22/08/2023
Geral

Acadêmicos da Unicentro em Portugal denunciam preconceito na Universidade de Coimbra

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Estudantes da Unicentro inscritos no Programa Licenciaturas Internacionais (PLI), promovido pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) , que estão na Universidade de Coimbra, em Portugal, denunciam a discriminação contra brasileiros na instituição. A denúncia foi repercutida pela Adunicentro (Sindicato dos Docentes da Unicentro) a partir de relatos dos acadêmicos postados nas redes sociais e que ganha repercussão nacional. O jornal O Globo também publicou matéria sobre o assunto.

A mobilização faz parte de uma série de ações lideradas pelo grupo de estudantes “Lista R – Reset à AAC”, que também combate outras formas de discriminação vivenciadas no ambiente universitário, como racismo, homofobia e machismo.

O grupo Lista R é uma espécie de chapa candidata ao comando da Associação Acadêmica de Coimbra, entidade semelhante aos diretórios centrais de estudantes no Brasil. O grupo foi derrotado na eleição que aconteceu no final de 2013, mas as ideias difundidas por ele, de combate ao preconceito, continuaram a se propagar pelas redes sociais.

As imagens, que começaram a circular na Internet no final de 2013, mostram cartazes com frases como “os brasileiros e os pretos deviam todos morrer”, encontrada originalmente numa carteira da Faculdade de Letras, e “as alunas brasileiras precisam cuidar o comportamento, caso contrário, reforçarão o estereótipo de prostitutas, putas e fáceis”, que teria sido dita por uma professora.

Os estudantes afirmam que a discriminação acontece não só dentro da Universidade, mas no país como um todo.

De acordo com a denúncia, na Universidade de Coimbra, existem professores que fazem insinuações como:  vocês não acompanharão os portugueses; não tem preparo para estudar aqui; são preguiçosos e demais afirmações do gênero”, conta uma estudante que prefere não se identificar.  Ela diz que em aulas práticas os professores ficam supervisionando o grupo de brasileiros, e questionados, dizem ter receio de que os alunos   estraguem algum equipamento pelo despreparo que apresentam. “Cheguei a ouvir diretamente que os brasileiros são burros e atrasados e que se não fosse por eles, ainda andaríamos pelados”, desabafa a estudante.

Em relato, alguns estudantes também fizeram questão de ressaltar que, alguns professores portugueses os questionavam: “Com tantas universidades maravilhosas no Brasil, não entendemos o que vieram fazer aqui”.

Os alunos portugueses, em sua maioria, compartilham da mesma posição dos professores, segundo uma estudante. “Diria que 50% dos nossos colegas não nos receberam bem. Foi um descaso a nossa chegada. Por serem mais fechados, não recebemos acolhimento algum e até pensamos que seria um comportamento cultural. Mas foi durante as aulas que ficou tudo muito explícito, nos excluiam na formação dos grupos e tínhamos que formar grupos entre nós mesmos”.

As moças, porém, são alvo maior do preconceito. “Segundo a frase de uma professora, mencionada na matéria publicada no Jornal O Globo (“as alunas brasileiras precisam cuidar o comportamento, caso contrário, reforçarão o estereótipo de prostitutas, putas e fáceis” ), é frequente ouvir isso, vindo de mulheres, homens, professores e alunos. Diversas vezes na noite, quando saíamos para nos divertir, nos abordavam com esse pensamento grosseiro”, diz uma estudante. De acordo com os acadêmicos, a minoria é xenofóbica. Eles dizem também que como havia pessoas preconceituosas também conheceram “ pessoas maravilhosas” que nunca os discriminaram ou se quer os trataram diferentemente. E que ainda, uma opinião de um professor sobre isso foi que os alunos portugueses praticavam essa discriminação devido ao fato de se sentirem acuados, que com recursos escassos e as vagas na universidade mais custosas, os  brasileiros “estaríamos tomando as vagas deles”.

UNIVERSIDADE NEGA ACUSAÇÃO

Uma nota oficial expedida pela  Universidade de Coimbra nega as acusações de xenofobia. De acordo com a Universidade,  num universo de mais de 30 mil  pessoas como o da instituição, há sempre discordâncias e desentendimentos pontuais, provocados pelas razões mais diversas, e que nada disso pode ser confundido com xenofobia. “Refutamos categoricamente a acusação de que haja um ambiente de xenofobia na Universidade de Coimbra. Em qualquer caso, se viermos a ter conhecimento de alguma situação de discriminação efetiva em função da nacionalidade, atuaremos com determinação, nomeadamente através de ação disciplinar.”

A universidade também informou que estudantes foram ouvidos, mas não apresentaram nenhuma queixa concreta contra ninguém. “Apesar de se ter apurado que algumas das afirmações que faziam eram falsas, empreenderam-se diligências diversas para saber se algum episódio concreto de xenofobia teria acontecido. Nada se detectou. Apesar disso, tomaram-se iniciativas construtivas e pedagógicas para combater e dissuadir atitudes xenófobas.”

A instituição também informou ter mais de 4 mil estudantes estrangeiros, de mais de 90 nacionalidades, e destacou que estudantes que se sintam vítimas de qualquer discriminação podem recorrer a profissionais e órgãos da universidade.

Fonte: O Globo e Instituto Geledés

Cristina Esteche

Jornalista

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