Um debate promovido pela Frente Parlamentar do Coronavírus da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) expõe uma triste realidade. De acordo com especialistas reunidos nesta quinta (11), o atual cenário da covid-19 no Paraná e no Brasil atinge números jamais vistos. “A situação é alarmante. Além disso, a variação do vírus possui um poder de contaminação muito maior. Mais agressivo e letal”.
De acordo com representantes da saúde, educação e deputados, o momento é de alerta máximo. Conforme o diretor de gestão da Secretaria de Estado da Saúde, Vinícius Filipak, o sistema de saúde está no máximo de capacidade.
O cenário não poderia estar pior. A situação está tensa e delicada. No auge do inverno tivemos uma ocupação de 75% dos leitos. Nas últimas três semanas, tivemos uma elevação absurda. Digo que estamos diante de uma nova covid. Tem de ser entendido como uma nova doença. A rapidez e a infecção são muito grandes.
Filipak lembrou que a gravidade da doença também é diferente. “Temos menos casos, mas eles são muito mais graves. A mortalidade é elevadíssima. Cerca de ¼ das pessoas internadas, morrem. Apesar de todos os esforços, estamos chegando a uma mortalidade de 30% esta semana para quem é internado. Além disso, hoje, 1.185 pessoas esperam a internação. Dessas, 567 na UTI e 618 em leitos clínicos. “Nenhum estado conseguirá aumentar o número de leitos infinitamente”.
COLAPSO TOTAL
O diretor do centro de estatística do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Daniel Nojina, trabalha no estudo de projeções relacionadas à covid. Conforme a projeção do órgão, a taxa de ocupação de UTIs deve ficar em 96,7% nos próximos dias. Entretanto, caso as piores projeções se concretizem, o número pode chegar a 102,7%. “Assim, o sistema entra em colapso total. Isto pode ocorrer na próxima semana, no dia 16 de março”.
De acordo com Nogina, neste ano, temos outro patamar da pandemia. Enquanto em outubro do ano passado registava-se 1,1 caso de covid a cada 10 mil pessoas, no início deste mês o número saltou para 4,1 pessoas. A previsão é de que o número chegue a cinco ainda este mês. “Além da agressividade do vírus, temos o estresse do sistema de saúde”.
Roberto Raitzz, da comissão de enfrentamento ao coronavírus da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é responsável por estudar as mudanças nos padrões da pandemia. E disse que ainda faltam informações de qualidade para observar a doença.
São precisos outros indicadores, além do número de casos e óbitos para a compreensão da crise e tomada de decisões. Mas podemos afirmar que as restrições funcionam e são necessárias. Também vemos que os profissionais de saúde estão no limite. Logo faltará gente para atender. Isso pode aumentar ainda mais o número de óbitos.
NOVA DOENÇA
O presidente da Associação Paranaense de Medicina Intensiva, Rafael Deucher, reforçou que o Brasil está diante de uma nova doença. Conforme Rafael, a única saída é o respeito às medidas sanitárias e a espera a uma vacinação em massa.
Percebemos que o comportamento da doença mudou. A nova cepa é mais agressiva, comportando-se de maneira mais grave. Hoje, observamos que a faixa etária dos internados é de jovem.
Já Rangel da Silva, presidente da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná, ofereceu um panorama da situação dos hospitais. De acordo com Rangel, além do colapso no número de leitos, os hospitais podem sofrem um colapso financeiro. “O sistema de saúde do Paraná já está em colapso e todos sabemos disso. Está próximo de não conseguir mais ser ampliado. Faltam equipamentos, não temos mais suporte para oxigênio. O custo também é elevado. A emergência e a assistência precisam de ajuda. Se não nos organizarmos, vamos perder para o vírus. Precisamos estar pelo menos uns cinco dias à frente do vírus, mas estamos um mês atrás”.
Dessa forma, o diretor-técnico do Samu-Oeste, Rodrigo Nicácio, definiu a situação como dramática. “Estamos muito cansados. As equipes estão dobrando turno de trabalho, cuidando de até 20 pacientes. A demanda é crescente e o atendimento cada vez mais complexo. Caminhamos para três mil mortes por dia”.
AULAS PRESENCIAIS
O retorno às aulas presenciais, programado para a segunda (15) em toda a rede de ensino público preocupa. Há o temor com a disseminação da cepa da variante amazônica do vírus. De acordo com a representante da APP Sindicato, Walkiria Mazeto, as escolas municipais e estaduais não têm estrutura para garantir a biossegurança dos alunos.
Não é um ambiente controlado. Se o Estado não consegue dar conta do uso de máscaras e distanciamento, como os professores e profissionais vão controlar a interação social aguardada pelas crianças e adolescentes? Nossos profissionais usam transporte coletivo para ir às escolas. Um professor interage durante o dia com pelos menos 100 estudantes.
A crítica se contrapõe à afirmação do representante da Secretaria de Estado da Educação Roni Miranda. Conforme o diretor de educação, a rede de ensino está totalmente adequada.
Acreditamos no espaço escolar como ambiente controlado. Com profissionais de educação, professores, pedagogos e administrativo. Todos preparados para receber os estudantes com orientação da secretaria.
De acordo com o diretor no debate da Alep, as escolas seguem os protocolos. “Pode-se suspender as aulas daquele turno ou de toda escola”. Conforme o diretor, houve evasão de 70 mil estudantes em 2020, tanto do fundamental quanto do médio.
O ensino remoto do Paraná foi exemplo para o Brasil, mas é paliativo. O momento agora é de retorno, presencial.
Entretanto, essa afirmação teve a contestação de Walkiria Mazeto, da APP-Sindicato. De acordo com ela, 70 escolas que tiveram casos confirmados no retorno às aulas em fevereiro não tiveram a suspensão das atividades autorizadas pela SEED. “Peço a esta Frente que não tenhamos o retorno presencial às aulas na próxima segunda. Pois temos total condição de manter o trabalho remoto neste momento. Aos representantes da Sesa, peço que seja definido o não retorno às aulas”.
CRIANÇAS EM RISCO
A solicitação de Mazeto conta com o aval da deputada Luciana Rafagnin. “Como vamos colocar em risco nossas crianças, professores e profissionais da educação?” Conforme a deputada, um ofício deve ser enviado ao governador para que as aulas sejam suspensas em pelo menos 30 dias”.
Todavia, Douglas Oliani, diretor do Sindicato das Escolas Particulares de Curitiba, 95% das escolas particulares atenderiam os critérios para voltar às aulas presenciais. Ele pediu ajuda dos parlamentares para encaminhar à Câmara Federal, a recolocação dos professores e profissionais de educação na escala de prioridades da vacinação no país. Conforme o professor, hoje a categoria está no quarto grupo. “Queremos que suba para o segundo grupo a receber a imunização”.
De acordo com o coordenador do grupo, deputado Michele Caputo os encaminhamentos serão apresentados às secretarias da Saúde e da Comunicação.
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