22/08/2023
Guarapuava

A desfiguração do Parque Jordão

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O Parque do Jordão possui algo de transcendência com seu nome bíblico. Nome sabiamente conferido ao rio tingido pela primeira vez com sangue em 1772 quando cinco soldados da Expedição Afonso Botelho foram trucidados pelos índios Xokleng, sobre suas águas. O primeiro batismo de sangue, no rio Jordão.

Hoje, surpreendentemente, a margem direita deste está sendo mutilada. Árvores plantadas e as nativas que enfeitavam essa margem foram arrancadas pelas grandes máquinas a serviço de pessoas que são ignorantes ou se julgam acima do superior interesse público. Seja como for, o crime está sendo consumado com a mutilação da beleza natural pertencente ao município e que foi no passado, por mim destinado, à recreação popular.

Toda a agressão à natureza, além de ofensiva ao ser humano, ofende também a Deus. Um parque reservado para usufruto coletivo é um santuário que precisa ser respeitado, conservado, para os raros momentos de recreio em convivência com as belezas naturais.

O Parque do Jordão é também um santuário popular com a mística fonte do monge João Maria, sob a rústica capelinha de pedra. O parque é amplo: campo de futebol, pista de corrida de cavalos, pista de MotoCross e locais de convivência familiar e religiosa, sob a sombra das árvores que ali ainda existem.

Não pode passar despercebida, a poesia de diversas aves que ali fazem seus ninhos e procriam, completando a harmonia natural desse logradouro.

Acrescendo às considerações já feitas, há de se salientar o incrível procedimento de raspar as margens empurrando terra ao leito do rio, além da intenção de desviar seu curso normal, que dá beleza ao ambiente, em benefício de um interesse particular.

Entendo que ganância deve ter limites, e que o seu limite é o bem comum social.

Aos 88 anos de idade, dos quais 60 foram dedicados à vida pública, ainda mantenho viva a disposição de manifestar-me, diante de injustiças, mormente dessas tão flagrantes em que a ganância não se rende ante os princípios do bem comum.

Volto a dizer que o Parque do Jordão é um santuário de beleza natural, pertencente ao município com seu povo, principalmente os mais humildes que não dispõem de outros momentos de lazer. E que agora está sendo mutilado com a fúria de ganâncias ilimitadas.

Por estas razões recorro ao Prefeito, ao Ministério Público, à Câmara Municipal, e às pessoas de bem a quem o parque pertence.

(*) Nivaldo Kruger é fundador do Parque Recreativo Jordão. Foi vereador e prefeito de Guarapuava, deputado estadual e federal, além de suplente de senador.

As recentes fotos do Parque do Jordão foram feitas pelo guarapuavano Osiris Martins, que gentilmente nos cedeu as imagens.

 

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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