22/08/2023


DOMINGO. DOC

Rememorar a imigração polonesa no Paraná, principalmente em Prudentópolis, no ano em que é comemorado o 150º aniversário da vinda das primeiras famílias polacas para o Brasil. Essa foi a motivação de Fábio Preisner Saraiva, acadêmico do segundo ano do Bacharelado em Geografia da Unicentro, ao se inscrever em concurso de documentários, que acabara de descobrir. “Logo que eu fiquei sabendo deste concurso, marquei os meus colegas do nosso grupo de estudos e, logo de cara, eles ficaram muito alegres com a ideia e toparam participar. Depois disso, a gente já foi a campo e fomos tentando encontrar as pessoas que eram descendentes de poloneses – o que não foi tão fácil assim de encontrar. Em Prudentópolis, a gente sabe que a maioria das pessoas são descendentes de ucranianos. Então, é muito difícil a gente encontrar poloneses ainda, mas a gente conseguiu e, graças a Deus, a gente conseguiu participar deste concurso e ficar em terceiro lugar”, narra Fábio.

O concurso de cinema foi organizado pelas províncias da Sociedade de Cristo no Brasil. Uma comissão avaliou os filmes enviados. Na análise, foram considerados os seguintes critérios: conteúdo, criatividade, roteiro, qualidade de imagem e som, edição, comunicabilidade e distribuição de tempo.

Com a terceira colocação, Fábio e seus amigos receberam a premiação de R$ 500 e um livro intitulado “O Caminho dos Peregrinos”, escrito por Ignacy Posadzego, publicado pela província organizadora do concurso. “A gente ficou muito feliz com a premiação. Esse foi o primeiro documentário que a gente fez e isso só motiva a gente a continuar fazendo trabalhos como este, seja relacionado a migração ou qualquer outro trabalho que gere algum valor a sociedade”.

Descendente de poloneses, morador de Prudentópolis e funcionário do centro de informações turísticas da cidade, local onde descobriu o folder que divulgava o concurso, Fábio, até então, nunca tinha trabalhado com produção audiovisual, mas a ideia de eternizar a história da região falou mais alto. “Eu acredito que nós, enquanto estudantes ou descendentes de uma determinada etnia, é nosso dever preservar ou tentar resgatar de alguma maneira um pouco das culturas dos nossos antepassados, porque foram eles que sofreram, passaram por diversas dificuldades para a gente ter as condições que a gente tem hoje para a gente ter uma vida melhor. Hoje, a gente está colhendo o que eles plantaram lá atrás. Nada mais justo, a gente tentar preservar um pouco da cultura, dos hábitos, das tradições ou das histórias que eles trouxeram para a gente”, declara.

Na imagem, uma das personagens do documentário

Washington Ramos dos Santos Junior foi professor de Fábio no primeiro ano da graduação e se descobriram grandes amigos, firmando parcerias em diversos projetos de extensão e pesquisa. Responsável pelo roteiro, Washington destaca a importância desse registro para a formação pessoal e da comunidade. “Esse resgate é importante porque, para o Fábio, é um pouco da história da família materna – essa questão da identidade, da ancestralidade. Isso é muito importante para a formação de qualquer pessoa individualmente. Para a comunidade, é importante porque fica um registro da sua origem, da sua formação. Tem também a importância relativa a esse processo de auscutamento dos mais velhos, dos valores que eles trazem, da perspectiva de vida que eles têm e isso ficou muito claro no documentário”, afirma.

Vindo do Rio de Janeiro, outro ponto salientado por Washington foi a sua inserção, como professor, no contexto da da história e geografia da região, que refletem na relação com os alunos e a comunidade. “Para mim, especificamente, é muito importante, porque é uma forma de eu aprender e conhecer a região. Porque, ao final de contas, eu sou professor. Então, como eu vim morar aqui, eu tenho de fazer parte da produção do conhecimento desse lugar, eu não posso entrar na sala de aula de um lugar que eu não conheço sem me inteirar da realidade deste município, de Guarapuava, da região. O ensino e a aprendizagem são dois lados da mesma moeda, digamos assim. Então, à medida que eu ensino o meu aluno a fazer determinadas coisas, eu também estou aprendendo sobre a realidade dele, sobre a geografia desse local. Para mim, é uma forma maravilhosa de aprender sobre a região”.

Foram dois meses de produção, entre roteirização, filmagem, edição e narração, organizados por Fábio e seus amigos Washington dos Santos, Cristiano Swarecz, Cleberson Preisner, Oérique Ivan Batista Mendes. “No documentário, a gente tenta, de alguma forma, mostrar como é o dia a dia destas pessoas que são descendentes de poloneses. Ouvir as histórias que os antepassados delas contavam sobre a vida na Polônia ou mesmo, simplesmente, ouvir algumas palavras na língua polaca e se admirar e saber que, mesmo tantos anos após a saída dos imigrantes lá da Polônia, a língua ainda é falada aqui no nosso município. Então, foi muito gratificante a gente fazer esse documentário, porque conseguimos aprender, mais do que um registro, a gente conseguiu aprender com as histórias que essas pessoas contaram”.

O documentário está disponível no Youtube.

Cristina Esteche

Jornalista

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