22/08/2023




Guarapuava

Comer tomate cru

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Em algumas ocasiões, devido as minhas malfadadas escrevinhações, uma e outra pessoa gentilmente me pergunta por que vivo tão indignado com isso e aquilo, ou me parabenizam por essa ou aquela manifestação indignada. Porém, todavia e, entretanto, quem disse que sou um caipora indignado? Não sou e nem estou indignado com nada não. De jeito maneira.

Na verdade, pra ser bem sincero, fico fulo da vida com café frio e por causa de cerveja quente. Fora isso, sou um caboclo bem sossegado.

Então como explicar o tom pra lá de amargo de minhas linhas mal escritas? Bem, meu azedume é apenas uma questão de estilo, digo, de falta de estilo. Coisa de bicho do mato, de um caipira provocador que acha bonito ser feio. Só isso.

Mandando a real, rio muito quando escrevo sobre as desventuras humanas e, obviamente, sobre minha flagrante impotência diante dela. Isso sem falar que não espero que meus ditos mal ditos sejam prontamente acatados por fulano ou sicrano. Reconheço e aceito estoicamente minha insignificância.

Dou-me por satisfeito se, modestamente, e se possível for, poder dividir, com aqueles que gentilmente me leem aquilo que me inquieta e, desse modo, aliviar minha alma.

De mais a mais, meu caro Watson, esse papo de indignação é coisa de cidatonto crítico pra lá de fingido que, aliás, faz-me rir pacas.

Não existe na face da terra – ao menos nas terras brazucas – sentimento mais artificial e artificioso do que essa tal de indignação que, literalmente, é apenas um beicinho feito por quem espera que os outros façam algo que nem ele mesmo tem coragem e capacidade de fazer e, por isso mesmo, bate o pezinho, e dá seu gritinho de "cidadão de passeata" pra tentar disfarçar o seu fiasco existencial.

No fundo, bem no fundo, toda e qualquer manifestação de indignação pública de apelação publicitária, politicamente correta, não passa duma forma de covardia nada original e pouquíssimo convincente.

Enfim, sem mais delongas, quero apenas dizer de modo pouco adocicado que não sou um cidadão indignado não e que, diga-se de passagem, tenho pavor de gente que faz da dita da indignação o mastro de suas furibundas bandeiras éticas, políticas e ideológicas.

No final das contas, como havia dito no princípio, sou apenas um palhaço sem graça que nas horas vadias se ocupa, entre outras coisas, de brincar de juntar uma palavra aqui com outra acolá pra ver se elas ecoam de alguma forma no deserto da realidade.

Cristina Esteche

Jornalista

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