22/08/2023
Guarapuava

Ainda tenho crença em um novo estilo de vida. Apenas isto.

A crise política tem tudo para resultar em uma nova revolução e segundo o sociólogo francês Rosanvallon, poderá ser a revolução de bons governos. De fato, este otimismo e perspectivismo ainda não ecoaram na sociedade mais politizada em nosso país. O momento revela a celebração de um conservadorismo apelidado de ‘nova direita’ com uma agenda de fragilização de direitos civis e coletivos. O pragmatismo reconhece que as novas direitas ocuparam um espaço político que as esquerdas tradicionais não foram capazes de preencher. Esta é uma dura verdade. Concorrendo com estas cores ideológicas visualizamos o controvertido Judiciário brasileiro. É comum ouvir desta instituição expressões como; “partido da justiça”, “criminalização da política”, “ditadura do judiciário”, “justiça seletiva”.  Mesmo assim sabe-se que o Judiciário, para a grande maioria de brasileiros, ainda está em um patamar conceituado. Todavia há quem aposte que neste novo ano a opinião pública enxergará o STF e vai destilar seu veneno por várias razões, a saber: omissão, impotência ou conluio com o sistema político.

Então de onde virá a solução para concretizar a máxima de Rosanvallon e sua aposta na revolução  bons governos ?   

Certamente não será das velhas esquerdas que teremos uma resistência competitiva às novas direitas. Esta é uma verdade que muitos simpatizantes da esquerda ainda não conseguiram compreender.

Não há como esperar tudo do Estado, mas também a privatização neoliberal de tudo está longe de ser uma boa verdade.

Assistimos dia após dia o duelo entre forças econômicas e  forças sociais. Não há dúvida que a crise tem favorecido o fundamentalismo e a xenofobia. Portanto, a crise tem sido o grande troféu daqueles que defendem a lógica do mercado e as regras da concorrência privatista. Assim, ela não pode acabar. Este novíssimo neoliberalismo não tem tolerado nenhum grau de democracia. Este neoliberalismo em curso está imunizado de tal forma que mais parece  um guerreiro imortal. Diferente de outros modelos anteriores não é só uma forma de governo, mas principalmente uma forma de existência e subjetividade. Do jeito que está posto, dificilmente cairá. A não ser que a resistência a este imperativo seja feita por uma nova experiência política e que não seja tradicional como as velhas esquerdas. De onde virá? De cidadãos conectados com um estilo de vida incomum? Talvez venha de uma oriente auto-sustentável? Talvez de bom exemplo da Europa nórdica com políticas públicas para todos ou talvez da ressaca brasileira. O que se sabe é que o essencial está no equilíbrio entre forças econômicas e forças sociais e que esta arbitragem  não poderá vir de um populismo ultrapassado. É isto que hoje se encontra em disputa, ou seja, de um lado ‘autonomia e emancipação’ e de outro ‘regulamentação e normatização’.

A questão mais séria que este modelo impõe é que medidas disciplinares como é o caso da PEC que congelou por vinte anos  os gastos públicos, compreendendo verbas de saúde e educação, são celebrados pelo grande capital como disciplina de mercado. Trata-se de um fenômeno mundial e que somado à pequenez e incompetência da velha esquerda reforça um cenário em que o jogo eleitoral é apenas um instrumento, uma marionete, que de forma domesticada é colonizada e anexada pelo sistema financeiro internacional. Assim, eleições convencionais em 2018 em nosso país, dentro do mesmo sistema político, dificilmente mudará esta ordem crescente. Venha este candidato ou venha esta candidata, o rolo compressor tende a pausterizar tudo. Oxalá que um dia em nosso país possamos ouvir uma resposta dita por uma criança japonesa.  No Japão diante de catracas livres para pessoas que não podem pagar passagem em um  metrô, um Brasileiro se perguntava por que uma pessoa optaria por pagar ao invés de não pagar. A resposta de uma criança japonesa foi uma pergunta: ‘por que alguém que pode pagar não pagaria? Porque alguém faria isto se podemos ter benefício com nosso próprio trabalho?’ Ainda tenho crença em um novo estilo de vida. Apenas isto.  

Cristina Esteche

Jornalista

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