22/08/2023
Segurança

Caso Carli Filho: computador pode trazer novas provas ao processo

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Curitiba – O julgamento do ex-deputado estadual Fernando Carli Filho pode ter novos desdobramentos. A presença do engenheiro Walter Kauffmann Neto, perito em informática, e o deferimento do juiz Daniel Ribeiro Surdi de Avelar para que o técnico tente recuperar imagens que teriam sido apagadas da câmera de um posto de combustível próximo ao local do acidente podem dar um novo rumo à história.

O engenheiro saiu da audiência de instrução e julgamento na quinta-feira (4) em Curitiba levando o HD com as imagens possivelmente deletadas debaixo do braço. Ele garante que tem até 70% de chance de recuperar a totalidade do que foi registrado na madrugada de 7 de maio de 2009.

Foi nessa data que Carli Filho, embriagado e em alta velocidade, provocou o acidente que matou os jovens Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo de Almeida.
“O perito possui um software do qual existem dois no Brasil, e um é dele. Ele garantiu que pode recuperar imagens que foram suprimidas e que podem elucidar quem teve o interesse em ocultar provas. Comenta-se muito que pode haver o envolvimento de um terceiro carro com quem o ex-deputado estava fazendo racha. Essas imagens podem comprovar isso”, disse a empresária e pastora evangélica Christiane Yared, mãe de Gilmar Rafael Yared.

De acordo com Christiane o perito terá 30 dias para dar um parecer técnico.
O computador do posto de combustível que registrou o acidente vai passar por uma nova perícia. Desta vez, o equipamento será analisado por um perito particular contratado pela família Yared.

O computador levado pelo perito estava nas mãos da Polícia Científica, mas o técnico já tinha analisado as imagens, embora ainda não tivesse a permissão judicial para periciar o computador. Elias Mattar Assad sustenta que houve adulteração nas imagens. Segundo o criminalista, o laudo do perito apontou que alguns frames da gravação foram apagados.

“A polícia não tem o software adequado para recuperar os dados que foram apagados do computador”, disse o perito. A Justiça concedeu 30 dias para ele analisar o equipamento e apresentar seu laudo. Outras dúvidas permeiam o caso. Uma delas é por que o radar instalado na Rua Ivo Zanlorenzi, onde aconteceu a tragédia, não registrou a passagem do Passat alemão que era dirigido pelo ex-deputado?

São para estas e outras dúvidas que a acusação espera obter respostas a partir dos dois dias de audiências, quinta e sexta-feira (5). até o dia do julgamento final pelo júri popular, caso o juiz entenda que isso deva acontecer.

“A nossa expectativa é de que o ex-deputado seja julgado pelo Tribunal do Júri. Os depoimentos das testemunhas de acusação ratificaram tudo o que já foi dito à polícia”, disse o criminalista Elias Mattar Assad. Ele se refere às acusações de que Carli Filho dirigia embriagado (7,8 decigramas de álcool por litro de sangue, segundo laudo pericial) e em alta velocidade (167 km/hora).

Para o advogado de defesa, Roberto Brzezinski, que se pronunciou sobre o caso pela primeira vez, o Ministério Público mostrou que não entende de leis (Código Nacional de Trânsito e Constituição Federal) ao constituir o que chamou de “prova ilícita”, já que o juiz indeferiu o laudo de dosagem alcoólica como prova porque o material colhido não teve a autorização do ex-deputado.

A desconsideração do resultado do exame de sangue, porém, não significa dizer que o réu não se encontrava embriagado, conforme afirmou o juiz no despacho.
Elias Mattar Assad, que atua no processo como Assistente do Ministério Público em nome da família Yared, observou que o fato de o exame de dosagem alcoólica ter sido desconsiderado pela Justiça, em nada altera o cenário processual.

“Várias testemunhas confirmaram que o ex-deputado tinha hálito etílico; que bebeu quatro garrafas de vinho no restaurante pouco antes do acidente”, afirmou.
Outro fato que chamou a atenção foi a ausência de Carli Filho na audiência.

A defesa pediu a dispensa do réu sob o deferimento do juiz Daniel Ribeiro Surdi de Avelar, que entendeu não ser necessária a presença do réu. Ele pode ser intimado a depor numa outra data, mas o juiz tem a prerrogativa de determinar se Carli Filho vai a júri popular ou não, mesmo sem ouvir o réu.

Daniel Ribeiro Surdi de Avelar, deverá decidir se a embriaguez e a excessiva velocidade configuram ou não a intenção de matar (dolo), fator determinante para que Carli Filho enfrente o júri popular. Outra possibilidade é que a sentença seja dada apenas pelo juiz. Por lei, a instrução de um processo tem um prazo de até 90 dias para ser encerrada. Se Carli Filho não conversar com o juiz, a decisão será dada do mesmo jeito, apenas sem a defesa feita pelo próprio réu.

A audiência de instrução e julgamento na quinta-feira (4) foi marcada pelo depoimento das testemunhas arroladas pelo Ministério Público (acusação). Das 19 pessoas intimadas a depor 17 compareceram. Duas delas justificaram o motivo da ausência. A audiência acabou às 16h30min.

As testemunhas de defesa prestaram depoimento na sexta-feira, mas oito delas serão ouvidas por precatória já que residem em outras cidades brasileiras: Florianópolis (SC), Joinvile SC), Cuiabá (MT) e São Paulo. Uma delas encontra-se nos Estados Unidos.

Quatro depoimentos, dois de defesa e dois de acusação, aconteceram na sexta-feira (5). Os deputados estaduais Durval Amaral (DEM) e Valdir Rossoni (PSDB) estavam na listagem de testemunhas de defesa de Carli Filho. Os parlamentares, no entanto, encaminharam ofícios solicitando a dispensa do processo e foram liberados pelo juiz.

“Não quero ver o algoz do meu filho”

A dor da perda trágica dos filhos, mais uma vez, ganhou visibilidade na audiência de instrução e julgamento que teve como réu (ausente) o ex-deputado Fernando Ribas Carli.

“Estão utilizando dois pesos e duas medidas. Para uma mãe a vida, para outras duas mães a morte. Eu tinha certeza de que ele (Carli Filho) não viria e se viesse eu não teria forças para ver o algoz do meu filho”, disse Christiane Yared à TRIBUNA.
Ela permaneceu o dia todo da audiência na quinta-feira sentada na ante-sala do Tribunal do Júri. Seu esposo, Gilmar Yared, preferiu acompanhar todos os depoimentos, fato que se repetiu na sexta-feira durante a oitiva das testemunhas de defesa do réu.

A mãe de Carlos Murilo de Almeida, o jovem que também morreu no acidente, Vera acompanhou alguns depoimentos, mas depois ficou sentada, cabisbaixa e muito emocionada num banco do corredor.

No lado de fora da 2ª Vara do Tribunal do Júri, no Centro Cívico em Curitiba, desde as primeiras horas da manhã já era grande a movimentação de amigos e de parentes das famílias das vítimas e, principalmente, da imprensa. Pessoas vestindo camisetas com o slogan “190 km/h é crime” ou com fotos das duas vítimas fatais do acidente marcaram um manifesto silencioso, mas faixas pedindo justiça davam o recado de cada um.

A Rede Sul de Notícias/Tribuna cobriu o evento em tempo real até o final das audiências de quinta-feira, dia de fechamento desta edição. A oitiva das testemunhas, por determinação do juiz Daniel Ribeiro S. de Avelar continuou na sexta-feira.

Foto: Nagel Coelho/Rede Sul de Notícias

Cristina Esteche

Jornalista

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