22/08/2023
Cotidiano

Batateiros podem ser retirados em até 90 dias

imagem-8224

Guarapuava – O cenário para quem passa pela BR-277 e olha para as laterais da rodovia num raio de aproximadamente um quilômetro antes do trevo principal de acesso à cidade é deprimente e depõe contra a beleza e o colorido das flores que enfeitam a avenida Manoel Ribas desde a entrada até o centro de Guarapuava.
Em busca da sobrevivência, vendedores ambulantes oferecem batata, pinhão, frutas. O produto oscila conforme a época.
Conhecidos como batateiros, apelido que os vendedores ganharam por começar a vender a batata desqualificada nos lavadores de propriedade dos grandes produtores, famílias inteiras fazem das minúsculas barracas a sua moradia e das vendas à beira da estrada a alternativa de ocupação e de renda numa atividade informal. O comércio, considerado irregular, está instalado na rodovia desde a década de 50.
A presença desses vendedores e as precárias condições das barracas incomodam. Grandes empresas radicadas às margens da rodovia federal “gritam” há décadas pela retirada desse comércio ilegal. Temem pela segurança dessas famílias cujas crianças também vendem à beira da estrada e clamam pela revitalização desse espaço cujo início está pautado na construção das marginais à BR 277.
O movimento desde o início teve o apoio da Associação Comercial e Empresarial de Guarapuava (ACIG) e de outras entidades empresariais, por entenderam que esse cenário inibe investimentos.
“Esta situação é vergonhosa para a cidade. Este trecho é a porta de entrada para o centro e temos aí uma situação deprimente”, afirmou o gerente de uma grande empresa radicada na Vila Primavera e que pediu para não ser identificado. “A gente sabe que tem que falar a verdade, mas como dependemos da Prefeitura para arrumar essas ruas que estão um verdadeiro caos, não podemos dar o nosso nome porque vamos sofrer retaliações”, justificou.
No outro lado da rodovia, outro empresário que também pede para manter a sua identidade oculta reclama. “Faz tempo que construíram um centro de turismo na frente do Parque das Araucárias e disseram que era para colocar os batateiros. O prédio está lá vazio há quase 4 anos e a situação continua a mesma”, observa.
A concessionária Caminhos do Paraná, que administra o trecho da BR-277 aguarda a reintegração de posse e a consequente desocupação das áreas ocupadas pelos batateiros. A expectativa é de que alguma ação nesse sentido aconteça dentro dos próximos 90 dias. A assessoria jurídica da Concessionária não quis se manifestar sobre o assunto porque o assunto corre em segredo de justiça.
A briga judicial entre a Caminhos do Paraná e 16 batateiros começou ainda em 2001, quando a concessionária solicitou à Justiça em Guarapuava a retirada dos comerciantes. As famílias entraram, então, com recurso para permanecer no local; 13 conseguiram liminares e garantiram o direito de ficar.
Em 2003, segundo Diettrich, a administradora moveu nova ação na Justiça e, desta vez, um ano depois (2004) o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado foi favorável às alegações da Caminhos do Paraná.
“Em 2006 saiu uma decisão provisória favorável à Caminhos do Paraná e em 2008 essa decisão foi julgada de forma definitiva”, disse o jornalista Jefferson Diettrich, assessor de Comunicação Social da concessionária.
Segundo ele, a expectativa é de que os vendedores sejam retirados do local nos próximos três meses. “Ainda não há nada definido, mas sabemos que essa ordem está nas mãos de oficial da justiça. Estamos tentando negociar com todas as esferas possíveis para garantir esse direito, mas tudo depende da Justiça de Guarapuava”, diz.
Segundo Diettrich, não há informações sobre qual será o destino dos vendedores. “Após vários meses de negociação com a Prefeitura, as coisas continuam como estão”, afirma.
Gabriel Machado, um dos vendedores que vive no local, disse que no início do ano a Prefeitura mandou tirar todas as barracas sob pena de serem derrubadas. “Mas ninguém tirou e eles não apareceram também”, diz.
Outro vendedor, Valdevino Nogueira, diz que mora ali há 13 ano e que desconhece a situação. “Não sabemos de nada se essa tal de central do turismo é para nós ou não. A prefeitura nunca explicou pra gente. No começo do ano ameaçaram de derrubar as barracas, mas não apareceram mais. A Caminhos do Paraná vinha bastante no ano passado tirar fotos aqui, mas faz tempo que não tem nada. A prefeitura então, faz tempo que não aparece, vamos esperar as eleições agora pra ver se muda”, espera.

As marginais
A Associação Comercial e Empresarial de Guarapuava (ACIG) sediou um encontro envolvendo representantes de outras 6 associações comerciais. A conversa na quarta-feira, dia 26, resultou que a comissão formada para lutar pela duplicação da BR 277 vai ser transformada em conselho, ampliando o leque de representatividade e abrindo espaço para representantes do setor agrícola, de transportes e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). O próximo encontro será realizado em 5 de outubro, em Cascavel.
Paralelamente a essa discussão a ACIG também está focada na construção das marginais à BR-277. “Já temos parte dos recursos depositados na Caixa Econômica Federal em junho do ano passado, mas ainda há pendências de projetos sob a responsabilidade da Prefeitura”, informou o presidente da ACIG, Valdir Grígolo, à jornalista Cristina Esteche na tarde de quinta-feira, dia 27. “Fui ver essa situação junto à Caixa e soube que faltam projetos. Então fui conversar com o secretário municipal de Obras, Flavio Veras, e ele ligou à secretária Ana Lucia Massaro Tossin, que disse já ter atendido às exigências da CEF. Retornei à Caixa e soube que existem três projetos incompletos”, afirmou o presidente da ACIG.
Grígolo lembrou que a intenção inicial do prefeito Fernando Ribas Carli era investir esse dinheiro para a revitalização da Avenida Ivo Carli. “Quando descobrimos os projetos já estavam prontos”, relembra.
Autor da emenda que viabilizou o recurso, o deputado federal Cezar Silvestri entrou em contato com o Ministério das Cidades e conseguiu atrelar o dinheiro a obras das marginais. Mesmo assim, o recurso “descansa” numa conta na Caixa.
“Não estamos pressionando ninguém, nem a CEF, nem a Surg, mas sabemos que antes de tudo é preciso remover as barracas que lá existem”, disse.
A luta pela duplicação da BR-277 desde Foz do Iguaçu até Curitiba e que se transformou na “menina dos olhos” da ACIG, segundo Diettrich, ocorre na esfera política. Segundo o assessor de Comunicação da Caminhos do Paraná, no cronograma da concessionária há a previsão para duplicar em 2011 apenas 1,3 quilômetros da rodovia a partir do viaduto de entrada até as proximidades do trevo secundário que dá acesso ao Residencial 2000. Outros 30 quilômetros, até o trevo do Relógio, estão previstos para 2019.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.