22/08/2023
Política

Carli expõe deputados, mas livra o tio Plauto

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Guarapuava – A indicação dos deputados Valdir Rossoni (PSDB) e Durval Amaral (DEM) como testemunhas de defesa no caso Carli Filho levantou uma dúvida: se os parlamentares poderiam fazer declarações em favor de Fernando Carli Filho, por qual motivo o deputado estadual Plauto Miró Guimarães (DEM)- foto -, tio do ex-deputado, não foi sequer incluído na lista de testemunhas?
A pergunta vem na esteira da primeira audiência de instrução, realizada dia 4 deste mês, depois que Valdir Rossoni e Durval Amaral se negaram a depor. Eles alegaram que não poderiam falar nada sobre o acidente, pois nada presenciaram, e pediram que seus nomes fossem retirados da lista, no que foram atendidos.
Ao contrário, Plauto Miró Guimarães, deputado eleito pela região dos Campos Gerais (Ponta Grossa), não só é tio de Carli Filho como também esteve com ele horas antes do acidente, durante o jantar onde o ex-deputado teria consumido 4 garrafas de vinho. Segundo testemunhas, o ex-deputado jantou com o tio e mais dois primos, filhos de Plauto, e depois se juntou a um casal de amigos no mesmo restaurante. O casal, ao contrário, foi incluído no rol de testemunhas.
A ausência de Plauto Miró Guimarães como depoente suscitou uma série de questionamentos. O principal deles é visto como um “erro da defesa”, ao convocar duas pessoas públicas (Rossoni e Amaral) que de antemão não gostariam de ter suas imagens relacionadas ao acidente que volta a repercutir em todo o Brasil.
Os primeiros depoimentos acontecem justamente quando o deputado Valdir Rossoni, presidente do PSDB no Paraná, comanda as difíceis negociações para escolha do prefeito Beto Richa (Curitiba) como candidato do partido a governador do Estado, numa disputa ferrenha com o senador Álvaro Dias. Qualquer passo em falso de Rossoni que respingue em Beto Richa poderia ser fatal para a candidatura do prefeito curitibano. Providencialmente, Rossoni preferiu ficar à distância dos holofotes do caso Carli Filho.
Mesmo assim, ficou a dúvida. Com qual objetivo os advogados de defesa, comandados pelo jurista Renê Ariel Dotti, um dos mais renomados do Brasil, teriam corrido o risco de indicar os deputados como depoentes, sabendo que seria uma grande exposição pública, mas deixaram de lado o tio do ex-deputado?
Poder-se-ia justificar que a fala de Plauto Miró Guimarães não representaria muito, pois o fato de ser um tio (irmão da mãe de Fernando Carli Filho, a primeira-dama Ana Rita) poderia diminuir a importância de suas declarações. Nesta hipótese, teriam que explicar por que, então, o irmão do ex-deputado, Bernardo, foi nomeado como um dos depoentes. Bernardo, pelo que se sabe, não estava junto com o deputado no dia do acidente. Além de irmão, Bernardo foi assessor de Carli Filho na Assembleia, mas foi obrigado a deixar o cargo bem antes do acidente, e por força de uma decisão judicial, acusado de nepotismo (emprego de parentes numa função pública).
Numa segunda hipótese, Plauto poderia ter pedido ao pai do ex-deputado, o prefeito Fernando Ribas Carli, para ficar bem longe deste assunto, por ser um ano político, de eleição e reeleição. Se isto for verdade, mais inexplicável ainda seria o tratamento pretendido aos deputados Rossoni e Amaral, que, se aceitassem comparecer em juízo, seriam fotografados entrando na sala de audiência e pressionados a dar explicações diante de dezenas de repórteres. Tudo acontecendo em plena turbulência da corrida sucessória.
O depoimento do irmão Bernardo também parece de pouco significado no contexto do processo judicial. O irmão está no mesmo nível de outras testemunhas, principalmente as de fora de Curitiba, que poderão falar apenas sobre o que conhecem da personalidade do ex-deputado. Nada que tenha a ver com o acidente em si.
Mas, se o objetivo era livrar o tio-deputado do julgamento popular, a exposição do irmão Bernardo virtualmente causará um considerável impacto. Bernardo é pré-candidato a deputado estadual e visto como um substituto de Fernando Carli Filho na “dinastia eleitoral” dos Carli. Para alguns, seria a “vingança” que a família quer impor contra a bateria de críticas recebidas e não respondidas ao longo de todo o episódio, que ainda está longe do seu desfecho final.
Para muitos políticos, a perda de uma batalha no campo eleitoral é muito mais insuportável que uma derrota jurídica. Por este motivo, quase todos renunciam antes de ser cassados, para evitar a perda dos direitos políticos. Alguns, sem nada a perder, se arriscam à exposição pública, numa tentativa duvidosa de se manter em evidência.
No Caso Carli Filho, como será a reação da população face a tudo isso é a expectativa para os próximos capítulos. Já se sabe, porém, que a repercussão negativa é muito mais intensa que os blogs e jornais conseguem publicar ou ocultar.

Foto: arquivo

Cristina Esteche

Jornalista

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