Desde que o VAR (Árbitro Assistente de Vídeo) chegou ao futebol brasileiro, a promessa era de que ele traria mais justiça ao jogo. A ideia de ter uma ferramenta que corrigisse os erros humanos das arbitragens parecia ideal para um campeonato tão disputado quanto o Brasileirão.
No entanto, o uso do VAR trouxe um novo tipo de emoção – e, com ele, uma série de polêmicas. Afinal, será que o VAR trouxe mesmo mais justiça ao futebol brasileiro? Ou só transferiu as controvérsias para outro campo?
A introdução do VAR no futebol brasileiro
Implementado em 2019 no Campeonato Brasileiro, o VAR prometia ser o “grande salvador” das decisões errôneas em futebol ao vivo. Uma ferramenta tecnológica que permitiria, finalmente, corrigir o que os olhos humanos não podiam ver com precisão em tempo real.
Desde então, ele tem sido utilizado em lances de gols, impedimentos, cartões vermelhos e pênaltis – sempre com o objetivo de dar ao árbitro a chance de rever e, se necessário, corrigir sua decisão.
Mas logo na estreia, as controvérsias começaram a surgir. O VAR mudou a dinâmica do jogo, com pausas longas que interrompem o ritmo e a emoção do futebol ao vivo. E, mais do que isso, trouxe consigo um novo tipo de dúvida: até onde vai o critério do árbitro de vídeo e do árbitro de campo?
A divergência entre as decisões da cabine e do gramado tornou-se tão comum quanto as decisões questionáveis antes do VAR.
Mais justiça e menos erros graves
Apesar das polêmicas, é inegável que o VAR trouxe alguns benefícios claros. Em lances de impedimento, por exemplo, ele eliminou quase por completo os erros graves. O mesmo pode ser dito sobre pênaltis duvidosos e lances de cartão vermelho direto, onde a câmera ajuda a captar o que o árbitro não viu.
Há casos em que o VAR foi decisivo para corrigir erros e definir resultados. Nas quartas de final da Copa do Brasil, por exemplo, um toque de mão em um jogo entre Flamengo e Grêmio resultou em um pênalti para o Flamengo, que Arrascaeta converteu.
Foi um daqueles lances nos quais o VAR fez valer a sua função de “justiça” em campo. A vantagem conquistada pelo Flamengo serviu para confirmar a classificação do clube carioca, e os torcedores viram no VAR uma ferramenta importante para validar o que parecia claro nas câmeras.
Polêmicas e controvérsias
No entanto, os casos em que o VAR trouxe à tona novas discussões e polêmicas são abundantes. Em um duelo entre Vasco e Grêmio, por exemplo, o VAR chamou o árbitro de campo para revisar um pênalti em cima de Rossi, atacante do Vasco.
O árbitro acabou anulando o pênalti e, ainda por cima, deu um cartão amarelo por simulação ao jogador. A decisão enfureceu os vascaínos, que passaram a questionar a falta de consistência dos critérios.
E o que dizer do gol de Lucas pelo São Paulo contra o Corinthians na semifinal da Copa do Brasil? O gol, que garantiu a classificação do Tricolor, gerou indignação entre os corintianos, que alegaram que a bola teria tocado no braço de Lucas antes de balançar as redes. A revisão do VAR não identificou a infração, mas para a torcida adversária, o sentimento de injustiça perdurou.
No clássico entre Flamengo e Fluminense, mais polêmicas: gols anulados dos dois lados e uma reclamação geral sobre pênaltis não revisados. A cada chamada do VAR, o público parece esperar tanto a revisão quanto a explicação de uma decisão que, muitas vezes, só aumenta a tensão.
Reações e opiniões
As reações ao VAR são um capítulo à parte. Torcedores e jogadores de todos os times já expressaram seu descontentamento com o uso do árbitro de vídeo. A principal reclamação? Falta de consistência nas decisões. Em um jogo, o árbitro é chamado para revisar um lance, enquanto em outra situação semelhante, ele nem sequer se aproxima do monitor.
Especialistas em arbitragem também têm questionado o VAR. Muitos defendem que a tecnologia deveria ter um uso mais limitado e que as decisões finais deveriam ser mais bem explicadas ao público.
Afinal, as transmissões ao vivo deixam claro que o torcedor muitas vezes é deixado no escuro. E, em um país onde o futebol é praticamente uma religião, deixar o torcedor sem entender o que acontece em campo é um erro imperdoável.
O futuro do VAR no Campeonato Brasileiro
Diante de tantas polêmicas, o que esperar do futuro do VAR no Brasil? É evidente que o VAR veio para ficar, mas ajustes são necessários. Uma das sugestões é reduzir o tempo de revisão, para que o ritmo de jogo não seja tão prejudicado.
Outra mudança fundamental seria a maior transparência, com a transmissão das conversas entre o árbitro de campo e o árbitro de vídeo, prática adotada em algumas competições internacionais. Treinamento e padronização são palavras-chave.
Enquanto o VAR não for utilizado de forma consistente e sem variações drásticas de um jogo para outro, continuará sendo uma fonte de controvérsias. E talvez a CBF tenha que considerar como ajustar o uso da tecnologia de modo que sirva ao futebol sem destruir sua espontaneidade.
VAR: justiça em jogo ou novo problema no futebol
No final das contas, o VAR trouxe um paradoxo ao futebol brasileiro. Por um lado, trouxe mais justiça ao eliminar erros grosseiros; por outro, adicionou uma camada de incerteza e ansiedade a cada decisão. E, para um país que vive o futebol ao vivo, em cada lance, em cada drible e em cada falta marcada, o VAR ainda parece estar em julgamento.
Será que estamos prontos para aceitar que o futebol – esse esporte que tanto amamos – nunca será um jogo de certezas? Para muitos torcedores, o VAR ainda é um teste que, a cada rodada, gera mais perguntas do que respostas.
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