22/08/2023

Do Mercadão Popular ao Salário de Fome

Recebi do jornalista Carlos Fernando Huf e compartilho:

Do Mercadão Popular ao Salário de Fome

Carlos Fernando Huf
Há cerca de um quarto de século, um certo prefeito de Guarapuava criou um certo Mercadão Popular, destinado a vender mercadorias de consumo básico, a tal cesta básica de hoje, a preço de custo aos pobres. Uma espécie de “bolsa família” em tempos em que o PT ainda engatinhava no ABC paulista. Ao final da gestão haviam quase 700 famílias cadastradas, e recebendo o benefício regularmente.
O Mercadão incomodou certos personagens (na verdade, poucos), detentores de certos monopólios do ramo na cidade, que passaram a investir pesadamente na política, com vistas a substituir o criador do incômodo concorrente.

Substituído o mentor da original “bolsa família”, todos os programas que estavam em pleno andamento, tendentes a redistribuir com mais justiça o PIB, a renda per capita, ou seja lá o nome que dêem à riqueza produzida pelo trabalho do povo, foram imediata e sumariamente fechados. Uma das primeiras vítimas da revolucionária “renovação” foi o Mercadão Popular. E com as demais se completou a interrupção do processo que sinalizava para a melhoria do IDH regional.

Não satisfeitos, iniciaram vários processos judiciais contra o ex, certos de que encontrariam motivos para alijá-lo definitivamente do cenário político local. Um deles com acusações de supostas irregularidades no Mercadão. Em todos, além do arquivamento sumário por falta de provas, os acusadores foram condenados nas custas e honorários advocatícios.

Dentre as decisões judiciais, chamou a atenção a sentença no processo do Mercadão, em que o magistrado fez questão de registrar que “quem deveria ser processado é o responsável pelo fechamento do Mercadão”.

PANO RÁPIDO.
Há alguns dias me encontrava ao balcão de uma loja no centro da cidade, e a balconista que costuma me atender estava indignada. Uma grande loja vinda de fora estava se instalando em Guarapuava e ela, atraída pelo salário, muito acima da média de Guarapuava, se inscrevera na lista de candidatos. Ao ser chamada para a entrevista e os testes de praxe, foi informada que estava tudo bem. Só havia um problema: o salário não seria o anunciado, mas tinha sido drasticamente diminuído, descendo ao patamar vigente na cidade. Ela preferiu permanecer onde está.

Como no mundo de hoje não há lugar para segredos eternos, a balconista tinha acabado de saber o motivo da mudança. Uns certos personagens haviam pressionado e convencido o incauto empresário alienígena a baixar a sua oferta de salário ao nível local. Porque se ele pagasse o que estava oferecendo, iria “inflacionar” os salários em Guarapuava. Docemente constrangido, naturalmente, o colega anuiu.
Os personagens? Exatamente os mesmos de um quarto de século atrás.
Triste conclusão: até agora, tudo como dantes no quartel de Abrantes das oligarquias político/administrativas e econômicas, que desde então se revezam no comando do município pólo da região de mais baixo IDH do Paraná.

Sugestão aos novos ocupantes do Paço Municipal: não deixem esses personagens chegar perto dos novos empresários – de fora – cujo interesse em Guarapuava está sendo anunciado. O povo de Guarapuava não merece isso.
o-o-o-o-o

Bem Brasil – Inaugurada no apagar das luzes de 2012, a Lagoa Dourada, no Boqueirão, está uma beleza, com as ruas em volta de asfalto novo em folha, e a pista ao seu redor já descoberta pelos caminhantes. Curiosidade: quem seriam os felizes proprietários de vários terrenos baldios no entorno, um deles de quarteirão inteiro – cujas ruas, sem nenhum morador, também ganharam asfalto novo?

Cristina Esteche

Jornalista

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