22/08/2023
Guarapuava

Cadeirante circula pelas ruas de Guarapuava vendendo panos de prato

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Taís Nichelle

Confúcio, um filósofo chinês, em sua vasta sabedoria certa vez disse: "Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha". Essa citação me mostrou que a perseverança é uma escolha. Célio da Silva Lima, vendedor de panos de prato, em sua existência, hoje me PROVOU que a perseverança é a melhor das escolhas. A mais difícil, mas a mais nobre e recompensadora de todas.

Célio nasceu no ano de 1963 em Ampére, município localizado no Sudoeste do Paraná, exatos oito anos após o desenvolvimento da vacina contra a Poliomelite, uma infecção viral que afetou centenas de crianças nas décadas de 50 e 60. Embora 95% das infecções se apresentem de forma assintomática, os outros 5% restantes podem implicar o comprometimento do sistema nervoso central e, em alguns casos, desencadear a destruição dos neurônios motores, levando à paralisia. Infelizmente, Célio está entre os 5%. Quando tinha apenas sete anos de idade, teve paralisia infantil e perdeu o movimento das pernas. 

Entre tornar-se uma vítima do destino e viver todos os sabores e dissabores da vida, ele escolheu a segunda opção. Aos nove, já enfrentava sua limitação ao ajudar a família em uma mecânica. "Ainda criança, me mudei para o Amazonas, onde fui mecânico por muitos anos… Fazia de tudo", conta ele. Lá, casou-se e teve três filhos. Com o passar do tempo, o casamento se desfez e ele decidiu tentar a sorte em Mogi Mirim, SP, como vendedor de panos de prato. 

Devido a sua condição, ele recebe um auxílio do Estado equivalente a um salário mínimo. Obviamente, é insuficiente para um pai de família. Só no aluguel, se vão R$ 600,00. As vendas ajudam a complementar a renda, mas ele garante que é mais do que isso: "A coisa mais importante pra mim é o trabalho, sempre trabalhei, sempre gostei de trabalhar e também, não gosto de depender de ninguém. Faço minha comida, limpo minha casa, lavo minhas roupas", declara o vendedor, após subir em uma cadeira de rodas, no sol das 13h, o trecho mais inclinado da Saldanha Marinho. "Aqui não tem tristeza, só alegria", completa.

Célio vem vender seus panos de prato em Guarapuava de seis em seis meses. Por hoje, quem circular pelo Centro da cidade certamente vai se deparar com ele: uma verdadeira ostentação de força de vontade. Amanhã, ele retorna para São Paulo, mas sem antes deixar na terra do Lobo Bravo o seu incrível legado de determinação e sede de viver.

Célio é um dos tantos herois que não usam capa, não soltam fogos e tampouco voam, mas que na sua grandeza e humildade, nos salvam da estagnação. Quem aqui, depois de conhecer a sua história, ainda duvida que somos capazes de qualquer coisa? Você é mais forte do que imagina, acredite!

Cristina Esteche

Jornalista

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