22/08/2023
Cotidiano Guarapuava

Casamento gay marca o final de semana

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Cristina Esteche

Guarapuava – Um campo de futebol com duas tendas, decoração em preto e branco, colorido apenas com as cores do íris com balões que formaram uma espécie de portal, cores que se repetiram nos três bolos em camadas. Este foi o cenário para a união de amor entre Fernando Pereira e Leonardo Garcia Vichar e o primeiro casamento gay aberto à imprensa, em Guarapuava.

O rito de cunho religioso aconteceu na noite desse sábado (21), na Associação Juventude, na Vila Bela e foi celebrado por um amigo do casal, Nelson Gazzoni.

“Jesus disse que onde houvesse duas ou mais pessoas reunidas em seu nome ele estaria no meio e Ele está entre nós”, disse Nelson à RedeSul de Notícias, momentos antes da celebração.

Tudo aconteceu conforme manda o figurino. Fernando vestiu smoking preto e Leonardo optou pelo branco. Como não poderia ser diferente, Leo chegou com cerca de uma hora de atraso para a cerimônia, tomado pelo emoção. Ele foi conduzido pela mãe Edelmira. O pai, Adão, e a irmã entraram antes conduzindo os padrinhos. Fernando foi levado pela tia Laís Piedade Maroni, 64 anos, que o criou depois que seus pais morreram.

Enquanto isso, a emoção tomou conta do espaço e não poupou os pais dos noivos e convidados. Fernando, inquieto, se preocupava com todos os detalhes.

O que se viu foi um clima de respeito ao amor do casal, onde o único a ser barrado foi o preconceito.

“Espetacular! Pra mim, o que está acontecendo é normal. Eu não tenho preconceito. Toda a minha família está aqui, pois somos amigos do Fernando”, disse Carlos Ribeiro.

“Tudo está muito lindo. Eu nunca tinha participado de um casamento gay e pra mim o preconceito não tem nada a ver. Conheço o Fernando há 25 anos e o tenho como um filho. Portanto, só quero a felicidade do casal”, emenda Sueli de Freitas.

Declarações como essas foram o denominador comum entre os 350 convidados para o enlace, principalmente, por parte de familiares dos noivos.

“O Leonardo me contou que era homossexual aos 17 anos de idade e pra mim não fez nenhuma diferença. Eu não tenho preconceito. Pra mim é normal e sei que a união deles vai dar mais certo que entre um homem e uma mulher”, disse Edelmira, mãe de Leonardo.

O pai, Adão, concorda com a esposa e torce para que o filho e seu companheiro sejam felizes. Preconceito pra mim não tem nada a ver”, afirmou.

Com a família de Fernando não é diferente. “ Ele se assumiu perante nós aos 15 anos de idade. Na hora ficamos chocados, mas depois o respeito falou mais alto e o aceitamos e o amamos como ele é”, diz a tia Laís. “É como se estivéssemos casando um filho”.

Pessoas idosas, crianças, jovens e adultos festejaram as bodas, cuja festa entrou na madrugada a dentro.

O COMEÇO

Fernando e Leonardo se conheceram há um ano numa lanchonete, em encontro marcado por uma amiga. Mesmo sendo assumidamente gay, Fernando era casado há dois anos. “Eu não queria sair de casa naquele dia, mas acabei indo”, conta Leo.

O amor aconteceu à primeira vista. “Nos conhecemos no dia 6 de dezembro de 2012 e em 10 de janeiro de 2013 fomos morar juntos”, diz Fernando.

Os dois e mais Nelson são sócios numa pastelaria localizada na Vila Vela. E foi amor, o companheirismo, a cumplicidade, o respeito mútuo que os conduziram até o altar. “Não precisamos ter  medo de nada, pois só faltam com o respeito se você tiver feito o mesmo e nós só queremos celebrar o amor”, diz Fernando.

Em breve o casal celebrará a união civil.

A SOLENIDADE

Cadeiras brancas com toalhas intercalando as cores preta e branca, com balões nas cores do arco-íris, símbolo da comunidade gay. Um corredor também decorado com tecidos preto e arranjos de flores brancas. Um altar branco com um portal de balões coloridos atrás. A maioria dos convidados vestiam roupas preta e branca.

Nem mesmo a chuva que ameaçou cair sobre Guarapuava na noite de ontem sábado (21), desanimou o casal e os convidados. E ela, a chuva, resolveu dar uma trégua para celebrar o amor, despido de qualquer preconceito. Puro e simples, mas essencial.

Fernando entreou com a tia Laís e aguardou a chegada de Leonardo no altar. Antes, os padrinhos se acomodaram cada um em cada lado, como manda o cerimonial. Leo entra levado pelos braços da mãe Edelmira. Lágrimas de emoção escorriam pela face durante toda a cerimônia. Dois meninos, sobrinhos de Fernando, levaram as alianças, enquanto uma menina levou um coração vermelho no lugar do tradicional buquê. 

Após o rito comandado por Nelson Gazzoni, a música cantada por Gonzaguinha entoava a frase "viver e não ter vergonha de ser feliz" com um coral formado pelos convidados que abençoavam a união.

Depois, os casal fez questão de agradecer cada convidado, indo de mesa em mesa. O jantar foi servido e a alegria falou mais alto, numa noite que mostrou que o preconceito não tem vez quando o que fala mais alto é o respeito e o amor!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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