22/08/2023


Em Alta Guarapuava Segurança

Condenado por latrocínio diz que é inocente e clama por justiça

Condenado a 24 anos de prisão, Cristian Walter pede socorro nas redes sociais. Advogado acredita na inocência e assume o caso

Cristian Walter pede ajuda nas redes sociais (Foto: Reprodução/vídeo)

Um pedido de socorro gravado em vídeo por um homem condenado traz à tona um drama. Três das quatro pessoas condenadas por um latrocínio, ocorrido em 2017 em Guarapuava, alegam que são inocentes. Como o caso já transitou em julgado no dia 26 de novembro deste ano, Cristian Walter, desesperado pela pena de 24 anos de prisão em regime fechado, utilizou as redes sociais para chamar a atenção sobre o caso. O latrocínio [roubo seguido de morte], ocorreu na madrugada de 23 de março de 2017.

Quatro homens chamaram o taxista Jerson Meira, então com 39 anos, para uma corrida. Ele trabalhava no ponto da Rodoviária de Guarapuava. O que seria uma simples viagem se transformou em uma tragédia. Após o roubo do GM Corsa Prata, o carro acabou abandonado em Imbituva. Já o corpo de Jerson estava em uma vala na estrada rural que dá acesso à Localidade de Covó, interior de Guarapuava. Ele morreu com um tiro na cabeça.

Cerca de quatro meses após o crime, a polícia surpreendeu Cristian Walter enquanto ele retornava para casa. “Eu trabalhava durante o dia e estudava à noite. Era casado e pai de um filho.” Abordado na rua, antes de ser condenado, Cristian ficou preso durante três meses. Entretanto, ele só ficou sabendo das acusações dentro da cadeia. Começava, então, uma trajetória marcada por fragilidades judiciais, conforme o processo. Surgiu aí o envolvimento de Cristian, mas o que chama a atenção é que não há provas consistentes.

RECONHECIMENTO APENAS POR FOTOS

Marinaldo Rattes e Cristian Walter (Foto: Divulgação)

O depoimento de uma testemunha sigilosa se baseou em uma foto do Facebook para o reconhecimento dos suspeitos. De acordo com o criminalista Marinaldo Rattes, que assumiu o caso nessa terça (10) para postular a revisão criminal perante ao TJPR, entende o criminalista que uma ‘Habeas Corpus’ substitutivo do recurso ao Superior Tribunal de Justiça é a medida adequada, pois a Corte Cidadã se posiciona contra reconhecimentos fotográficos mal conduzidos, que podem levar à condenação de pessoas inocentes. “Já estou analisando o Habeas Corpus que será o primeiro recurso”.

Ao meu ver, este é o caso de Cristian, que sofre a carga de uma condenação injusta.

Ele também destacou que, neste caso, “é importante frisar que o Ministério Público de segundo grau reconheceu que as provas colhidas de reconhecimentos fotográficos não atenderam à formalidade prevista em lei, sendo, portanto, nulas de pleno direito.” Além disso, mais informações desencontradas marcam o processo. Uma delas é a alegação de que o carro de Cristian estava estacionado em frente à casa da mãe dos outros dois suspeitos.

Eu nunca estive nesse local e não conhecia os outros envolvidos. Além disso, o número da placa do carro e a cor não eram os mesmos do meu. Apenas as letras eram iguais.

Durante o reconhecimento, a testemunha afirmou que Cristian possuía uma tatuagem no pescoço, o que também não é verdade. De acordo com Cristian, um outro homem que tem a tatuagem no pescoço, conforme descrito pela testemunha, não foi indiciado. Outro ponto observado pelo criminalista é que um dos quatro acusados, reconhecido pela testemunha também por meio de fotografias, usava tornozeleira eletrônica.

Mas esse homem não foi condenado. O monitoramento confirmou que ele estava em casa no momento em que o crime ocorreu. Por esse motivo foi absolvido pela juíza, o que, no entanto, não ajudou os outros acusados. Outro condenado estava inaugurando uma lanchonete e trabalhava na noite dos fatos.

PROVAS EXTRAJUDICIAIS

Para o criminalista, é evidente que Cristian esteve na escola das 18h40 até as 23h10. De lá, foi direto para casa dormir, saindo para trabalhar no dia seguinte às 7h45, logo, não teria como estar com as pessoas vistas em Imbituva, local onde deixaram o carro.

As investigações policiais deixaram de apurar importantes elementos trazidos ao inquérito.

De acordo com Rattes, a condenação se baseou unicamente nas provas extrajudiciais, visto que a testemunha sigilosa foi contraditória quanto às características dos autores do crime.

Neste cenário, é plenamente possível solicitar às Cortes Superiores a revisão criminal, podendo ainda ser impetrado Habeas Corpus para suspender o mandado de prisão. Isto porque é inequívoca a inocência do cliente. E será este o caminho a ser percorrido pela defesa.

Em um desabafo feito ao Portal RSN, Cristian disse: “Estou desesperado. Sou inocente e vivo com esse drama há anos”. Caso seja preso, a preocupação dele é com a sobrevivência da família. Entre lágrimas, ele expressou o desespero.

Tenho dois filhos e uma enteada. Minha esposa trabalha, mas ganha pouco. Como vou ficar nove anos preso (um quinto da pena) por um crime que não cometi? Por favor, me ajudem.

Leia outras notícias no Portal RSN.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

Pular para o conteúdo