove meses, mas quando saiu desafiou a droga. “Quando eu vi eu estava na ‘boca’ em busca do crack. Comecei indo num dia e faltando dois ou três e quando percebi estava atolado”.

Assim como  os demais, Jean diz que desta vez quer mesmo mudar de vida. “Quero recuperar tudo o que perdi. Deus, minha mãe e minha namorada são os meus pilares”. 

Cristina Esteche

Jornalista

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