Em pé, de bermudas, chinelos de dedo e blusas ou jaquetas de moletom, boa parte dos 466 presos busca o sol entre nuvens no pátio da cadeia pública de Guarapuava. Divididos agora entre oito blocos com quatro celas cada, os presos pela média de idade, são na maioria jovens. De acordo com o gestor da cadeia, Wellington Rodrigo de Oliveira, a média é de 25 anos.
Para comprovar essa informação, basta olhar pelos corredores e ver o grande número de pessoas de pouca idade já incluídos no mundo do crime. “Aqui predomina quem está no tráfico de drogas, roubos, Maria da Penha, além de homicídios”.
Mas para quem conheceu a estrutura anterior da cadeia percebe uma grande diferença. Entre massa e concreto a reforma continua. No entanto, as mudanças mostram a separação física e legal entre a cadeia e a delegacia de Polícia Civil.
Conforme Wellington, antes o espaço era compartilhado, mas em 7 de novembro de 2018 o Departamento Penitenciário (Deppen) assumiu e a gestão se tornou plena. E de acordo com o gestor em breve, haverá aumento do efetivo em 40% que passa a ser terceirizado. Outra mudança foi na nomenclatura do efetivo que deixa de ser agentes e se tornam agentes prisionais.
Somos a linha de frente. E a nossa equipe é muito forte, comprometida, coesa e ajuda muito.
A REFORMA
Entrar na ala reformada da cadeia, todavia, é perceber as alterações. Os dois corredores antigos e depredados por motins, com grades serradas, e apenas 16 cubículos não existem mais. As obras que começaram em 2019 se transformaram em oito blocos. Outra ala está sendo concluída e terá 35 camas de cimento.
Ali, conforme Wellington, ficarão 35 presos para um projeto de artesanato. “Queremos alguma coisa diferente que possa gerar renda para os familiares de cada um. É um projeto autossustentável”.
Num espaço reservado, uma grade separa o professor dos alunos num projeto com o Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos, o Ceebeja. De acordo com Wellington, mais de 100 presos estudam.
Em outro local, conforme a nova estrutura, há um ‘scanner’ corporal.
Somos a única cadeia do Paraná a ter esse equipamento, acabando com situação vexatória, principalmente, para as mulheres, em dias de visitas.
De acordo com o Deppen, cada preso tem direito a duas horas de visita de apenas um familiar, das 14h às 16h, duas vezes por semana. Entretanto, se as obras físicas tomam conta dos mais de 600 metros quadrados de área, o trabalho maior está na humanização do atendimento.
Há muito tempo não temos motim ou qualquer movimentação errada. Há mais um ano não temos mais mortes aqui dentro. E isso se deve ao tratamento e ao respeito que existe entre os presos e a nossa equipe. Embora haja a liderança de facções criminosas, o clima é de calmaria entre quem está lá. A lei do crime é diferente, mas todos a seguem.
Na questão de saúde, a cadeia possui um gabinete odontológico, ambulatório, uma enfermeira, psicóloga, entre outros profissionais. Há também uma sala reservada para atendimento jurídico. Afinal, a cadeia abriga quatro portadores de HIV positivo. Entretanto, nenhuma suspeita da covid-19 acabou sendo confirmada.
Conforme o gestor, há três refeições diárias e os presos recebem alimentos da família por Sedex. “A partir de agosto vai retornar a entrega de sacolas”. De acordo com Wellington Rodrigo de Oliveira, até o fim deste ano, uma fábrica será instalada e dará emprego.
SUPERLOTAÇÃO
Apesar da reforma e da ampliação da cadeia pública a superlotação de presos ainda é realidade. Com capacidade para 166 pessoas, hoje 456 presos se ‘empilham’ nas celas. Para dormir, um colchão é dividido entre duas pessoas. É o sistema ‘valete’, quando um dorme para cima e outro nos pés.
“Aos poucos vamos conseguindo a transferência dos condenados. Nessa quarta [13] transferimos 10 para a PIG [Penitenciária Industrial de Guarapuava]”.
De acordo com o gestor, a cadeia conta com 280 condenados. Vale lembrar que a cadeia seria apenas a ‘porta de entrada’ para o sistema carcerário. A expectativa também é a conclusão da penitenciária de Laranjeiras de Sul. “Muitos serão transferidos para lá e vai desafogar a nossa estrutura aqui”.
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