22/08/2023
Cotidiano

A sensibilidade que resgata vidas em Guarapuava

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Lizi Dalenogari, da Redação

Histórias como a de Sheila e da mãe Elza precisam se tornar comuns o mais rápido possível e para isso duas palavras são essenciais: sensibilidade e humanidade. “Faço um apelo a todas as mães que hoje estão passando pelo que passei: não desistam dos seus filhos. O amor é maior que tudo. E aqui em Guarapuava podemos contar com o amparo de “anjos” que nos escutam, nos dão força e nos garantem que não estamos sós e que ainda existe gente humana e sensível neste mundo”, destaca Elza de Lima, mãe de Sheila, limpa há mais de um ano do vício do crack. Hoje ela trabalha, reconquistou a guarda do filho e a confiança da mãe. Os três voltaram a ser uma família.

Elza confessa que já não tinha mais forças para lutar. A única fagulha de esperança vinha do sorriso do neto que também sofria com a doença da mãe, tão jovem e engolida pelo vício. O pequeno, então com cinco anos incompletos, chegou a implorar para que a mãe parasse com “aquilo”. “Quando fui apresentada para o Giovani, do Departamento da Prefeitura, foi como se um bálsamo tivesse caído sobre mim. Ele nunca deixou de atender uma ligação minha. Lutou por mim e por minha filha e principalmente pelo meu neto. Não permitiu que tirassem meu neto de nós. Ele nos olhou como pessoas e não como estatística. Quero um dia perdoar a mulher que tentou tirar meu neto de mim. Já estávamos fragilizados e ainda queriam me tirar a única razão para continuar lutando?”, desabafa Elza.

Hoje Sheila comemora ao lado da mãe e do filho cada dia de superação. “Sou ciente de que a minha doença não tem cura, mas tem tratamento. E é este tratamento, com doses cavalares de amor e encorajamento, que me fazem vencer um dia de cada vez. Nasci de novo. E minha família renasceu comigo”, declara a jovem.

Sheila é uma mulher linda, com um sorriso cativante. Quem a vê hoje não consegue imaginar por tudo que passou. “Vencemos esta guerra bem vencida. Eu olho pra ela e só agradeço a Deus e aos anjos que Ele me enviou. E nunca vou deixar de dar testemunho e encorajar mães em pleno desespero porque sei por que elas passam.

O APOIO

O enfrentamento da equipe do Departamento de Políticas Públicas sobre Drogas de Guarapuava, que age na prevenção, combate e recuperação de dependentes químicos, tem servido como política modelo para outras cidades brasileiras há pouco mais de dois anos. “O que acontece hoje em Guarapuava não se vê semelhante em nenhum lugar do estado, e digo com tranquilidade que é exemplo para todas as cidades do país. Aqui acontece um trabalho descentralizado que inseri num mesmo propósito as secretarias de saúde, assistência social, esportes. Esta é a verdadeira política pública, que trabalha em rede e não de forma individualizada”, afirma o médico Carlos Alberto Peixoto Baptista, um dos coordenadores do Departamento Estadual de Políticas Públicas Sobre Drogas.

“Esta é a primeira vez que uma administração municipal encara essa responsabilidade de atendimento psico-social, contratando equipe multidisciplinar. Hoje muitos municípios estão se espelhando em nossas experiências e isso é gratificante”, diz Giovani Caetano Jaskulski, que hoje auxilia o Departamento em Guarapuava e respalda  trabalhos desenvolvidos nas comunidades com projetos como: Tecendo Amor (gestantes), Clube de Idosos, Formando Cidadão (16º BPM) e Pelotão Esperança (26º GAC), Proerd, entre outros trabalhos desenvolvidos em conjunto com os CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social).

A INICIATIVA QUE RESGATA VIDAS

O trabalho desenvolvido pelo Departamento de Políticas Públicas Sobre Drogas tem servido de exemplo para todo o estado. O Departamento foi criado pela então secretária de Assistência Social, e hoje deputada estadual Cristina Silvestri (PPS) que, a frente dos programas desenvolvidos pela Secretaria, detectou a necessidade urgente de medidas preventivas e de tratamento.

“A visão do César Filho e de sua mãe, a ex-secretária de Assistência Social, e atual deputada estadual Cristina foram fundamentais para que este processo chegasse aonde chegou. Conto somente com dois profissionais no estado inteiro com o perfil do Giovani, que agrega um conhecimento humanizado que  inflama as equipes de atendimento multidisciplinar. E foram eles que enxergaram este potencial no Giovani e permitiram que Guarapuava esteja muito bem assistida, como está hoje”,  destaca Baptista.

Em Guarapuava existe uma verdadeira rede de ações. “Não conheço nenhum município que tenha completado este processo com as devidas competências como vejo aqui. Este é um marco para as políticas sobre drogas e Guarapuava, definitivamente é um exemplo a ser seguido”, parabeniza Baptista.

O Observatório do Crack da Confederação Nacional de Municípios (CNM), que participou do I Simpósio Brasileiro de Dependência Química e Saúde Mental: Desafios e Perspectivas, e ano passado, afirmou que Guarapuava é uma das poucas cidades do Brasil que possui um departamento exclusivo para enfrentamento às drogas. “Guarapuava desenvolve um trabalho que é modelo nacional”, enfatiza Rosangela da Silva Ribeiro, coordenadora de Pesquisas do Observatório.

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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