22/08/2023
Cotidiano

Casal paranaense retorna do Chile após terremoto

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Irati – No sábado (20), o casal iratiense Avonir Funes e Elenice Glinski embarcaram ao Chile para um passeio com data marcada de retorno, dia 27 às 14h15. Mas, na última noite do casal, antes de retornar a Irati, depois de sete dias de férias, a tragédia aconteceu.
Na madrugada de sábado (27) um tremor de terra de 8,8 graus de magnitude na Escala Richter, o sexto mais intenso já registrado na história, abalou o Chile. Além do tremor, as regiões costeiras do centro-sul do Chile sofreram os impactos de ondas com até 10 metros de altura. O número de mortos até o momento é de 723. Segundo a presidente do Chile, Michelle Bachelet o número de mortes ainda deve crescer. De acordo com o Escritório Nacional de Emergência do país, a maioria dos mortos, 544, está na região de Maule. Também há 19 desaparecidos. Ainda não há informações sobre brasileiros entre as vítimas.
Os estragos ainda não foram avaliados.
A entrevista com o casal foi realizada via Internet, através do MSN quando ainda estavam “presos” no Chile sem data de retorno, no Hotel RQ Bosque Tobalaba, no Bairro Providência, em Santiago. Segundo o iratiense Avonir Funes o estrago não foi tão grande na capital. “Estávamos dormindo no Hotel, 7º andar e de repente acordamos com tudo sacudindo, caindo e um barulho estranho e intenso. Minha mulher achou que era uma tempestade e começou a gritar, levantei com dificuldades, pois o hotel balançava muito, fui até a janela e vi muitos objetos caindo dos edifícios, ai percebi que era um terremoto e corremos. Vestimos o que tinha pela frente e saímos pelas escadas no escuro”, contou.
O terremoto que durou aproximadamente um minuto devastou as cidades do Chile, destruindo prédios, casas e comércios. O maior terremoto já mensurado por instrumentos até hoje no mundo ocorreu no dia 22 de maio de 1960, também no Chile, quando um tremor de 9,5 graus de magnitude causou a morte de mais de duas mil pessoas. “Parecia que não tinha fim, o prédio balançava muito, era difícil ficar em pé, quando chegamos embaixo (no térreo), havia muita gente. Em seguida, começou a confusão, com sirenes de todo o lado, carros de bombeiros e polícia. Todas as pessoas estavam na rua, no escuro, não tínhamos noção da gravidade do ocorrido”, continua Avonir.
A comunicação ficou comprometida por causa do terremoto, não havia energia elétrica. O casal só pôde retornar ao quarto do hotel por volta das 7h da manhã. Diversos pontos da cidade ficaram sem luz e os vôos para o Brasil foram cancelados. “Os comentários dos chilenos que já estavam acostumados com esses abalos, era de que nunca tinham visto igual, há anos não ocorria um terremoto tão forte. As notícias ruins não paravam de chegar. Tudo estava fechado e nada funcionava. Não sabíamos o que fazer e nem onde se informar”, disse o casal.
No primeiro dia da tragédia, o casal permaneceu no bairro, pois não havia transporte. Somente no domingo (28) puderam pegar o metrô que já estava funcionando, e foram até a Embaixada e ao centro da capital. A partir daí puderam ver de perto os estragos que o terremoto causou – muitos edifícios com rachaduras, pedaços de construção no chão, vidros quebrados, áreas interditadas. “No sábado tivemos dificuldades para nos alimentar, tudo estava fechado, já no domingo alguns mercados abriram e pudemos aproveitar para comprar mantimentos. Na periferia ocorreram saques nos mercados, (foram presas ao menos 170 pessoas). Além do que, as pessoas que estavam hospedadas em alguns hotéis do Chile e tiveram sua reserva terminada tiveram que sair, muitos estão sem condições financeiras para dormir e comer”, afirmou.
Avonir comenta ainda que devido a essa ocorrência e de não conseguirem retornar ao Brasil, a previsão de gastos extrapolou, além do prejuízo de estarem perdendo dias de trabalho.
Na embaixada o número de turistas, segundo eles, é de aproximadamente cinco mil. “Só a TAM tem dois vôos diários, segundo eles, são 500 passageiros embarcando por dia. Não estamos tendo nenhuma ajuda do governo, nem da TAM e na embaixada ainda dizem que não tem previsão para restabelecer o aeroporto e que não tem nada de avião da FAB para resgatar os brasileiros”. Revoltado com o Brasil, Avonir declara que o Chile e o povo chileno são melhores que o Brasil e os brasileiros, pois, segundo ele, são educados e solidários. “Em nenhum momento nos sentimos desamparados aqui, só quando buscamos o governo brasileiro, este sim, uma grande decepção”, diz.
Avonir reclama ainda que o Brasil está transmitindo notícias falsas quando diz respeito ao envio de ajuda aos brasileiros – “Aqui, na verdade, não temos ajuda, a embaixada só atendeu o telefone um dia depois do terremoto e nada fez, anotou nossos nomes, disse que a FAB não mandaria avião nenhum, e nos mandou embora”, decepciona-se.
Durante a entrevista, Avonir e a esposa acompanham a todo o momento as notícias pela televisão, há espera de ajuda, onde relatam em seguida que a força aérea colombiana estava mandando um avião com chilenos e estava indo resgatar os colombianos. “E o Brasil? Nada! Vou ligar daqui a pouco novamente na embaixada para verificar, mas, já perdi a esperança”, conclui Avonir.
Somente na terça-feira (2) recebem a notícia de que um avião da TAM com brasileiros sairia as 22h20. “Embarcamos neste vôo, fomos os primeiros brasileiros a voltar – sorri ainda dizendo – dos que não eram amigos do Lula, claro. Chegamos às duas da manhã do dia 3 em Guarulhos, ao meio dia estávamos em Curitiba, no Paraná e na nossa cidade (Irati) chegamos as 16h30”.
 Na foto Avonir Funes  está em frente ao Museu em Santiago.
 
Texto: Silvia Costa, da Redação
Foto:  Elenice Glinski

Cristina Esteche

Jornalista

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