22/08/2023
Guarapuava

A pena de morte foi liberada na Internet

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"Seo José" morava em uma localidade do interior de Marechal Cândido Rondon. Era uma pessoa reservada, de poucos amigos e muito pouco amistoso.

O passatempo de Seo José era procurar cobras cascavéis e as levar para casa, onde as deixava soltas em um cercado especial ao redor da sua casa.

Eis que, nos idos de 1993, uma das cobras atacou uma pessoa que ousou entrar no terreno do Seo José. Ficou mal, mas foi medicada e não morreu.

Nada houve, pois foi uma fatalidade e poucas pessoas ficaram sabendo do caso. Entre estas pessoas, este humilde jornalista.

E se fosse hoje? E se a internet estivesse "a mil" em 1993 e o caso se tornasse público? Seo José seria sacrificado nas redes sociais, com centenas de penas de morte decretadas.

Os tempos são outros. a comunicação está muito rápida, ágil e, por isso, temos que filtrar as informações que recebemos. 

Durante décadas a pena de morte vem sendo discutida no Brasil. Há contrários e favoráveis, mas pela complexidade da situação, ainda não se chegou a uma conclusão.

Porém, na Internet a pena de morte está liberada. Se eu for tratado mal em um estabelecimento, posso me esconder atrás das minhas teclas da Justiça e decretar a morte do vendedor, ou empresário, ou sei lá quem. Se prenderam alguém que eu nem sei quem é e sei lá porque, meu teclado da Justiça decreta a sua pena da morte.

E assim vai.

Estamos num momento de transição e não sabemos onde vamos chegar. Mas um limite é necessário, e urgente. 

Não consigo entender como alguém em sã consciência comemora a morte de outra pessoa, de um ser como ele, de um semelhante. Simplesmente, não consigo.

A morte é o fim, não é punição.

Quando um pai grita no trânsito para outro motorista "morra seu fdp" e o seu filho está ao seu lado, a criança adquire aquilo como uma verdade. E "morra" passa a fazer parte do vocabulário daquela criança. 

A morte está banalizada.

Aos que usam o teclado da Justiça para punir os "malfeitores", tente escrever coisas boas, falar sobre algo produtivo e que possa contribuir para a construção de um mundo cada vez melhor para todos.

MAIS AMOR, MENOS ÓDIO!

 

Cristina Esteche

Jornalista

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