22/08/2023
Cotidiano

Acordo aumenta restrições à publicidade para crianças

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Guarapuava – Vinte e quatro empresas e grupos líderes de alimentos e bebidas firmaram acordo impondo restrições à publicidade de seus produtos dirigida ao público infanto-juvenil. A partir de agora, os pais passarão a ser o público-alvo das campanhas e a decisão de compra ficará mais nas mãos dos adultos, apesar do conhecido poder de convencimento dos pequenos consumidores. As medidas estabelecidas vigirão em sua totalidade até o final de 2009.
A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) usou diversos estudos científicos para convencer os associados à entidade e à Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) da importância de criar restrições à publicidade de alimentos e bebidas para as crianças. Países como Estados Unidos, Canadá e parte da União Europeia (UE) já criaram regras para tirar o público infantil do foco das empresas e agências de publicidade. Além disso, dar destaque às características nutricionais do produto passa a ser fundamental.
Para a nutricionista Marcela Brecailo, docente do curso de Nutrição da Unicentro e da Faculdade Campo Real, é muito importante discutir pontos que contribuam, direta ou indiretamente, para a saúde das crianças. “Essas restrições são um avanço para nossa sociedade, embora não sejam suficientes, pois muitas vezes falta informação aos pais, que decidem o que oferecer a seus filhos. Porém, diminuir o acesso das crianças a informações nem sempre confiáveis, e que as estimulam a desejar produtos não saudáveis, é um auxílio importante para a autonomia dos pais na hora de alimentar seus filhos, sem a pressão da mídia ou da própria criança”, aponta.
Segundo ela, as propagandas de alimentos direcionadas a essa faixa etária certamente influenciam escolhas, especialmente aqueles anúncios que carregam uma mensagem emocional, de que a criança será aceita se consumir determinado produto. “Ela se sentirá inferiorizada se não consumir o alimento que aparece no comercial, e que todos os coleguinhas possuem. Portanto, não é apenas um problema nutricional para quem consome o produto em excesso, mas também uma questão psicológica a ser pensada”, acredita.
A nutricionista observa que, quando o assunto em pauta é a questão nutricional, sabe-se que as mudanças ocorridas na alimentação da população brasileira se traduzem hoje em grande prevalência de obesidade, diabetes, pressão alta, entre outras doenças. “A população infantil também vem sofrendo com esta mudança, e já apresenta estas mesmas doenças, ou mesmo terá mais chances de adquiri-las no futuro”, completa.

Educação alimentar
Marcela afirma que não é difícil educar uma criança com uma alimentação saudável, mas ressalta que isto deve ser uma escolha da família toda. “Não adianta comer batata frita na frente da criança e obrigá-la a comer salada. Os pratos saudáveis devem fazer parte da vida da família, e os alimentos não saudáveis não devem ser proibidos, mas também não devem ser supervalorizados. Se ninguém tem o hábito de tomar refrigerante em casa, a criança pode querer experimentar, ou beber de vez em quando, mas isto também não será um hábito para ela”, ensina.
De acordo com a nutricionista, os produtos industrializados são oferecidos para a criança inicialmente se isto é comum na família. Muitas coisas são introduzidas na alimentação da criança sem mesmo que ela peça, pois é um hábito dos pais. Mais tarde, podem ser utilizados pela comodidade, já que é mais fácil abrir um pacote de salgadinho do que lavar e picar uma fruta.
“Mas este não é o principal motivo. Geralmente, a falta de informação sobre os perigos da má alimentação faz com que os pais sejam mais tolerantes em suas escolhas. Há ainda o fator emocional. Aquele pai que quer compensar as horas que fica longe da criança com sanduíche, batata frita, refrigerante e chocolate”, explica.

Antes tarde do que nunca:
dicas para mudança de hábito

Quando a criança já formou hábitos alimentares inadequados, é necessário que toda a visão sobre alimentação para a família seja mudada. A introdução de alimentos saudáveis deve ser gradual e deve acontecer de forma natural, sem obrigar a criança a comer o que não quer. Deve-se lançar mão de preparações diferenciadas para despertar o interesse. Todos devem comer esse mesmo alimento, para que a criança entenda que é um alimento de escolha de todos, e não feito especialmente para ela, por algum motivo.
Nessa mudança, os alimentos antes consumidos pela criança não devem ser proibidos, mas deve-se diminuir a oferta, oferecendo outra opção. No início, é mais difícil, e essa troca não será aceita pela criança em todos os momentos, mas isto não deve gerar brigas ou tensão na família. Aos poucos, o hábito será modificado.
“Não só para as crianças, mas também para os adultos, o grande problema brasileiro é a falta de frutas e verduras frescas no dia a dia alimentar. Os vegetais devem ser consumidos nas duas grandes refeições e as frutas no café da manhã e como lanches da manhã e da tarde. A dobradinha arroz e feijão também tem perdido espaço na mesa do brasileiro, e é importante que retomemos esse consumo, pois é um alimento rico e completo, bastante importante no prato das crianças. Nos lanches também é importante lembrar da oferta de leite e derivados, importantes para o crescimento e formação dos ossos”, explica a nutricionista.
Para aumentar o interesse para esses produtos, uma das dicas para os pais é fazer pratos coloridos, com boa variedade de ingredientes. Outra idéia é iniciar a introdução com pratos à base desses alimentos, como torta de verduras, bolo de laranja ou cenoura sem recheio, pão de beterraba ou brócolis.
Para a criança mais nova, ou que já passou pela fase anterior, podem ser realizar outras estratégias. Fazer uma horta em casa, em que a criança ajude no cultivo, também estimula o interesse, pois ela vai ingerir o que ela mesma plantou, cuidou e colheu. Pedir auxílio na cozinha também é uma opção. Quando a criança prepara o prato de salada ou ajuda a arrumar as frutas em uma travessa, ela terá maior estímulo para provar o prato.

Cristina Esteche

Jornalista

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